Nas paredes do quarto, estão pendurados alguns exemplos da sua maior paixão: a fotografia. Juliana Peres, 34 anos, diagnosticada com atrofia cerebral e disritmia, cresceu rodeada de fotógrafos. Ainda cedo, ganhou sua primeira câmera e não tardou para que aprendesse as primeiras lições na Escola Brasiliense de Fotografia.
Seus estilos preferidos incluem registros de sombras de pessoas, animais e plantas, além de fotos de elementos da natureza, como do típico – e único – pôr do sol de Brasília. Para ela, fotografia significa comunicação, emoção e inclusão, afinal, o hobby sempre a auxiliou em seu desenvolvimento educacional, artístico e profissional. Com tantos benefícios, por que não compartilhá-los com pessoas com diferentes tipos de deficiências?
Assim, Juju, como é conhecida, idealizou o Projeto Vivências Inclusivas, que tem como principal objetivo usar a fotografia como oportunidade de socialização desse público. Com a ajuda da irmã, inscreveu a proposta e conseguiu o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal – FAC DF, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
A programação conta com oficinas de fotografia para pessoas surdas, mudas e com baixa visão e saídas fotográficas para atividades práticas em trilhas ao ar livre, como a Eco Trilha Pedra dos Amigos (Serrinha do Paranoá) e o Centro de Convivência do Parque Nacional de Brasília. “Os passeios serão ótimas oportunidades para conhecer um pouco mais do Cerrado brasiliense”, ressalta.
As aulas começaram na segunda semana de maio, e as três turmas, que têm cinco encontros marcados cada uma, lotaram rapidamente. A expectativa é que o projeto tenha uma segunda edição ano que vem, a fim de contemplar demais interessados. Em agosto, o grupo fará parte de uma exposição do Festival Mês da Fotografia.
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Segundo Juju, os alunos estão se divertindo e aprendendo muito. Alguns até já decidiram: querem ser fotógrafos. Para ela, não há satisfação maior do que vê-los emocionados ao segurarem uma máquina pela primeira vez. Na socialização, o propósito está sendo cumprido. “Trocamos conhecimentos."
Ao lado da idealizadora da proposta, que também assume a função de co-instrutora das oficinas, está a fotógrafa e educadora Isabella Gurgel, responsável por ministrar as oficinas, coordenar os processos pedagógicos e auxiliar na comunicação acessível com os alunos. Já o fotógrafo e cinegrafista Cristiano Costa, que também é PcD, é responsável pelo registro de imagens das atividades do projeto e edição de conteúdos multimídia para as redes sociais.
Quebra de paradigmas
Isabella tem no currículo trabalhos de arte-educação para surdos, utilizando a fotografia como ferramenta de ensino-aprendizagem, além de conhecimentos em libras- linguagem de sinais. Para a educadora, o maior desafio que teve ao começar a trabalhar com esse público foi quebrar antigos paradigmas e desenvolver novas metodologias, compreendendo que as pessoas aprendem de diferentes formas.
“Dessa maneira, posso não atingir todos os alunos, mas certamente irei tentar, pois terei à disposição várias possibilidades”, comenta. No que tange à inclusão, acrescenta: “Quando vemos uma fotografia, não sabemos se a pessoa que a fez é surda ou não. Isso as iguala”. O diferencial do Vivências Inclusivas, para ela, está no protagonismo de Juju, que reforça o importante lema “nada sobre nós, sem nós”.
Os registros fotográficos e atividades realizadas pelos participantes poderão ser acompanhados nas redes sociais (@vivenciasinclusivas) e no site do projeto – www.vivenciasinclusivas.com.br.
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*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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