Jornal Correio Braziliense
Neurônios em dia

Pequenos atos de gentileza são frequentes e universais, diz estudo

Pesquisa feita com mais de 350 pessoas mostra pequenos gestos de cooperação acontecem a cada dois minutos e em diferentes culturas

A Universidade da Califórnia, em Los Angeles, liderou um estudo publicado recentemente na Scientific Reports que mostrou que os seres humanos cooperam entre si na maior parte das vezes que são requisitados. Mais de 40 horas de análise de vídeos da rotina de mais de 350 pessoas espalhadas em cidades de diferentes países da Europa e vilas rurais, em quatro continentes, demonstraram que o apoio em tarefas do cotidiano acontece em 80% das vezes em que há simples solicitação de ajuda, mesmo não verbal. Um exemplo é o de passar um talher para o outro durante uma refeição quando alguém lhe aponta o objeto.

Foram mais de mil oportunidades de colaboração nessas 40 horas de vídeo. Dez por cento ignoram o pedido de ajuda e outros 10% negam, mas justificam a razão de não poderem colaborar naquele momento. Não houve diferenças significativas entre as diferentes culturas estudadas. E mais: a cooperação foi semelhante entre parentes e não parentes. O método utilizado para analisar o nível de cooperação através de atitudes pequenas do dia a dia traz um resultado diferente de outros estudos com tarefas de maior custo para o indivíduo. Nessas situações de maior demanda, há mais influência de fatores culturais e do fenômeno de reputação.

Esses resultados sugerem que nossa tendência a ajudar o outro é mais inata do que cultural. É sabido que crianças, até com menos de dois anos de idade, já são capazes de colaborar com outras na realização de tarefas motoras, fenômeno chamado de altruísmo instrumental. Essa é uma condição também observada entre nossos ancestrais chimpanzés. Porém, dar uma forcinha para abrir uma porta é uma coisa, já dividir o alimento é outra bem diferente. Crianças com 7 a 8 anos de idade já dividem seu alimento de forma igualitária com parceiros do mesmo grupo social (coleguinhas de escola), mesmo quando têm a chance de ficar com a maior parte e ainda apresentam aversão a situações em que a divisão é feita com desigualdade.

*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília