Sensação de ardor, queimação no rosto e repuxamento são as características comuns das peles sensíveis. Saber o que passar no rosto é imprescindível para conviver com a sensibilidade, especialmente quando queremos aplicar algo diferente — como um produto colorido ou brilhante.
Isso acontece com mais frequência na hora de usar as maquiagens, e os produtos do tipo hipoalergênico nem sempre são a única solução eficaz. Existem atitudes tão importantes quanto selecionar a mercadoria da categoria "suave" e "antialérgica" das farmácias e dos supermercados. Reconhecer as condições da pele sensível e quais produtos estão causando os sintomas é o primeiro passo antes de aplicar cosméticos.
Irritações e incômodos das peles sensíveis podem ser desencadeados por mudança de tempo, excesso de frio ou calor, doenças, alergias, maquiagens, alimentos, produtos químicos e produtos de limpeza, fatores citados pela dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) Rosana Lazzarini. "Em algumas doenças na pele, esse fenômeno também ocorre em conjunto, como na dermatite seborreica, dermatite atópica e na rosácea," explica.
Atente-se para não confundir uma pele sensível com uma pele alérgica — as alergias aparecem como lesões na pele, acompanhadas de coceira e descamação. "São as chamadas dermatites de contato", diferencia Rosana.
Componentes
As maquiagens têm um papel importante na saúde da pele sensível. Além do diagnóstico correto realizado por um dermatologista, ler a composição dos produtos, optar por fórmulas em pó e de fácil remoção são boas atitudes de prevenção à irritabilidade.
Em um artigo da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional de São Paulo (SBD-RESP), a dermatologista Tatiane Cura diz que devemos priorizar produtos testados em peles sensíveis, nos distanciarmos das maquiagens vencidas e usar produtos de fácil remoção — os cosméticos à prova d'água, por exemplo, necessitam de mais removedores, criam maior atrito com a superfície da pele e devem ser evitados. Assim como devemos evitar os itens com quantidade excessiva de ativos e ingredientes ou que contenham conservantes, álcool, essências, fragrâncias e pigmentos.
Na hora de comprar, também deve-se testar o produto na região do pulso — bem similar à pele do rosto. Aplique uma pequena quantidade e veja se dá alguma reação. "Caso a pele comece a reagir de maneira estranha, com inchaços, coceiras ou incômodos, é importante interromper o uso do produto imediatamente. Não tente continuar usando para ver se a reação desaparece", diz a dermatologista Marcia Linhares.
"Já a leitura dos componentes requer treino e conhecimento. Os nomes utilizados nem sempre são os mesmos para todas as empresas, e podem causar confusão", detalha Rosana Lazzarini. "Os cosméticos com a menor quantidade possível de componentes são melhores, produtos veganos ou naturais nem sempre são adequados, pois podem conter alérgenos."
Produtos com muita água, como loções e cremes, precisam de uma maior quantidade de conservantes para sua preservação, por isso, opte por maquiagens em pó. "Também é importante se atentar aos 'glitters' e 'brilhos', eles provocam irritações em qualquer tipo de pele. São mais difíceis de retirar, levando a pessoa a usar produtos mais agressivos para fazer a remoção," adverte Rosana Lazzarini.
Preparo e aplicação
Marcia Linhares ressalta a importância de escolher produtos adequados para a limpeza e hidratação da pele na hora de receber e retirar a maquiagem, evitando o uso de produtos abrasivos — como esfoliantes e esponjas vegetais. "Do mesmo modo que é importante utilizar esponjas e pincéis limpos, evitar compartilhar produtos com outras pessoas e não dormir com maquiagem, pois isso pode obstruir os poros e causar irritação na pele," destaca a dermatologista.
E atenção! Quando uma maquiagem é hipoalergênica, não quer dizer que é antialérgica. Significa que sua formulação contém uma menor quantidade de componentes alérgicos — como álcool, parabenos e corantes. "Mas não significa que todos podem utilizá-lo", afirma Rosana.
É neste momento em que a alergia e a sensibilidade não podem ser confundidas. Por exemplo: quando alguma dermatite de contato é diagnosticada no teste de contato, determina-se o exato componente que causa a alergia. "Nesse caso, indicamos o produto que não contém aquele agente causador, que, em geral, não é um hipoalergênico," exemplifica Rosana. Mas, de modo geral, são bem eficientes em peles que não apresentam esse tipo de problema.
Por uma pele livre
Natália Pessoa, 38 anos, especialista em beleza, começou a ter problemas com a pele ainda na adolescência: seu rosto coçava e ficava muito vermelho. Na época, descobriu que tinha rosácea — doença que causa vermelhidão, rompimento de vasos sanguíneos e acne.
Além dos incômodos físicos e estéticos, o valor dos produtos ideais eram caros, começando pelo protetor solar. Natália também já teve experiências com maquiagens que causaram reações alérgicas instantâneas, precisou tomar um antialérgico oral e tirar o produto no mesmo momento. "Fui obrigada a me distanciar de alimentos que prejudicam a pele, evitar estresses, tive várias limitações", relembra.
Mas, hoje, a pele bem tratada é o seu segredo para aplicação da maquiagem com segurança. "Fazendo a skincare da maneira correta, dificilmente, a pele terá reações alérgicas causados pelas substâncias contidas nas maquiagens" aconselha. Com os cuidados necessários, sua pele tem aspecto saudável e jovem. Natália pode pegar sol tranquilamente e usa suas maquiagens com a mesma liberdade de uma pele sem adversidades.
Dicas de tratamento
Utilizar produtos de limpeza suaves e evitar a lavagem excessiva da pele.
Usar protetor solar diariamente — para peles sensíveis, essa ação é imprescindível.
Evitar temperaturas extremas e vento excessivo, podendo causar ressecamento e irritação na pele.
Evitar o hábito de coçar a pele sensível, isso pode piorar a irritação e a inflamação.
Praticar técnicas de relaxamento, como ioga e meditação, para reduzir o estresse, característica que pode piorar a sensibilidade cutânea.
Procurar um dermatologista para o diagnóstico correto dos sintomas.
Evitar produtos de difícil remoção: glitter; brilhos; tintas de rosto; colas.
Ser seletivo, apenas usar maquiagens em momentos especiais.
Ao seguir essas medidas, é possível minimizar o problema da pele sensível e manter a saúde e beleza da pele. "Lembre-se que cada pessoa é única e pode responder de maneira diferente a cada tratamento, portanto, é fundamental procurar a orientação de um dermatologista para um tratamento personalizado e eficaz", resume Marcia Linhares.
Doenças de pele
Dermatite atópica: doença inflamatória crônica da pele que causa coceira intensa e vermelhidão.
Rosácea: condição inflamatória crônica da pele que afeta, principalmente, o rosto e causa vermelhidão, inchaço e lesões inflamadas.
Psoríase: doença autoimune que causa vermelhidão, descamação e lesões na pele.
Urticária: condição que causa manchas vermelhas, coceira e inchaço na pele.
Eczema: inflamação da pele que pode causar coceira, descamação, vermelhidão e inchaço.
"Essas doenças podem afetar a barreira protetora natural da pele, deixando-a mais vulnerável a irritantes externos, como produtos químicos, fragrâncias e corantes presentes em maquiagens e outros cosméticos. É importante consultar um dermatologista para um diagnóstico preciso e orientações adequadas sobre como cuidar da pele sensível e evitar reações adversas", esclarece a dermatologista Marcia Linhares.
* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte