Não é preciso ser um visitante frequente de museus e galerias para se interessar ou desenvolver aptidão pela arte. Da pintura à música, da periferia aos palacetes, essas manifestações estão em todos os lugares e visam, essencialmente, comunicar algo, gerando sentimentos de alegria, desconforto, paz ou tristeza. As possibilidades são inúmeras.
Fato é que, muitas vezes, nos conectamos tanto a algumas dessas expressões que desejamos incorporá-las ao nosso lar, adicionando beleza e personalidade ao ambiente. É preciso, entretanto, atentar-se a certos detalhes para que as obras de arte — pinturas, objetos, esculturas, fotografias e até instalações — sejam devidamente valorizadas na decoração.
Escolher a iluminação e o posicionamento adequados das peças em meio ao layout do espaço é indispensável. O arquiteto e designer de interiores Saulo Rocha explica que as obras devem estar dispostas em locais seguros, visíveis aos olhos do espectador e de acordo com noções ergonômicas e estéticas, a fim de evitar desconforto visual. Considerar ferramentas como o círculo cromático, as leis da Gestalt e a proporção áurea para auxiliar nesta composição pode ser bastante proveitoso.
É possível colocar os objetos em prateleiras, paredes, mesas e até mesmo no piso. E não precisa restringi-los apenas à sala ou aos quartos. Para o arquiteto e urbanista Bruno Moitinho, “quanto mais arte, melhor”, afinal, todos os cômodos podem receber obras de arte que acrescentem dramaticidade ao espaço. “Até mesmo no corredor de passagem, que é um local geralmente pouco decorado, vale incluir quadros que contem uma história ou deixem seu dia mais alegre”, completa.
Cabe ter maior atenção, apenas, aos materiais e ao ambiente em que a arte será disposta, pois lugares onde há muita umidade, como o banheiro, podem danificar pinturas em tela, por exemplo, fazendo-as perder a cor original rapidamente. Nessas situações, compensa investir em obras impressas duradouras, visto que caso ocorra alguma avaria, é mais fácil realizar uma troca.
Ainda sobre a conservação desses objetos, Saulo destaca ser crucial saber qual material foi utilizado na produção, informação que direciona o cuidado adequado. “No geral, temos que nos atentar para protegê-los da exposição ao sol, da umidade e de situações que podem causar danos por contato ou quedas”, acrescenta.
Tendências e valores
Sabe quando você se depara com um mobiliário moderno, resultado dos mais recentes projetos de design, combinado com aquelas obras clássicas e repletas de dramaticidade? Qual sentimento manifesta? Aposto que surpresa, afinal tal organização subverte linhas de decoração que seguem apenas um estilo. Mesclar diferentes correntes, porém, pode ser muito interessante, além de trazer maior identidade ao espaço.
Bruno reitera que, na decoração, não existe certo ou errado, mas, sim, o que faz bem para o local onde você mora ou trabalha. “Além disso, não vejo problemas com excessos; se a obra tem história e te faz bem, então, abuse! O problema que sinto é quando o lar não tem a cara e a essência do morador. Procuro sempre colocar quadros e esculturas nos meus projetos que conversem com o espaço e o cliente, isso traz mais identidade e história para o lugar”, avalia.
Ademais, engana-se quem pensa que, para adquirir obras de arte, é preciso dispor de muito dinheiro. Há uma grande variedade de itens, de excelente qualidade, que podem ser encontrados em bazares, feiras de artesanato, vendas de garagem, lojas on-line, ou até mesmo confeccionados pelos próprios usuários. Uma boa pesquisa na internet ou um passeio pela cidade, em locais que concentram cultura popular, já permitem encontrar peças de preços variados.
As artes produzidas com elementos que remetem à natureza, como vasos de barro, peças de madeira, pedras naturais e formas orgânicas, são as que mais têm se destacado recentemente, como lembra Saulo. Isso porque, após a quarentena, houve uma forte valorização de produções artesanais — macramê, bordados, pinturas e esculturas cerâmicas. Outra vertente que tem chamado atenção são as obras feitas por meio de inteligência artificial, capazes de gerar resultados impressionantes com apenas algumas palavras de comando.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte