Ulisses, um labrador retriever de 12 anos, tinha energia de sobra para correr e brincar. Com o tutor, Simão Stanislawski, 65 anos e produtor de eucalipto, caminhava longas distâncias para manter a saúde em dia. Há um ano, entretanto, o cão foi perdendo o vigor, já não gostava de passear e logo pedia para voltar para casa.
Simão estranhou. "Como pode um labrador, antes tão animado, não querer mais brincar?". Observou, então, que o pet começou a mancar na pata traseira. Com alguns exames, descobriu-se que estava com problemas na coluna e nas vértebras. Ulisses foi a consultas, tomou medicamentos e recebeu a indicação de fazer fisioterapia para reduzir as dores.
Na reabilitação, feita em domicílio e duas vezes por semana, mais uma descoberta: estava com artrose. A solução foi especificar as sessões de fisioterapia, com laserterapia, magnetoterapia e acupuntura com ondas elétricas.
No começo, o cão ficou um pouco arisco e medroso; depois, sentindo maior conforto, passou a colaborar. Como bom tutor, Simão acompanha todas as sessões e sempre tira dúvidas. Foi assim que recebeu a indicação de dar suplementos alimentares para o peludo, a fim de potencializar sua melhora.
“Noto que Ulisses colabora quando percebe que aquilo é útil para ele. A veterinária, sempre atenciosa, conversa com ele a todo momento”, relata. À medida que a reabilitação foi caminhando, o pet voltou a reagir bem e, nos passeios, retomou a energia do passado. Nada de caminhadas curtas.
Por dentro da reabilitação animal
Segundo Renata Bastos Galhas, pós-graduada em reabilitação veterinária, a fisioterapia é a especialidade responsável por tratar, assim como prevenir os distúrbios do movimento. É indicada para os pets que apresentam problemas ortopédicos, neurológicos e também como tratamento complementar para a obesidade.
A técnica restabelece a integridade física do animal para que ele volte a uma condição anterior à lesão. Além disso, reduz a administração de anti-inflamatórios e analgésicos, o tempo de recuperação de uma lesão e evita a progressão de doenças, como detalha a médica veterinária fisiatra Larissa Rodrigues.
Sua importância está na abordagem geral do paciente. Uma única lesão articular pode ter repercussão em todo o corpo do animal e ele deve ser avaliado e tratado por inteiro. Dessa forma, a fisioterapia busca, principalmente, dar qualidade de vida para o pet.
“A fisioterapia é indicada em casos de lesões neurológicas, ortopédicas, alterações endócrinas, cardíacas e também para o paciente idoso e melhora do condicionamento físico de animais atletas”, explica Larissa. Displasia coxofemoral, artrose, luxação de patela, hérnia de disco, tendinite, fratura e alterações congênitas são algumas das patologias que podem ser tratadas por meio da técnica.
Nesse contexto, o fisiatra veterinário é o profissional habilitado para avaliar e elaborar o plano de tratamento mais adequado para as necessidades do paciente. A quantidade de sessões vai depender de fatores como a idade do paciente, a patologia apresentada e, principalmente, a gravidade e a evolução dos sinais clínicos apresentados. “É importante que o tutor participe ativamente do processo de reabilitação do pet e, assim, consiga dar continuidade em casa com os exercícios e com as orientações explicadas durante as sessões”, reforça Renata.
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Tranquilidade na fisioterapia
No caso do chow chow Dylan, de 6 anos, os incômodos na locomoção começaram cedo, aos oito meses. A tutora Juliana Bomtempo, psicóloga, 31 anos, lembra de notar a pata do filhote claudicar, isto é, perder a firmeza.
Imediatamente, levou Dylam ao veterinário, que o diagnosticou com displasia coxofemoral bilateral e displasia de cotovelo, doenças de malformação genética, com degeneração das articulações. Por sentir muita dor, o peludo logo adoeceu — não queria mais levantar e parou de receber as visitas na porta. Isso tudo ocorreu em um intervalo de poucos dias.
Cerca de 15 dias após passar por uma cirurgia, Dylan iniciou a fisioterapia, como recomendado. "Eu não entendia nada de reabilitação animal, já que não tinha experiências anteriores", recorda. No início, eram duas sessões por semana, com cerca de duas horas cada. O método utilizado é a analgesia, na qual o cão faz exercícios físicos e alongamentos, enquanto é acompanhado por alguns aparelhos, pela veterinária.
Rapidamente, o peludo não precisou mais de remédios para dor. Juliana sempre o acompanhava durante as sessões e notou, de forma considerável, a melhora em seu pet. "Ele saía de lá novinho em folha", comemora. Hoje, o chow chow vai à reabilitação uma vez por mês, apenas para manutenção e supervisão. "Se eu pudesse, mantinha as sessões semanais, pois ele adora! Fica superfeliz quando chega ao consultório, dorme durante as analgesias e estabeleceu uma relação de confiança com a veterinária", conta a tutora.
Quando a psicóloga descobriu a doença do amigo de quatro patas, chegou a pensar que ele não teria mais qualidade de vida. Com ajuda e tratamento adequado, porém, ele vive superbem. Famoso, o chow chow conta com um perfil no Instagram (@dylan_cleoetheo), no qual os tutores relatam sua experiência na reabilitação.
Vários métodos, diferentes possibilidades
- Laserterapia: utiliza-se dos efeitos da luz para estimular o metabolismo celular e, assim, promover alívio da dor e da inflamação. É muito eficaz em casos de artrose.
- Cinesioterapia: consiste na utilização de exercícios direcionados, que podem ser realizados tanto de forma passiva quanto ativa, visando fortalecer um determinado grupo muscular e a melhora da coordenação motora e da amplitude articular.
- Eletroterapia: visa o alívio da dor, o relaxamento muscular e o fortalecimento. É muito eficaz em pós-operatório e lesões de animais atletas.
- Terapia manual: massagens e alongamentos que atuam aliviando a tensão muscular e as dores. É muito eficaz em lesões neurológicas e ortopédicas.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte