Moda

Herança fashion: mães influenciam filhos no estilo de se vestir

Conheça histórias de filhos que construíram seu estilo a partir da influência do guarda-roupa das mães

Yasmin Isbert*
postado em 14/05/2023 00:01 / atualizado em 19/05/2023 14:27
 (crédito: Fotos: Yasmin Isbert)
(crédito: Fotos: Yasmin Isbert)

Quase todos têm a clássica foto com o rosto pintado com a maquiagem encontrada no armário do banheiro. Essas memórias relembram o amor de mãe, que por mais chateadas que ficassem, abstraíam o desperdício de suas make. E como não se divertir ao lembrar do medo de ser descoberto usando as roupas e os sapatos de salto alto nas brincadeiras pela casa? Essas atitudes na infância, por mais inofensivas que sejam, podem, sim, refletir o estilo pessoal dos filhos  na fase adulta.

Para o estilista André Kallagri, a referência materna influencia bastante no comportamento futuro, nas referências e na importância da vestimenta na vida pessoal. "A mulher tende a ter a mãe como inspiração. É muito raro, inclusive, fugir desse direcionamento. Somos todos um espelho, e o que vestir é um reflexo comportamental", acredita.

Aya se divertindo com roupas leves e confortáveis, como a mãe e avô procuram se vestir.
Aya se divertindo com roupas leves e confortáveis, como a mãe e avô procuram se vestir. (foto: Yasmin Isbert )

Um padrão que pode ser reproduzido por gerações faz toda a diferença no desenvolvimento adulto. É o caso da aposentada Eliana Cardoso, 60 anos. Ela gosta muito de tons pastéis e amarronzados e, com o tempo, foi criando seu próprio jeito de se vestir. "Gosto dessas cores porque vêm muito da minha mãe, criei um estilo próprio, mesmo herdando alguns tons e formas dela", conta.

Um comportamento, no mínimo, divertido, porque Eliana viu na filha as mesmas atitudes, semelhanças, gostos e opções. A aposentada procurou ensinar a importância de encontrar a própria personalidade para a primogênita, a psicóloga Anna Vongrapp, 27 anos, que seguiu o estilo da mãe naturalmente. "Ela absorveu muita coisa minha. Mesmo sendo um estilo mais sério e simples, é prático", comenta.

Anna Vongrapp sempre gostou muito das roupas da mãe, até mesmo na adolescência, quando, normalmente, as primeiras revoluções acontecem no guarda-roupa. A psicóloga vê a mãe com admiração no olhar. "Ela era mãe solo em uma época que trabalhava muito. Sinto que tinha um estilo simples e elegante porque eram muitas responsabilidades no dia: ir trabalhar, comparecer às reuniões escolares, cuidar dos filhos e da casa", relata Anna.

Luyd montou uma composição no estilo dele, mas com a saia, sapato e acessórios da mãe
Luyd montou uma composição no estilo dele, mas com a saia, sapato e acessórios da mãe (foto: Arquivo pessoal )

As trocas acontecem o tempo inteiro — de blusas, calças, vestidos e acessórios. Eliane diz que as sugestões, opiniões e alertas sobre as vestimentas são aceitas pelos dois lados, e elas se divertem escolhendo roupas para as ocasiões. "Até hoje, por incrível que pareça, ainda usamos alguma coisa da minha mãe, como roupas, bijuterias e sapatos", conta Eliana.

Herdando liberdade

Agora, a psicóloga Anna Vongrapp também é mãe. Aya tem quase 2 anos e já demonstra atitudes de que vai ter uma personalidade autêntica. "Ela vai ser uma pessoa muito despojada, descontraída, independente, sinto isso na Aya. Acho importante que ela descubra o próprio estilo e se encontre. Essas atitudes ajudam na autoestima e no entendimento de quem somos no mundo. Quero isso para ela."

Como mãe de primeira viagem, Anna revive a experiência que teve com a mãe e a avó, e quer construir isso com a filha. "Especialmente por passarmos por situações muito parecidas, também sou mãe solo, fui criada por minha mãe e minha avó. E minha filha também está sendo criada assim. É um ciclo gostoso que estamos transitando, poder reviver e aprender algo novo todos os dias."

Os opostos

A pastora Luciene Prudencio, 47 anos, considera seu modo de se vestir moderno e simples, também influenciado pela mãe, mas viu a filha percorrer vários estilos diferentes — ela já via essa característica no desenvolvimento infantil da musicista Samara Prudencio, 22 anos. Entretanto, mesmo com estilos tão distintos, elas, ainda sim, compartilham peças de roupa.

Luyd com um look completo da mãe: calça, casaco e camisa.
Luyd com um look completo da mãe: calça, casaco e camisa. (foto: Fotos: Arquivo pessoal )

Hoje com uma pegada gótica e all black, Samara já percorreu por estilos românticos e hippies, até encontrar o universo roqueiro — mas sempre tinha um toque do guarda-roupa da mãe. "Eu costumava pegar apenas os sapatos e as bijuterias que ela usava, pois sempre considerei o estilo dela mais simples, nada tão enfeitado. Ao contrário de mim, que tenho um estilo diferente a cada dia. O que predomina, hoje, porém, é a pegada gótica", descreve a musicista.

"Ver a Samara desenvolver o próprio estilo foi chocante, devido à diferença enorme, mas sempre respeitei e achei importante que ela desenvolvesse a própria personalidade no mundo", destaca Luciene.

Criança livre, estilo próprio

A diferença de estilo costuma vir de uma certa rebeldia por parte do filho. É natural que ele queira ir contra suas principais referências em alguns momentos da vida, faz parte do processo, o que não pode acontecer é a repressão e a obrigação.

Para André Kallagri, as opções da infância traduzem muito na vida adulta, e surtem efeito positivo se as crianças puderem se vestir com o que se sentem confortáveis. "Percebemos que quando as crianças extravasam nas fantasias entre princesas e super-heróis, parecem ser mais felizes e resolvidas. É importante não privar ou impor o que usar, é preciso que ela descubra."

O estilista Luyd escolheu trabalhar com moda, justamente, pela repressão que sentia em casa sobre o que usar ou não. Após se especializar na área, passa o conhecimento de que a imposição dos pais em questão de roupas ou expectativas em relação aos filhos causam essa rebeldia.

Por ser uma criança ousada e curiosa, considerada "diferentona", Luyd sempre se maravilhou com as roupas da mãe, afinal, as peças femininas tinham essa ousadia. Hoje, surge no estilista a vontade de adaptar as roupas da mãe para si. "Comecei com calças jeans mais ajustadas na cintura, depois jaquetas, e por aí foi. Criei um estilo mais singular, no qual me identificava muito mais."

O importante, nesse processo de compartilhamento entre mãe e filhos, é experimentar e se sentir bem. "As roupas femininas e masculinas são muito diferentes, em questão de cor, corte, caimento... tudo carrega referências de um para o outro. O segredo é apenas experimentar sem medo. Não gostou? Tira."

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Luyd montou uma composição no estilo dele, mas com a saia, sapato e acessórios da mãe
    Luyd montou uma composição no estilo dele, mas com a saia, sapato e acessórios da mãe Foto: Arquivo pessoal
  • Eliane, Anna e Aya: três gerações cheias de estilo
    Eliane, Anna e Aya: três gerações cheias de estilo Foto: Yasmin Isbert
  • Aya se divertindo com roupas leves e confortáveis, como a mãe e avô procuram se vestir.
    Aya se divertindo com roupas leves e confortáveis, como a mãe e avô procuram se vestir. Foto: Yasmin Isbert
  • Luyd com um look completo da mãe: calça, casaco e camisa.
    Luyd com um look completo da mãe: calça, casaco e camisa. Foto: Fotos: Arquivo pessoal
  • Samara e Luciene em contrastes 
de cores: a filha sempre usa preto
    Samara e Luciene em contrastes de cores: a filha sempre usa preto Foto: Arquivo pessoal
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação