Quantas vezes você já ouviu alguém dizer que não se exercita porque não gosta de academia, não tem paciência para musculação ou não pratica esportes por achar que não sabe? Embora alguns acabem confessando que o principal motivo é a preguiça, existem aqueles que querem começar a se movimentar e só precisam encontrar a atividade perfeita. E aqui entra um tipo de exercício que pode ser a solução para quem busca algo diferente: as atividades circenses.
O professor de acrobacias aéreas e fit fly Lucas Lirio comenta que as práticas são inúmeras, envolvendo três principais vertentes, as acrobacias, o malabarismo e o equilibrismo. No entanto, a mais relacionada a atividades fitness em Brasília são as acrobacias aéreas.
Entre elas, destacam-se as práticas de acrobacias em tecidos, trapézio e lira, um arco metálico que funciona como espécie de balanço. Nesse tipo de exercício, no qual são feitos movimentos enquanto o corpo está suspenso em um dos aparelhos, os principais aspectos trabalhados são resistência, força muscular, flexibilidade e condicionamento físico.
As aulas costumam durar de uma hora e meia a duas horas e começam sempre com uma etapa bem trabalhada de alongamento, para preparar o corpo. Em seguida, iniciam-se os processos de fortalecimento muscular, que vão permitir que o aluno consiga se manter suspenso e fazer os movimentos em cima do aparelho.
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Para Lucas, o principal diferencial desse tipo de exercício é que, junto com todo o trabalho físico comum a outras práticas, existem o elemento da diversão e o aspecto lúdico e artístico que os movimentos trazem. Entre as vantagens das atividades circenses fitness, Ana Sofia Lamas, criadora da modalidade fit fly, destaca seu aspecto democrático, que permite que pessoas de todas as idades participem das aulas.
No caso do fit fly, isso se torna ainda mais presente. Ana Sofia explica que, na prática, o tecido é montado como um balanço, trazendo um pouco mais de apoio e segurança, e o aluno fica mais próximo do solo. "Por ser mais baixo, já fica mais acessível, tanto para idades diferentes quanto para pessoas que podem ter um medo maior. Existe um suporte maior para sentar, descansar e assim continuar."
Assim como as outras modalidades, o fit fly trabalha o corpo como um todo, fortalecendo os membros inferiores e superiores e a região do core. Sofia comenta que, atualmente, a faixa etária dos alunos vai de 4 a 60 anos.
As aulas para as crianças de 4 a 10 anos são separadas do restante, mas, a partir dos 11, os alunos praticam juntos, sem distinção. "Isso é importante porque os movimentos são os mesmo, o que muda é a rapidez ou a facilidade, que depende de quanto tempo a pessoa pratica. Isso promove interação e inclusão", comenta Ana Sofia.
Além disso, as atividades podem envolver toda a família. Em uma das turmas de fit fly, três gerações de uma família se exercitam juntas. Uma tia de 61 anos participa com a sobrinha de 40 e a sobrinha-neta de 14.
Foco na diversão
Para a criadora do fit fly, além das vantagens físicas e do aspecto democrático, as atividades circenses trazem um lado cultural e lúdico que faz toda a diferença. "O circo é cultura, então, além de se exercitar, a pessoa está consumindo e fazendo arte."
O resgate da infância e dos sentimentos de diversão ao fazer uma acrobacia diferente e dar uma cambalhota, por exemplo, são outros momentos interessantes que costumam fazer parte das aulas. A cooperação e o incentivo da turma também deixam tudo mais leve. "Não vendemos um corpo escultural ou aquele ideal físico. O objetivo é qualidade de vida, bem-estar, se movimentar rindo e liberando o estresse", completa.
Aposentada há quatro anos, Denise Oliveira, 60 anos, encontrou no fit fly o acolhimento que precisava para se manter em uma atividade física. Fazendo um acompanhamento com nutricionista e nutrólogo, ela foi orientada sobre a necessidade de se exercitar e se viu em um dilema. O ambiente de academia nunca agradou Denise, as pessoas mais jovens e um clima que, para ela, se assemelha a uma competição a faziam se sentir deslocada, e o receio de fazer movimentos errados nos aparelhos sempre a mantiveram afastada.
Assim, Denise começou a pesquisar opções para se exercitar, mas se sentindo bem durante o processo. Inicialmente, descobriu a canoagem. O ar livre e os perfis de alunos mais diversos conquistaram a aposentada. Sentindo falta de movimentar as pernas e de trabalhar a flexibilidade, ela continuou pesquisando e descobriu o fit fly. "Foi muito interessante. Achei que seria difícil demais, mas tentei e não só dei conta de fazer, como adorei."
Trabalhando todo o corpo há alguns meses, Denise sentiu melhora na flexibilidade, na força e no equilíbrio. Mesmo que durante as aulas alguns alunos estejam mais ou menos avançados, ela percebe um clima de cooperação e que cada um está focado no próprio desenvolvimento, que varia de pessoa para pessoa.
Aos 41 anos, o bancário Conrado Ijanc também faz parte do grupo que nunca curtiu academia e musculação. Depois de bastante tempo sem se exercitar, há cerca de nove anos, descobriu as atividades circenses, e tudo mudou.
Ao iniciar um tipo de exercício que o envolvia, Conrado passou a curtir o processo e a investir nas práticas mais lúdicas, como acrobacias em tecidos, lira e com o bambu. Há alguns meses, ele conheceu o fit fly e já incorporou a modalidade a sua rotina.
A pandemia não desanimou o bancário, que instalou uma lira em casa, manteve os exercícios e até começou a dar algumas aulas para iniciantes. "Isso é mais um aspecto que eu gosto, é uma comunidade muito unida. Todos se ajudam, se indicam e divulgam quando acontece uma aula diferente, como no Eixão ou no Parque."
O fato de os exercícios trabalharem o corpo inteiro de uma forma lúdica envolve o bancário, que gosta da sensação de superação que a prática circense oferece. "Você está ali competindo com você mesmo, testando seus limites e se desafiando."