Literatura

A vez (e a voz) delas nos clubes de leitura e de assinatura de livros

Clubes de leitura e de assinatura de livros têm investido cada vez mais em literatura feita por mulheres. Cada um ao seu modo, há opções para todos os gostos

Letícia Mouhamad*
postado em 22/06/2023 12:23 / atualizado em 22/06/2023 12:28
 (crédito: Amora Livros/Divulgação)
(crédito: Amora Livros/Divulgação)

Observe qualquer estante de livros em bibliotecas públicas, relembre as leituras feitas na escola e veja a lista de escritores mais premiados. Como de praxe, os homens ainda são maioria quando o assunto é literatura — são os mais lidos e os mais apreciados. A concorrência é desleal. E (muito) enganam-se aqueles que acreditam que esse cenário está atrelado a questões como quantidade de produção ou qualidade das obras.

As mulheres sempre escreveram, seja por apreço às palavras, seja para garantirem um teto todo seu. Muitas, inclusive, chegaram a assinar textos com nomes masculinos para se certificarem que seus trabalhos fossem levados a sério. Apesar do orgulho e do preconceito da sociedade, as escritoras têm ganhado maior notoriedade nos últimos anos e, grande parte desse avanço, deve-se aos clubes de leitura que selecionam apenas obras escritas por elas para lerem em conjunto.

Um exemplo é o Clube de Leitura do Núcleo de Escritoras Pretas Maria Firmina dos Reis (NEPFIR), da Universidade de Brasília (UnB), coordenado pela escritora e doutoranda em literatura Adelaide de Paula Santos e por Norma Diana Hamilton, professora adjunta do Instituto de Letras da UnB, doutora em literatura e práticas sociais e autora do livro Feminismos e Literatura Contemporânea. A iniciativa contempla uma das ações do grupo de pesquisa, criado por Hamilton, e promove encontros do público leitor com a produção ficcional de escritoras negras.

O clube conta com 30 participantes fixas, mulheres pretas escritoras, e está aberto aos interessados em geral. As obras lidas são sugestões do próprio grupo, que alternam entre produções locais, nacionais e internacionais. Já os encontros são mensais e ocorrem via plataformas virtuais, posteriormente transmitidos pelo canal do Mayombe, no YouTube. O objetivo é dar protagonismo à literatura de mulheres pretas e proporcionar reflexões sobre os atravessamentos de raça, gênero e classe que compõem a nossa subjetividade.

O Clube de Leitura do Núcleo de Escritoras Pretas Maria Firmina dos Reis, da UnB, conta com 30 participantes fixas
O Clube de Leitura do Núcleo de Escritoras Pretas Maria Firmina dos Reis, da UnB, conta com 30 participantes fixas (foto: Arquivo pessoal)

"Assim, pelo olhar sensível de nossas escritoras, mediado pelos escritos de outras mulheres como Conceição Evaristo, Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento, por exemplo, podemos nos aquilombar e buscar nas nossas encruzilhadas a sabedoria ancestral para reexistir", explica Adelaide. O último texto lido no clube foi a crônica Sou babá da minha filha, da jornalista Waleska Barbosa, nepfirense e fundadora do Pretas que escrevem no DF, que explora o racismo estrutural presente no colorismo.

Entre as obras lidas em conjunto, as leitoras recomendam: Mãe: o silêncio atrás da porta, de Adelaide Paula; Não vou mais lavar os pratos, de Cristiane Sobral; Meu Reverso, de Elisa Mattos; e A construção da identidade da criança negra pela ludicidade do Jongo, de Margareth dos Anjos. "Por meio da literatura, as mulheres negras podem encontrar sororidade e compartilhar leituras da vida", finaliza a coordenadora do grupo. Quem desejar ingressar no Clube de Leitura do NEPFIR, pode entrar em contato pelo Instagram @nepfir_unb.

Boas histórias em suas mãos

Imagine você, que almeja maior espaço para narrativas diversas e inclusivas, tendo em mãos uma curadoria de literatura contemporânea produzida somente por mulheres? É quase um ato de resistência diante dos tantos anos de exclusão. E é, também, a missão da Amora Livros, um clube de assinatura que acaba de ser lançado pelos empreendedores Maria Ignacia Sturam, Fernanda Ávila, Patricia Papp e Vicente Frare.

Todos os meses, os assinantes recebem, em casa, uma caixinha com um livro surpresa escrito por uma autora contemporânea do Brasil ou do exterior, além de um minilivro com um conto inédito de uma autora estreante e algumas “amorices” — marca-páginas, adesivos, tag de porta e postal colecionável. Para escolher os livros que compõem a curadoria, a equipe lê centenas de obras, investiga prêmios e festivais, escuta autoras respeitadas e troca ideias com editoras, agentes literários e especialistas.

Todos os meses, os assinantes do Clube Amoera recebem, em casa, uma caixinha com um livro surpresa escrito por uma autora contemporânea do Brasil ou do exterior
Todos os meses, os assinantes do Clube Amoera recebem, em casa, uma caixinha com um livro surpresa escrito por uma autora contemporânea do Brasil ou do exterior (foto: Amora Livros/Divulgação)

"Queremos ser aquela livreira amiga, que te pega pela mão e indica obras que vão despertar ainda mais a sua paixão pelos livros”, pontua Fernanda Ávila. O clube conta com aproximadamente 400 assinantes e já selecionou trabalhos de nomes como Leila Slïmani, Milena Busquets, Carla Maliandi, Dulce Maria Cardoso, Paula Gicovate, Natalia Borges Polesso, Maria José Silveira, Elif Shafak, Djaili Amal, Tati Bernardi, Yasmina Reza e Mariana Salomão Carrara. Há opções de planos anual, semestral e mensal, com valores a partir de R$ 64,90.

Mais clubes de leituras para ingressar

- Leia Mulheres Brasília: encontros mensais e virtuais. Informações no Instagram (@leiamulheresbrasilia)

- Leituras Decoloniais: leituras coletivizadas, com cronogramas e encontros semanais, via apoio na plataforma Catarse. Informações no Instagram (@leiturasdecolonais)

- Clube de Leitura Distopia: encontros remotos e bimestrais de obras de ficção científica, terror e HQ escritos por mulheres. Informações no Instagram (@clubedeleituradistopia).

-Traça: espaço que combina literatura e feminismos. Encontros mensais on-line. Para mais informações, entre em contato: clarissagalvao.com.br.

Mais clubes de assinatura para conhecer

- Clube F: conduzido pela editora independente Bazar do Tempo, formada por mulheres, visa fortalecer a produção intelectual e o protagonismo feminino. Possui o plano anual, de R$ 58,00, e o semestral, de R$ 60.

- Minha pequena feminista: clube de leitura infantil com livros com protagonistas empoderadas e ensinamentos sobre igualdade de gênero. Há várias opções de planos, com valores a partir de R$ 36.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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