É indescritível a descoberta da maternidade, vivencia-se um novo mundo em que quase tudo muda — espaços da casa, rotinas, relações... E os companheiros dessa viagem vão auxiliar no desenvolvimento gestacional de maneira mais tranquila e amorosa, sejam eles humanos, sejam bichos.
Para os donos de gatos e cachorros que estão esperando pela chegada do filho humano, cria-se uma expectativa de que o animal da casa vai recepcionar a criança como um membro da família. Acontecem diversas conversas sobre adaptações, mas é preciso estar mais atento aos comportamentos, tanto dos tutores quando do pet, do que nos objetos da casa.
O veterinário clínico Luis Eliam explica que a ambientação da casa não está necessariamente atrelada à mudança de móveis e à compra de novos brinquedos, mas, sim, no entendimento de como o animal vai reagir à presença do bebê. Afinal, ele sente quando há privação do espaço onde podia circular normalmente, assim como as mudanças no tempo e nos horários dos passeios e a redução de atenção.
Caso o animal não esteja acostumado com crianças e pessoas entrando na casa, a atenção precisa estar em adaptá-lo a essa realidade o quanto antes. Isso acontece sobretudo com os gatos, que até a nona semanas transitam por uma fase de ambientação. “Ele vai considerar normal aquilo que teve contato durante esse período, por isso que gatos de rua são mais ariscos, eles não tiveram contato com o humano nessa fase”, aponta o veterinário. Dito isso, é normal o bichano ficar mais assustado, requerendo uma adaptação mais atenciosa, como se outro gato estivesse sendo adotado.
Já os cachorros são mais fáceis, mas podem sentir-se enciumados pela falta de atenção em um primeiro momento. “Percebemos muitos acidentes quando a criança começa a engatinhar e a andar porque, de modo geral, são muito curiosas quanto ao pet e puxam o rabo, as orelhas, o pelo. Caso esteja dormindo, por exemplo, a reação natural do animal seria avançar”, adverte.
A adaptação varia de acordo com a individualidade de cada família, mas existem algumas mais perigosas. Luis Eliam explica que cães treinados para vigiar e proteger, ao se sentirem ameaçados, podem provocar ataques fatais. E, para o veterinário, por mais que exista preconceito com cães de personalidades mais agressivas, é preciso, sim, considerar o porte e o nível de agressividade do pet, seja gato, seja cachorro.
Vantagens na gestação
Existe a maneira correta de conduzir uma adaptação, e, se ela for feita de forma correta, trará benefícios para toda a família. Além do suporte emocional e do aconchego, os cães e gatos são animais ativos e ajudam a tutora a se movimentar com mais frequência no período gestacional. “Há melhora do sistema cardiovascular e dos movimentos de equilíbrio, fortalecimento dos músculos, em especial, quadris e pernas, e (as atividades com os pets) evitam edemas excessivos nas pernas”, detalha a obstetra e ginecologista clínica Tatianna Ribeiro.
Ao se movimentar com os cães e os gatos, a grávida também pode controlar o peso, diminuindo o risco de desenvolver pré-eclâmpsia e diabetes gestacional — sem mencionar o contato com o ar livre, durante os passeios, que promove um momento de lazer e descontração, ideal para diminuir a ansiedade natural da fase.
Desde a primeira gestação de Izabela Figueiredo, sua gata, Manteiga, de 8 anos, ficou mais carinhosa. Agora, a advogada vive a terceira gravidez e conta que a pet agrega muito ao momento. “Principalmente porque é uma fase muito delicada na vida da mulher, ficamos mais sensíveis, e ter a companhia e o carinho do pet é muito importante”, menciona.
Na primeira gestação, Izabela recebeu orientações para não mexer na caixa de areia, pelo risco de contrair toxoplasmose. Quando o bebê nasceu, tomaram precauções para que a criança não entrasse em contato direto com Manteiga, para que o recém-nascido se acostumasse e evitasse possíveis alergias. “Foi um período de observação. Hoje ele está superadaptado à rotina. Com um novo bebê, tomaremos as mesmas medidas de cuidado”, conta.
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Como um dos seus
“Não tive medo, sabia que ele queria conhecer a Maria Helena. Ele só sossegou quando deixamos que chegasse perto o suficiente para cheirar e lamber. Logo depois, Thor se tornou o protetor dela”, relembra Gabriela Maria, 23 anos, funcionária pública.
Antes mesmo da descoberta da gravidez, Gabriela se sentia muito emotiva, e Johnny, um de seus cachorros, ficava mais próximo e deitava com frequência em sua barriga. Mas, antes da confirmação da gestação, Johnny teve problemas renais, aos 10 anos, e morreu, mesmo já sentindo a chegada do novo membro da família.
“Sonhava com bebês, porém ignorei os sonhos e os sintomas, até minha mãe, depois de um tempo, falou que eu estava grávida, mas não acreditei”, relata. “Também senti mudança no comportamento dos meus cachorros Thor, 3 anos, e Vitória, 1 ano. Ambos não saiam de perto de mim. Vale ressaltar que a vitória é deficiente, e a casa da minha mãe é cheia de escadas, então meu contato maior sempre foi com ele.”
Ela destaca que Thor não gostava de grude e sempre mordia quando alguém tentava fazer carinho, mas, naquela época, passou a se comportar de forma oposta. “Dormia na minha cama, queria entrar no banheiro comigo. Com o tempo, isso mudou, voltou a ficar na dele, mas sempre me vigiando. E, se sentisse algum perigo, ficava perto de mim.”
Com a chegada de Maria Helena, ele ficou mais agitado e até tentou escalar o berço dela. “A adaptação foi tranquila. Mas, logo, Thor se acostumou com a situação e passou a ficar menos em cima da Maria, a não ser quando ela chorava.”
Esse instinto é mais desenvolvido em cachorros do que em gatos. O veterinário Luis Eliam explica que o instinto de cuidado que o animal desenvolve é muito especial e pode proporcionar atitudes como balançar o berço, caso a criança chore. Eles consideram o bebê como um dos seus filhotes, um membro familiar importante, e podem promover incontáveis momentos de alegria para toda a família.
Antes e depois do parto
- Verificar se o animal está com a caderneta vacinal completa e com a saúde em dia.
- Não incentivar brincadeiras brutas e arranhões, por isso, mantenha as unhas do pet sempre cortadas.
- Evitar que o animal fique transitando pelo quarto onde o recém-nascido dorme.
- Supervisionar o bebê em todos os momentos de contato com o animal.
- Higienizar bem as mãos depois de entrar em contato com o pet.
– Não esperar para levar o animal ao médico, caso ele apresente alguma doença.
- Não armazenar ou preparar comida do bebê e do cachorro próximas uma da outra.
- Verificar as condições de higiene dos utensílios e dos espaços do animal com frequência, e procurar deixá-los longe da criança.
- Caso a criança for mordida ou arranhada, desinfetar e levar diretamente ao pediatra.
- Evitar que o bebê coloque o rosto perto do nariz ou da boca do pet.
- Ter atenção após o segundo trimestre de gestação da tutora, pois o equilíbrio da gestante fica comprometido e é preciso cuidado redobrado nas caminhadas com animais de grande porte.
Fonte: obstetra e ginecologista Tatianna Ribeiro.
Zoonoses
O veterinário oftalmologista Tarciso Schirmbeck descreve as doenças mais comuns transmitidas dos animais para as mães gestantes e bebês. São elas:
- Micose cutânea: doença de pele transmitida pelo pelo contaminado do animal, causa manchas avermelhadas e coceira.
-Larva Migrans: também conhecida como bicho geográfico, é encontrada nas fezes de animais e ocasiona linhas vermelhas e coceiras.
-Lyme: ocorre através das picadas de carrapatos, com dor intensa e vermelhidão no local.
-Bartonelose: transmitida por mordidas, arranhões e até lambidas de felinos, pode causar conjuntivite e lesões na retina do nervo óptico.
-Toxoplasmose: é transmitida pelo contato com fezes e urina, água ou alimentos contaminados, causando lesões oculares.
A obstetra Tatianna Ribeiro alerta que as gestantes podem transmitir infecção para os fetos, sobretudo, no final da gestação. “Uma a cada dez crianças são infectadas pela toxoplasmose, para cada 10.000 nascidos vivos em todo mundo”, observa.“Dificilmente, o animal vai possuir alguma doença se estiver bem de saúde, para isso, mantenha as vacinas em dia, checapes regulares, banhos na frequência correta e alimentação balanceada”, orienta.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte