E no vai e vem do ioiô das tendências, repentinamente, estilos opostos dividem palco e performam juntos para ditar o que está em alta no momento. Em paralelo ao minimalismo do quiet luxury, o kitsch, estilo sentimentalista, artístico e exagerado, totalmente oposto ao discreto, brilha, literalmente, em 2023 e, para além dos quadros de decoração, revela-se nas roupas e nos acessórios.
O termo kitsch tem origem alemã e nomeia a estética multicolorida, superestampada e completamente maximalista. A trend foi vista por muito tempo na moda e na decoração, como uma forma brega de expressão, mas, atualmente, tem sido utilizada para ilustrar os diferentes gostos e formas de se vestir — nem tudo precisa ser padronizado.
A fashion designer Maria Letícia Amorim esclarece que o estilo é uma grande mescla carregada de elementos. "É uma estética inicialmente de caráter pejorativo na sociedade, mas, hoje, ressignificado, que mixa várias fontes estéticas, cores, formas e em um contexto atual, com mais força, fura a bolha de estar inserido unicamente em fontes visuais, como ambiente e obras artísticas, e pode ser elementar também na vestimenta."
Uma forma de expressão
Cada indivíduo carrega em si a particularidade de ser o que se é. Entre as diversas formas de manifestar a própria personalidade, as roupas podem ser uma poderosa ferramenta. Como o vestido vermelho da Mônica, personagem criado por Maurício de Sousa, a representaria se todos os personagens se vestissem da mesma maneira? O kitsch é exatamente isso, uma forma de fugir do padrão e, abusando das estampas e das cores vibrantes, escolher as peças de acordo com o gosto pessoal, sem se preocupar com combinações.
O modelo Gustavo Fellipe enxerga beleza na estética e defende a hipérbole do estilo. "Vejo o kitsch como uma forma de se expressar, sim, porque, às vezes, usamos nossas roupas para mostrar um pouco do nosso estado em determinado momento, mas entendo quem não goste tanto porque, de fato, pode parecer muita informação. Mas não é assim que nos sentimos às vezes? O kitsch está muito ligado ao sentimentalismo, e eu acredito que o exagero também tem sua beleza", reflete.
A estilista Lara Fernandes esclarece que a razão para duas tendências tão contrárias estarem em alta ao mesmo tempo tem a ver com os gostos pessoais de cada um — a escolha por aderir a cada tendência é extremamente pessoal.
"O mundo sempre teve muitas nuances no que tange aos estilos e às tendências que vigoram de tempos em tempos, mas entendo que hoje existe uma liberdade muito maior relacionada à identificação pessoal, e isso já é suficiente para possibilitar não uma ou duas, mas várias fontes estéticas ou tendências ao mesmo tempo", comenta Maria Letícia sobre o quiet luxury e o kitsch como trends simultâneas.
Para a especialista, a sociedade se inclina mais ao fator minimalista e, por isso, adere mais facilmente ao jeito discreto de se vestir, porém entende que existe uma emancipação, principalmente relacionada aos jovens, quando se fala em elementos estéticos.
Saiba Mais
Fotos: Reprodução Instagram/@maluborgesm - Malu Borges, influenciadora do ramo da moda, acumula, no feed do Instagram, diversos registros de composições kitsch
A composição
Para quem quer surfar na onda do exagero, as especialistas recomendam peças brilhantes e coloridas. A identidade Kitsch traz tons vivos e vibrantes, diversificados tipos de tecidos, texturas, estampas e padronagens.
Não há como passar uma fórmula exata de como aderir à estética, afinal, o kitsch aborda exatamente o sentimentalismo e o melodrama individual, jogar-se sem dar atenção às opiniões alheias é o segredo. A estilista Lara Fernandes relembra que a tendência é, antes de tudo, uma forma de se expressar, através dos elementos exagerados, focada no sentimental.
"Acredito que o primeiro passo é não ter medo de unir elementos, e entender que adições sempre são bem-vindas por representarem boas possibilidades. Vejo o aspecto das cores e das formas como uma das grandes portas de iniciação ao estilo kitsch, e, por fim, uma fonte estética riquíssima, que pode ser a musa inspiradora ao meu ver, é um grande recorte dos anos 1970 unido a tudo o que se tem direito no pré e no pós, tudo sem medo de compor", reafirma Maria Letícia.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte