Entrevista

O SUS é impressionante, diz executivo do sistema de saúde britânico

Chief Clinical Information Officer (CCIO) do SIS da região de Shropshire, Teldford e Wrekin, no oeste da Inglaterra, Masood Ahmed estará no Brasil, nesta terça-feira (23/5), para participar da 28ª Hospitalar, maior evento de saúde da América Latina

Sibele Negromonte
postado em 22/05/2023 16:55 / atualizado em 22/05/2023 17:25
 (crédito: Divulgação)
(crédito: Divulgação)

Referência mundial, o sistema de saúde da Inglaterra é o mais antigo e um dos mais sólidos do mundo. Criado em 1948, após a Segunda Guerra Mundial, o National Health Service (NHS) fornece serviço de saúde gratuito a todos os britânicos e serviu de inspiração para o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro.

O médico britânico Masood Ahmed, Chief Clinical Information Officer (CCIO) do SIS da região de Shropshire, Teldford e Wrekin, no oeste da Inglaterra, estará no Brasil, nesta terça-feira (23/5), para participar da 28ª edição da Hospitalar, maior evento de saúde da América Latina. Na ocasião, ele falará sobre como o empoderamento do Sistema Integrado de Saúde (SIS) se tornou uma estratégia do NHS para reduzir a fragmentação do sistema de saúde da Grã-Bretanha.

Antes de sua palestra no Congresso HIMSS@Hospitalar Fórum 2023, Masood Ahmed conversou com o Correio e falou sobre os desafios enfrentados durante a crise sanitária da covid-19, defendeu o fortalecimento do sistema integrado de saúde e classificou o SUS como um sistema extremamente ambicioso e impressionante. “Apesar de o Brasil ser um país que ainda está passando por progresso, mudanças e desenvolvimento significativos, o objetivo de fornecer assistência médica gratuita a todos é louvável.”

A 28ª edição da Hospitalar começa nesta terça-feira (23/5), no São Paulo Expo, em São Paulo, e vai até sexta-feira (26/5). Confira a entrevista.

Como funciona o National Heatlh System (NHS) e que exemplo os britânicos podem dar ao mundo na área de saúde?

O NHS foi construído sobre as bases do atendimento integrado. O Modelo de Atendimento Integrado (Integrated Care Model) significa que os atendimentos primário, secundário e terciário trabalham sob o mesmo guarda-chuva para oferecer atendimento centrado no paciente. Como o paciente está no cerne da tomada de decisão na área da saúde, a ambição é atender e apoiar a população da melhor maneira possível, ampliando o acesso ao atendimento em saúde.

Durante a pandemia, quais foram os maiores desafios enfrentados pelo NHS e que aprendizado vocês tiraram da crise sanitária?

Durante a pandemia, houve uma série de desafios significativos. Como diretor médico de uma população diversa de 1,5 milhão de pessoas, que também era uma das mais carentes do país, o desafio mais urgente foi lidar com a covid-19 em várias frentes — gerenciando o atendimento, os leitos, a equipe e protegendo nossos profissionais. Além disso, muitos de nossos líderes não entendiam completamente o quanto era necessário trabalhar para se envolver com as nossas comunidades. O engajamento com diversas comunidades e a compreensão das nuances em torno das implicações para a saúde daqueles que sofriam de privação de renda e de acesso aos locais de vacinação foram desafios que tivemos de enfrentar de frente. E, ao enfrentá-los, acabamos tendo um aumento positivo na vacinação, o que nos guiou durante o pior momento da crise e proporcionou proteção contra futuras ondas da doença. Passei muito tempo me reunindo (principalmente virtualmente) com nossos cidadãos, grupos comunitários e funcionários para construir relacionamentos positivos, e esses relacionamentos são fundamentais para fortalecer nossos modelos de atendimento integrado no futuro.

O senhor é defensor do Sistema Integrado de Saúde. Quais as vantagens desse tipo de sistema para a população?

A força do Sistema de Atendimento Integrado (Integrated Care System - ICS) remonta aos seus princípios fundamentais. Ele é baseado em valores, o que significa que cada intervenção ou consulta visa cuidar melhor do paciente e garantir que o atendimento seja correto, não apenas no momento, mas também considerando as implicações futuras. Ele é colaborativo, ou seja, diferentes departamentos e organizações dentro do sistema compartilham e aprendem constantemente uns com os outros, beneficiando o paciente. E ele é holístico, o que significa que abandonamos a abordagem "tamanho único" e estamos nos movendo para um mundo em que consideramos todas as evidências disponíveis ao fornecer o melhor atendimento para cada paciente.

O SIS reúne o NHS, autarquias e organismos do terceiro setor. Qual é o papel de cada um deles no sistema e qual lição o Brasil pode tirar desse modelo?

A função do Sistema de Atendimento Integrado (Integrated Care System - ICS) é promover a colaboração da melhor maneira possível. Garantir que o atendimento seja unificado e que a jornada do paciente esteja no centro da tomada de decisões ajuda todas as organizações dentro do ICS a se alinharem e a seguirem na mesma direção. O ICS também se envolve fora do sistema de saúde, trabalhando com agências e conselhos do governo local e com o setor voluntário para abordar determinantes mais amplos da saúde (como moradia, empregos, espaços verdes etc.) para garantir uma população saudável e feliz. Minha função atual é a de Chief Digital Officer do condado de Shropshire, e estou implementando uma ambiciosa estratégia digital que nos permitirá não somente tirar proveito das novas tecnologias e inovações, mas também garantir que estamos usando os dados da melhor maneira possível para atender à nossa população e reconhecer suas necessidades.

O NHS inspirou a criação do SUS brasileiro. Como o senhor vê o nosso sistema de saúde? Quais as principais falhas e como podemos melhorar?

O SUS é um sistema extremamente ambicioso e impressionante. Apesar de o Brasil ser um país que ainda está passando por progresso, mudanças e desenvolvimento significativos, o objetivo de fornecer assistência médica gratuita a todos é louvável. E os desafios que ele enfrenta são semelhantes aos que enfrentamos no NHS. O Brasil tem uma população e uma área enormes, o que inevitavelmente leva a longos tempos de espera para procedimentos não emergenciais e à falta de acesso para os cidadãos mais rurais, levando a disparidades no atendimento. No entanto, o Brasil, uma das nações que mais crescem no mundo, com uma população jovem e um apetite por tecnologia e desenvolvimento, está preparado para enfrentar esses desafios de frente. Ao enfrentar os desafios existentes por meio da agenda digital, o futuro da saúde brasileira é empolgante, pois tem potencial real para se tornar um pioneiro da saúde digital em todo o mundo. Estou ansioso para conhecer outros profissionais de saúde em São Paulo e quero criar parcerias sólidas para que possamos compartilhar o aprendizado e melhorar nossos respectivos sistemas de saúde.

 

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  • Médico britânico Masood Ahmed, Chief Clinical Information Officer (CCIO) do SIS da região de Shropshire, Teldford e Wrekin, no oeste da Inglaterra
    Médico britânico Masood Ahmed, Chief Clinical Information Officer (CCIO) do SIS da região de Shropshire, Teldford e Wrekin, no oeste da Inglaterra Foto: Divulgação
  • O médico britânico Masood Ahmed, Chief Clinical Information Officer (CCIO) do SIS da região de Shropshire, Teldford e Wrekin, no oeste da Inglaterra
    O médico britânico Masood Ahmed, Chief Clinical Information Officer (CCIO) do SIS da região de Shropshire, Teldford e Wrekin, no oeste da Inglaterra Foto: Divulgação
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