Moda

Herança fashion: mães influenciam filhos no estilo de se vestir

Conheça histórias de filhos que construíram seu estilo a partir da influência do guarda-roupa das mães

Quase todos têm a clássica foto com o rosto pintado com a maquiagem encontrada no armário do banheiro. Essas memórias relembram o amor de mãe, que por mais chateadas que ficassem, abstraíam o desperdício de suas make. E como não se divertir ao lembrar do medo de ser descoberto usando as roupas e os sapatos de salto alto nas brincadeiras pela casa? Essas atitudes na infância, por mais inofensivas que sejam, podem, sim, refletir o estilo pessoal dos filhos  na fase adulta.

Para o estilista André Kallagri, a referência materna influencia bastante no comportamento futuro, nas referências e na importância da vestimenta na vida pessoal. "A mulher tende a ter a mãe como inspiração. É muito raro, inclusive, fugir desse direcionamento. Somos todos um espelho, e o que vestir é um reflexo comportamental", acredita.

Yasmin Isbert - Aya se divertindo com roupas leves e confortáveis, como a mãe e avô procuram se vestir.

Um padrão que pode ser reproduzido por gerações faz toda a diferença no desenvolvimento adulto. É o caso da aposentada Eliana Cardoso, 60 anos. Ela gosta muito de tons pastéis e amarronzados e, com o tempo, foi criando seu próprio jeito de se vestir. "Gosto dessas cores porque vêm muito da minha mãe, criei um estilo próprio, mesmo herdando alguns tons e formas dela", conta.

Um comportamento, no mínimo, divertido, porque Eliana viu na filha as mesmas atitudes, semelhanças, gostos e opções. A aposentada procurou ensinar a importância de encontrar a própria personalidade para a primogênita, a psicóloga Anna Vongrapp, 27 anos, que seguiu o estilo da mãe naturalmente. "Ela absorveu muita coisa minha. Mesmo sendo um estilo mais sério e simples, é prático", comenta.

Anna Vongrapp sempre gostou muito das roupas da mãe, até mesmo na adolescência, quando, normalmente, as primeiras revoluções acontecem no guarda-roupa. A psicóloga vê a mãe com admiração no olhar. "Ela era mãe solo em uma época que trabalhava muito. Sinto que tinha um estilo simples e elegante porque eram muitas responsabilidades no dia: ir trabalhar, comparecer às reuniões escolares, cuidar dos filhos e da casa", relata Anna.

Arquivo pessoal - Luyd montou uma composição no estilo dele, mas com a saia, sapato e acessórios da mãe

As trocas acontecem o tempo inteiro — de blusas, calças, vestidos e acessórios. Eliane diz que as sugestões, opiniões e alertas sobre as vestimentas são aceitas pelos dois lados, e elas se divertem escolhendo roupas para as ocasiões. "Até hoje, por incrível que pareça, ainda usamos alguma coisa da minha mãe, como roupas, bijuterias e sapatos", conta Eliana.

Herdando liberdade

Agora, a psicóloga Anna Vongrapp também é mãe. Aya tem quase 2 anos e já demonstra atitudes de que vai ter uma personalidade autêntica. "Ela vai ser uma pessoa muito despojada, descontraída, independente, sinto isso na Aya. Acho importante que ela descubra o próprio estilo e se encontre. Essas atitudes ajudam na autoestima e no entendimento de quem somos no mundo. Quero isso para ela."

Como mãe de primeira viagem, Anna revive a experiência que teve com a mãe e a avó, e quer construir isso com a filha. "Especialmente por passarmos por situações muito parecidas, também sou mãe solo, fui criada por minha mãe e minha avó. E minha filha também está sendo criada assim. É um ciclo gostoso que estamos transitando, poder reviver e aprender algo novo todos os dias."

Os opostos

A pastora Luciene Prudencio, 47 anos, considera seu modo de se vestir moderno e simples, também influenciado pela mãe, mas viu a filha percorrer vários estilos diferentes — ela já via essa característica no desenvolvimento infantil da musicista Samara Prudencio, 22 anos. Entretanto, mesmo com estilos tão distintos, elas, ainda sim, compartilham peças de roupa.

Fotos: Arquivo pessoal - Luyd com um look completo da mãe: calça, casaco e camisa.

Hoje com uma pegada gótica e all black, Samara já percorreu por estilos românticos e hippies, até encontrar o universo roqueiro — mas sempre tinha um toque do guarda-roupa da mãe. "Eu costumava pegar apenas os sapatos e as bijuterias que ela usava, pois sempre considerei o estilo dela mais simples, nada tão enfeitado. Ao contrário de mim, que tenho um estilo diferente a cada dia. O que predomina, hoje, porém, é a pegada gótica", descreve a musicista.

"Ver a Samara desenvolver o próprio estilo foi chocante, devido à diferença enorme, mas sempre respeitei e achei importante que ela desenvolvesse a própria personalidade no mundo", destaca Luciene.

Criança livre, estilo próprio

A diferença de estilo costuma vir de uma certa rebeldia por parte do filho. É natural que ele queira ir contra suas principais referências em alguns momentos da vida, faz parte do processo, o que não pode acontecer é a repressão e a obrigação.

Para André Kallagri, as opções da infância traduzem muito na vida adulta, e surtem efeito positivo se as crianças puderem se vestir com o que se sentem confortáveis. "Percebemos que quando as crianças extravasam nas fantasias entre princesas e super-heróis, parecem ser mais felizes e resolvidas. É importante não privar ou impor o que usar, é preciso que ela descubra."

O estilista Luyd escolheu trabalhar com moda, justamente, pela repressão que sentia em casa sobre o que usar ou não. Após se especializar na área, passa o conhecimento de que a imposição dos pais em questão de roupas ou expectativas em relação aos filhos causam essa rebeldia.

Por ser uma criança ousada e curiosa, considerada "diferentona", Luyd sempre se maravilhou com as roupas da mãe, afinal, as peças femininas tinham essa ousadia. Hoje, surge no estilista a vontade de adaptar as roupas da mãe para si. "Comecei com calças jeans mais ajustadas na cintura, depois jaquetas, e por aí foi. Criei um estilo mais singular, no qual me identificava muito mais."

O importante, nesse processo de compartilhamento entre mãe e filhos, é experimentar e se sentir bem. "As roupas femininas e masculinas são muito diferentes, em questão de cor, corte, caimento... tudo carrega referências de um para o outro. O segredo é apenas experimentar sem medo. Não gostou? Tira."

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

Arquivo pessoal - Luyd montou uma composição no estilo dele, mas com a saia, sapato e acessórios da mãe
Yasmin Isbert - Eliane, Anna e Aya: três gerações cheias de estilo
Yasmin Isbert - Aya se divertindo com roupas leves e confortáveis, como a mãe e avô procuram se vestir.
Fotos: Arquivo pessoal - Luyd com um look completo da mãe: calça, casaco e camisa.
Arquivo pessoal - Samara e Luciene em contrastes de cores: a filha sempre usa preto