Ela tem crises de enxaqueca, como mesmo diz, desde que se entende por gente. As crises começaram aos 13 anos de idade, mais fortes no período próximo à menstruação, frequentemente acompanhada de náusea, intolerância à luz, aos cheiros e aos ruídos. A dor costuma ser forte, às vezes tão forte que as medicações que usa para abortar a crise não funcionam, e acaba procurando ajuda no hospital, onde lhe é prescrito um remédio na veia, que consegue aliviar o sofrimento. Isso interfere sobremaneira na sua qualidade de vida, mas não a deixava sem dormir pensando que pudesse ter outro diagnóstico diferente da enxaqueca.
Por vezes, apresentava crises de vertigem, como uma “labirintite”, que durava dois a três dias e que foram identificadas como migrânea vestibular, um transtorno do sistema do labirinto associado à enxaqueca. Isso também não lhe preocupava tanto. Uma vez, antes do fenômeno doloroso, passou a enxergar flashes de zigue zague no campo visual direito seguidos por dificuldade em se comunicar. Isso gerou muito mais preocupação, pois tinha sido inédito e pensava que poderia estar acontecendo um derrame cerebral. Ficou mais tranquila com a transitoriedade do fenômeno, 20 minutos, e após consultar seu médico, que lhe tranquilizou ao afirmar que os sintomas também podem acontecer em pessoas que sofrem de enxaqueca.
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Mais recentemente, ela teve mais uma crise forte, mas dessa vez acompanhada de grande inchaço ao redor de um dos olhos, com duração de poucos dias. O quadro a deixou muito angustiada e, novamente, interrogou se não poderia ter ocorrido um derrame cerebral. Seu médico a acalmou dizendo, mais uma vez, que o inchaço pode ser esperado em pacientes com enxaqueca.
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Esse tipo de inchaço é decorrente de uma maior ativação do sistema parassimpático e é mais comumente encontrado em outro grupo de dor de cabeça chamado de cefaleias trigeminovasculares, como é o caso da cefaleia em salvas. É uma expressão do desequilíbrio do sistema nervoso autônomo no momento da crise e não é incomum entre os pacientes com enxaqueca. Estudos mostram que até 75% dos que sofrem de enxaqueca podem apresentar, em algum momento, sintomas disautonômicos cranianos que, além do inchaço palpebral, podemos ter lacrimejamento, congestão/corrimento nasal, pressão no ouvido, vermelhidão ocular, queda palpebral e rubor/suor facial. Os sintomas podem ser uni ou bilaterais, e o inchaço palpebral pode ocorrer em um terço dos pacientes. E não tem nenhuma relação com derrame cerebral.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília
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