Quem nunca se deparou com os famosos tufos de cabelos nos pentes e escovas, daqueles que, em vista da quantidade, até assustam? “Um dia vou ficar careca”, pensamos, apesar de não nos aprofundarmos na causa do incômodo. Pior ainda é quando os fios caem — apenas vão embora, sem reposição alguma no couro cabeludo — e é preciso lidar com a temida calvície.
Não faltam contextos em que as madeixas cumprem funções relevantes, como proteger a pele e levantar a autoestima. Igualmente, são muitas as enfermidades que podem acometê-las, daí a importância de manter-se atento aos sinais que indiquem qualquer alteração em sua raiz.
Coceira, descamação, vermelhidão, foliculites, aumento de sensibilidade e perda de cabelo em áreas arredondadas ou ovais podem ser sintomas de que o couro cabeludo não está saudável, segundo Keila Pati, médica dermatologista tricologista da Clínica Armond. Vale lembrar que é normal cair até 100 fios por dia de maneira fisiológica, mesmo em casos de cirurgias, anestesia e infecções. Se houver uma perda superior, é preciso investigar.
Fazer a correta higienização da região, não usar condicionadores e cremes no local, não lavar o cabelo com água quente e não dormir com os fios molhados são medidas que podem ajudar a prevenir alguns problemas do couro cabeludo. Para a maioria das doenças, porém, não há uma prevenção, visto que decorrem devido à herança genética ou à predisposição pessoal.
Mesmo se não forem tratadas, a maioria dessas enfermidades é limitada à área e não causa demais problemas, em outras partes do corpo, no indivíduo. No entanto, Pati lembra que existem doenças sistêmicas, como o lúpus e a sífilis, responsáveis por causarem sintomas no couro cabeludo.
“Ademais, existe a associação de doenças autoimunes no couro cabeludo com disfunções autoimunes em outros locais, como a união da alopecia areata com o hipotireoidismo. Portanto, sempre procure o dermatologista tricologista caso apresente qualquer sinal no couro cabeludo, pois, às vezes, é preciso fazer uma investigação em outras áreas também”, alerta a especialista.
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As principais doenças
Conforme explica Keila Pati, médica dermatologista tricologista da Clínica Armond, e Carla Oliveira, médica dermatologista com especialização em tricologia e onicoses, estas são algumas das enfermidades mais comuns do couro cabeludo:
- Foliculite: pode ser inflamatória ou infecciosa. Há pequenos caroços dolorosos, como espinhas, que podem evoluir com coceira, feridas, pus ou sangramento. Alguns tipos de foliculite podem levar à alopecia. Geralmente usa-se corticoide tópico associado com antibiótico oral ou tópico para tratamento.
- Dermatite seborreica: não existe uma causa muito bem definida, mas sabe-se que existe uma associação desta com o fungo Malassezia. Apresenta coceira, vermelhidão e descamação no couro cabeludo. Para tratamento, recomenda-se xampu anticaspa com algum antifúngico, além de loções com corticoide tópico. Não lavar o cabelo com água quente e não dormir com os fios molhados também ajuda no tratamento.
- Pitiríase: Há vários tipos. No couro cabeludo, o termo geralmente se refere à tinea capitis, infecção fúngica que causa vermelhidão, descamação, coceira e placas de alopecia. O tratamento é feito com antifúngico oral.
- Eflúvio telógeno: aumento da queda diária de cabelo, de 200 a 300 fios, resultante, geralmente, de uma evento estressante. A covid-19, por exemplo, pode ser um fator desencadeante. Na maior parte dos casos, tem duração de dois a quatro meses. Suplementação de nutrientes e medicações podem ser necessários para tratá-lo.
- Alopecia areata: doença autoimune que pode ter causa genética, por traumas físicos, por quadros infecciosos ou por condições emocionais. Tem como alvo os folículos, ocasionando a queda repentina dos fios, que surge como falhas circulares no couro cabeludo. Mesmo quando há perda total dos cabelos, os fios podem voltar a crescer, porque a doença não destrói os folículos pilosos. O tratamento é baseado no uso de corticoide, imunossupressores e imunobiológicos.
- Alopecia androgenética ou calvície: processo de afinamento dos fios por fatores genéticos e pela ação do hormônio androgênio. Não é uma condição exclusiva dos homens. Os tratamentos clássicos incluem medicamentos e terapias adicionais em consultório.
- Psoríase: pode estar associada ao sistema imunológico, à predisposição genética, a oscilações hormonais, a infecções e até ao estresse. Os sintomas incluem descamação, semelhante à caspa, até placas avermelhadas e descamativas com escamo-crostas branco-prateadas, que cobrem áreas como a linha de implantação capilar, a testa e a região atrás do pescoço. O impacto emocional é tamanho que é a primeira dermatose mais referendada aos psiquiatras. Ademais, não é recomendado fazer uso de tinturas, tonalizantes e alisamentos quando a doença está em atividade.
Palavra do especialista
O uso de loções, como o minoxidil, para deter a queda de cabelo ou estimular o crescimento dos fios tem se tornado bastante comum. É uma prática confiável? Quais preocupações tomar com essas substâncias?
O minoxidil tópico já é bastante conhecido e utilizado desde o fim da década de 1980 para o tratamento da alopecia androgenética. O produto mais conhecido é o americano Rogaine. No entanto, há alguns anos, o minoxidil oral, em baixas doses, começou a ser utilizado com resultados satisfatórios para calvície masculina e feminina e eflúvio telógeno crônico. O destaque da mídia quanto ao uso desse produto foi tão grande que a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) veio a público com uma nota para a população para esclarecer sobre a segurança e a eficácia do minoxidil oral no tratamento das alopecias. O medicamento age no ciclo capilar, prolongando a fase de crescimento, e antecipa a troca de fios que já iriam cair. Antes de iniciar o tratamento, recomenda-se a consulta com um médico especialista, pois, além de cada paciente ter uma dose específica, o remédio em uso sistêmico pode causar efeitos colaterais.
O que é preciso saber antes de realizar qualquer procedimento químico nos fios, como tinturas e alisamentos?
Na descoloração com “luzes” e “mechas”, remove-se parcial ou totalmente a melanina natural do cabelo, além de destruir algumas pontes dissulfeto da queratina, levando ao enfraquecimento do fio e da cutícula, tornando os cabelos porosos. As maiores queixas são pontas-duplas, fios difíceis de pentear, quebradiços e eriçados. Então, se o cabelo é muito escuro, deve haver um cuidado extra caso o objetivo seja atingir um tom muito claro, porque é necessária uma despigmentação prévia com persulfato de amônio e potássio e peroxido de hidrogênio. O ideal é realizar um teste de contato antes da utilização de certos produtos, principalmente aqueles à base de derivados de coaltar. Ademais, vale verificar se as substâncias são consideradas seguras para a saúde por órgãos como Food and Drug Administration (FDA) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por fim, recomenda-se que procedimentos de alisamento ou “permanente” sejam realizados pelo menos duas semanas antes da coloração.
Sabemos que o clima seco impacta a saúde da pele. No caso dos fios, em que medida esse fator potencializa as doenças no couro cabeludo?
Principalmente no inverno seco, a eletricidade estática afeta ainda mais os cabelos secos, cada haste se repele dando um aspecto “arrepiado” aos fios. Nas condições de baixa temperatura, recomenda-se realizar a finalização com o secador no ar “frio”, além de aumentar a umidade capilar com substâncias hidratantes.
Carla Oliveira é médica dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e possui especialização em tricologia e onicoses. Atua na clínica Carla Oliveira Dermatologia em Brasília
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*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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