Presença, afeto, zelo e amor. Sentimentos bonitos que, por trás de pequenas atitudes, são capazes de gerar memórias que estarão presentes eternamente no coração daqueles que as recebem, sobretudo quando vêm dos que são considerados a base de tudo — a família.
O Domingo de Páscoa, também conhecido, religiosamente, como o dia da ressurreição de Jesus, é um dos feriados mais importantes do calendário cristão. Contudo, está presente, também, na cultura de famílias que se voltam para a data com um olhar que transcende o sentido religioso.
Com o intuito de reunir a família para aproveitar o dia e desfrutar os chocolates, algumas pessoas têm a tradição de realizar um encontro familiar na data especial. Com um cronograma recheado de brincadeiras, doces e um delicioso prato tradicional da família para o almoço, é impossível não cultivar boas lembranças e apegar-se à data.
Costume mais que especial
Na família de Rosana Sousa, professora e psicopedagoga que atua há 28 anos na Secretaria de Educação do DF, o feriado de Páscoa é especial, desde a sua infância. Mãe de quatro filhos, Rosana conta que, apesar de não ter tido comemorações elaboradas quando criança, o pouco que recebia na Páscoa era suficiente para despertar deliciosas sensações que fizeram com que a professora sentisse a necessidade de acender os mesmos sentimentos nos filhos.
“Na minha infância, a gente só via chocolate, e olhe lá, na Páscoa. No decorrer do ano, não tinha. Então, realmente, o chocolate tinha um gosto muito especial”, declara a professora. Rosana costuma organizar as decorações e brincadeiras na noite que antecede o domingo. Com filhos de 22, 19, 14 e as gêmeas de 7 anos, a psicopedagoga iniciou a tradição quando os primeiros ainda eram bem pequenos.
Com direito a pegadas de coelho, feitas com farinha de trigo ou pasta de dente, a caça aos ovos é, desde sempre, motivo para ansiedade. Agora que os filhos mais velhos já estão crescidos, as gêmeas Manuela e Ana Luiza Aguilar protagonizam as artes do coelho junto ao pai, Marconi Aguilar.
Rosana relata que as gêmeas costumam ficar inquietas na noite que antecede a Páscoa, nada fora do normal para crianças que acreditam na magia do coelhinho e sabem que, a qualquer momento, ele virá para deixar rastros de suas artes e entregar os tão aguardados ovos de Páscoa. “Elas ficam ansiosas, falam que não vão dormir, que vão esperar o coelho. E, quando acordam, dizem: ‘Eu escutei um barulhinho, eu tenho certeza que era ele!"'. Iza Carvalho, a primogênita, conta que houve uma vez em que as irmãs deixaram um biscoitinho e um copinho de suco para o coelho.
A mãe conta que, em razão do alto preço, a família foge um pouco dos ovos de mercado, e aproveita a oportunidade de confeccionar os próprios ovos para criar memória afetiva dos momentos juntos: “Eu ponho várias coisas na mesa, coloco os confetes e os recheios e aí cada um vai lá e recheia seus ovos da maneira que quer. Eu acho interessante, porque é mais uma oportunidade de reunir a família e criar essas memórias”.
Para a professora, as brincadeiras com os ovos, o momento de partilha entre a família e o almoço contribuem de forma positiva para a fantasia e a imaginação das crianças. “Eu acho que isso é importante para elas, ainda mais nesse mundo caótico em que a gente está.”
Herança de gerações
Rosana explica, ainda, que, mesmo sem instruções do quão importante eram esses momentos para ela e seus irmãos, quando sua mãe, Júlia Sousa, sentava-os no chão da sala para dividir os chocolates, o sentimento despertado era muito forte e fez enorme diferença em sua vida. Por isso, ela se esforça para passar a tradição de geração para geração.
Iza, a filha mais velha, declara que pretende repassar o costume para os filhos e, para além disso, aos netos. "Isso realmente é muito importante. Quero que os meus filhos, os filhos deles, e toda geração que vier de mim, e dos meus irmãos, sintam isso também. Para mim, isso é muito valioso.”
A estudante guarda memórias únicas e especiais dos momentos pascais de sua infância e diz que, para ela, essas atitudes da família são, simplesmente, amor. “Isso é muito importante para mim, seguir as raízes da minha família, a tradição, isso é uma forma de cultuar todo o amor que foi passado, porque isso é amor!”
Rosana esclarece que, apesar da família não realizar as comemorações com cunho religioso, gosta de relembrar que o ovo simboliza uma nova vida, pelo sacrifício de Jesus. “A Páscoa acontece em um dia, mas o que ela representa, como o amor, a solidariedade, a empatia e a compaixão, podemos praticar todos os dias", ressalta a professora.
Bacalhoada de forno da vovó Júlia
Assim como as brincadeiras pascais são uma tradição para a família Sousa, o almoço do Domingo de Páscoa também tem sempre um gostinho especial. Todos os anos, a avó da família, Júlia Sousa, costuma colocar a mão na massa e usar todos os dotes culinários para agradar o paladar dos filhos e netos. A bacalhoada de forno da vó Ju costuma conquistar corações e, por isso, trouxemos a receita para que vocês consigam reproduzir em casa e tornar a Páscoa tão especial quanto a dessa família!
Ingredientes
1,5 kg de lombo de bacalhau dessalgado
3 cebolas grandes
10 batatas grandes cozidas
Azeite extravirgem
1 pimentão amarelo
1 pimentão vermelho
8 ovos cozidos
1 pacote de azeitonas verdes
10 dentes de alho laminados
Modo de preparar
Deixe o bacalhau de molho na água de um dia para o outro, depois deixe escorrer o excesso de água. Após isso, faça a montagem com os demais ingredientes em uma travessa grande, e regue com bastante azeite. Deixe 40 minutos no forno.
Criando memória afetiva
A professora universitária Mixilini Chemin e o bancário Roberto Galvan são pais da pequena Luiza, de 8 anos. A mãe explica que, quando crianças, os pais tiveram momentos especiais na Páscoa e, logo que a filha nasceu, perceberam que seria importante que a pequena também tivesse acesso às doces memórias de infância que esses momentos são capazes de proporcionar. “É uma forma de nos mantermos vivos, além da vida, nas lembranças que farão parte de quem ela é e de quem será. Só ampliamos um pouquinho o leque de tradições pascais. Criamos bagunças a mais!”, explica Mixilini.
Na casa da família, a existência do coelhinho é mais do que real, e Luiza sempre aguarda ansiosamente para saber quais serão as travessuras que ele aprontará neste ano. “Aqui, a magia da infância ainda existe nessas datas. Até porque, para ela, a mãe, ou seja eu, nunca deixaria a casa toda suja de barro… só um coelho muito arteiro! Então, a Luiza se diverte”, brinca a professora.
A decoração da casa é tarefa de mãe e filha. Mixilini e Luiza procuram galhos secos no quintal, que servirão de árvores para decorarem com ovinhos e coelhinhos. Quando o assunto é gastronomia, o papai Roberto entra em ação e, com Luiza, prepara muitas receitinhas doces que levam, além de muito chocolate, algumas — grandes — medidas de amor.
O café da manhã também é especial. A família costuma preparar uma mesa, na qual sempre está presente o bolo de cenoura com cobertura de chocolate, receita da bisavó de Mixilini. É, também, uma forma de mantê-la na memória.
Mixilini enxerga a tradição como algo muito além do que um simples momento de diversão. Para ela, as memórias cultivadas nesses momentos em família, são herança. “Precisamos encontrar meios de nos mantermos vivos na vida dos nossos filhos. E se pudermos deixar cheiros, sons, sabores, brincadeiras… Um fechar de olhos afagará o coração sempre que a saudade bater e, principalmente, quando a presença física não se fizer mais presente.”
Os pais pretendem seguir com a tradição e esperam que Luiza também continue quando tiver uma família: "Enquanto pudermos, continuaremos as tradições de Páscoa, que resolvemos começar na nossa família de três. E e que ela sirva de inspiração para nossa filha replicar e agregar mais para os nossos netos”.
Para sempre tradição
Diferente do que algumas pessoas pensam, as brincadeiras de páscoa não precisam ser resumidas, necessariamente, a um pequeno ser que acredita, fielmente, na existência de um coelho amigo que vem ao lar para entregar os ovos.
Existem famílias que, mesmo após o gosto amargo do amadurecimento, continuam a realizar momentos que, para além do lado infantil, despertam incríveis sentimentos de aconchego, cuidado, amor e união.
Angela Gomes, aposentada, é casada com Elton Gomes e, juntos, são pais de três filhos: Beatriz Gomes, 33, Isabel Gomes, 31, e Leonardo Gomes, 23.
A mãe conta que, desde quando todos eram pequenininhos, os ovos de Páscoa estavam presentes na família, mas que, por as crianças gostarem de brincar de esconde-esconde, passou a escondê-los para os filhos encontrarem. Ela explica, ainda, que, na infância, ganhava ovos, mas que os pais nunca fizeram brincadeiras típicas da Páscoa. Entretanto, para a diversão das crianças, ela decidiu começar.
Pela manhã, Angela esconde os ovos e, após o almoço, geralmente feito por Elton e Izabel, os filhos, o genro e uma sobrinha de Angela vão à procura dos ovos. Escondidos e nomeados com os nomes de cada um, o momento da caça é uma grande diversão. "Eles riem bastante, é a maior brincadeira. Quando um encontra o do irmão, ou do colega, eles escondem de novo, não deixam o outro ver e aí vão procurar os seus.” Leonardo e Beatriz contam que pretendem repassar isso para os filhos, pois consideram o momento especial e divertido.
Um dia de diversão
Ana Patrícia Archer, administradora e síndica de um prédio no Sudoeste, está organizando, juntos aos pais do condomínio, um dia inteiro de brincadeiras para as crianças. A ideia surgiu porque Ana, e as outras mães tinham, na infância, o costume de brincar de caça aos ovos, e os momentos eram importantes para elas.
Ana costuma ser a cabeça nas organizações dos eventos direcionados às crianças do prédio. Ela conversa com outras mães e, depois de definir uma data, todas se juntam para darem sugestões e colaborarem com o que sabem fazer. Ao final, é feito um rateio do valor total dos gastos.
O evento é extremamente importante para a aproximação das crianças do condomínio. “Aqui no prédio, temos em torno de 30 a 40 crianças, de 1 a 12 anos. Cada faixa etária tem o seu grupo e o evento é a oportunidade de reunir todas para uma brincadeira única”, explica a síndica.
Brincadeiras saudáveis
A psicóloga Isadora Rodrigues, que trabalha com o atendimento de crianças e adolescentes, explica que as atividades de Páscoa favorecem a interação das crianças. Ele aconselha, porém, que se invista em conversas, livros, filmes e outros recursos lúdicos que ofereçam ensinamentos sobre os valores de partilhar e preservar.
“As crianças descobrem o mundo através do brincar, por isso as brincadeiras e os eventos familiares têm tanta importância para o desenvolvimento emocional e cognitivo de cada uma delas. São essas emoções e lembranças que contribuirão com a formação de adultos seguros que repassarão a tradição para as novas gerações”, explica a profissional.
A profissional aproveita para deixar um conselho àquelas famílias que costumam se reunir na Páscoa: “Tenham momentos de reflexão, além das brincadeiras propostas. A união, escuta e entrega são fundamentais para o desenvolvimento de qualquer pessoa e poderá renovar ciclos importantes ao longo do tempo”.
Preparando a casa
Aline Silva, sócia-fundadora da Interiores Design, dá algumas dicas para quem quer decorar a casa para este domingo festivo. Ela explica que um dos principais pontos da Páscoa é a mesa, onde acontece a confraternização ou o almoço em família. “Aparadores, bufês, mesinha de centro também são locais bastante usuais, pois é especial ter a decoração à mostra assim que entramos na casa ou no apartamento.”
“Um ponto alto da decoração seria a árvore Osterbaum de galhos secos, que representa, na Páscoa, a frieza e a morte de Jesus Cristo. Enquanto isso, os ovinhos pendurados nela simbolizam a vida que brota, e a ressurreição. Essa é uma tradição alemã que adaptamos perfeitamente aqui no Brasil”, explica a especialista.
Aline esclarece que a decoração de Páscoa atual tem trazido cores mais suaves, claras e sutis. E, para quem gosta de reaproveitar, a profissional explica que é possível manter toalhas e arranjos de anos anteriores, adicionando somente algumas novidades que surgem como tendência de um ano para o outro.
De acordo com a designer de interiores, os itens queridinhos para a páscoa 2023, são: arranjos de flores,
ovinhos e coelhinhos de tamanhos e cores variadas, sousplat para mesa posta, taças e uvas como símbolo da Santa Ceia.
Que tal entrar na brincadeira?
Nayara Bittencourt, fisioterapeuta e sócia da empresa de festas Trio bagunça, dá algumas dicas de brincadeiras para a páscoa.
1. Caça aos ovos
Imprima desenhos das patinhas do coelho, recorte e cole no chão para que a criança siga o rastro até chegar ao ovo de Páscoa. Também é legal dar dicas e charadas, trabalhar com o “quente ou frio” para as crianças conseguirem encontrar o chocolate.
2. Quantos ovos têm aqui?
Os responsáveis podem colocar ovinhos/moedas de chocolate dentro de potes transparentes e pedir para a criança adivinhar quantos ovos têm no pote. Essa brincadeira distrai a garotada e ainda trabalha o cognitivo. Para crianças que ainda não têm acesso aos chocolates, as brincadeiras poderão ser feitas com cenouras.
3. Oficinas de biscoitos
Os responsáveis podem comprar forminhas em formato de coelho e cenouras. Juntos podem fazer massa de biscoito e colocá-los para assar no formato dos símbolos pascais.
4. Colorir
Imprimir desenhos relacionados à Páscoa e entregar canetinhas e lápis coloridos também é uma opção legal.
5. Crias as próprias orelhinhas de coelho
Junto aos responsáveis, a criança recortará o E.V.A, desenhará os detalhes e fará um arquinho para encaixar na cabeça. Depois, é só colar as orelhinhas no arco e usá-las. O legal da meninada participar do processo é a possibilidade de escolher as cores que quer usar, colocar glitter e colorir com canetinhas.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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