Quem nunca, ao passar longos dias distante de casa, não sofreu com a saudade do conforto do lar e da própria bagunça? Pior: quem nunca se revoltou quando, sem aviso prévio, teve seus objetos e móveis mexidos ou trocados de lugar? Tanto a nostalgia quanto o aborrecimento não são em vão. Casa é mais do que abrigo. É afeto, memória e identidade.
Nesse sentido, mesmo com as inúmeras tendências de decoração — tantas vezes seguidas por modismo —, é comum que haja um elemento ou outro no lar referente aos gostos pessoais do morador. Noutras situações, toda a casa parece estar de acordo com os ideais, as crenças e os interesses de quem a habita.
Ludmila, Lua e Laura são daquelas que transformam ao menos um cantinho em seu universo. E o melhor, com itens feitos por suas próprias mãos, característica que agrega mais história e mais valor aos objetos.
Em companhia dos bordados
É inegável que a pandemia trouxe muitos sustos e incertezas à medida que a situação sanitária agravava-se. Para a estudante de psicologia Ludmila Brasil, 25 anos, houve uma preocupação a mais: a mãe foi diagnosticada com câncer de mama, demandando seus cuidados. A ansiedade, insistente, não a deixava "descansar a cabeça" nem quando estava com tempo livre.
A solução foi procurar alguma atividade que lhe ocupasse. Já gostava de desenhar e pintar, mas queria algo diferente. Encontrou um tutorial de bordado no YouTube e se apaixonou. "Nesse artesanato, eu encontrei uma maneira de me acolher e de me ouvir, porque são horas e horas fazendo um mesmo bordado. Adoro, inclusive, ver os antigos que já fiz e lembrar de como eu me sentia", ressalta. Para ela, há detalhes que só produções feitas à mão podem entregar.
Em cada peça, Ludmila sente que deixa um pouco de si, algo que lhe motiva a não parar de bordar, além de lhe ajudar a lembrar dos seus espaços e a cultivar sua imaginação e sua criatividade. Sente-se feliz na própria companhia quando está acompanhada do bastidor, do tecido, das linhas e da agulha.
"Não costumo me atentar às regras de decoração para personalizar o meu cantinho, pois não quero perder o sentido que a arte, no geral, tem pra mim, que é ser livre e autêntica". Hoje, a mãe venceu o câncer, e a jovem continua bordando, tanto que tem uma parede cheia das suas criações. Aceita, também, encomendas pelo Instagram (@bordadosdalulu_).
Saiba Mais
- Revista do Correio Mães ativistas: elas encontram nos filhos motivações para lutar por todos
- Revista do Correio Pequenos atos de gentileza são frequentes e universais, diz estudo
- Revista do Correio Tratamento gelado: técnica de skincare usando gelo promete benefícios
- Revista do Correio Meias à mostra! As variadas estampas tem conquistado público diverso
- Revista do Correio Adotar um animal especial é garantia de muito amor e companheirismo
Dos sonhos para as telas
Vermelho, azul, verde, preto e amarelo. São as cores fortes e os desenhos surrealistas que chamam a atenção nas obras de Lua Ramos, 27. A jovem cria quadros, ilustrações e trabalhos digitais fundamentados em seus sonhos e nos "mundos" psicodélicos que cria em sua cabeça — normalmente bastante coloridos.
Mesmo não tendo formação na área, sempre que pode, pesquisa sobre processos de criação. O gosto pela arte, aliás, começou cedo e, em 2014, começou a pintar. Além do papel panamá, muito adotado em suas produções, Lua costuma usar, como tela, madeiras que encontra na rua ou em lojas de móveis usados.
No momento, o trabalho como vendedora de software tem restringido o tempo que gostaria de dedicar às suas criações. Nas paredes da sua casa, porém, as obras traduzem sua verdadeira identificação. As telas ornamentam e comunicam. Para acompanhar seu trabalho, basta acessar o Instagram (@azularlua).
Mente saudável e ambiente sustentável
Quando o filho mais velho da dona de casa Laura Sanches, 52, deixou o lar para seguir o próprio caminho, tudo ficou meio parado e sem graça. Síndrome do ninho vazio, pensou a mãe. Aliado a isso, o início da pandemia reforçou a necessidade de manter a mente saudável. Então, ela, que se formou em engenharia de agronomia, mas não exercia a profissão, encontrou no artesanato mais uma casa.
Mas não é qualquer artesanato. Laura reforma e cria peças com materiais que iriam para o lixo. "Somos extremamente consumistas e desperdiçamos muitas coisas. A possibilidade de reduzir, reutilizar e reciclar é um dos pontos que me atrai nesse trabalho", comenta.
Ademais, a criatividade das produções também lhe motiva. O material que seria descartado e o verniz marítimo são as principais matérias-primas das suas criações. O último elemento garante a durabilidade dos produtos.
Suas principais inspirações estão na natureza, com seus tons e texturas. "Levar para dentro da casa das pessoas a beleza e a alegria das cores é meu maior objetivo", comemora. Em sua morada, a decoração com suas criações contempla objetos pequenos (vasos, potes, porta-copos, móbile), móveis e peças para o jardim. Se há um cantinho vazio, ela logo trata de encontrar um enfeite. Seu ateliê chama-se LA VIE EN COULEUR e as encomendas podem ser feitas pelo Instagram comercial (@lauramaga.artesanato).
Um lar com história
Para os que se perguntam se há limites na decoração, sob o risco de o ambiente se tornar exagerado ou até caricato, Pablo Oliveira, designer de interiores, garante que o gosto pessoal é algo particular, portanto, não existe cenário feio ou bonito. Além disso, é importante que a casa imprima sua identidade e conte a sua história.
“Se gostar de cores, explore! Caso tenha algum receio quanto ao excesso, opte por uma base neutra de cores nas paredes e pisos como (branco, cinza ou bege) e ouse nas cores nas obras de artes e nos adornos. Opte por explorar a parede principal com quadros na proporção do ambiente. Ademais, nada de sofá muito grande em ambiente pequeno ou quadro pequeno em paredes grandes”, recomenda.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.