As atividades de reabilitação carregam um impacto enorme e positivo na vida do paciente. São exercícios que ajudam a minimizar deficiências, garantindo que as funções normais e de interação do indivíduo estejam em pleno funcionamento, evitando, ainda, possíveis problemas no futuro. Para esse processo, acompanhamento profissional é primordial, bem como um conjunto de técnicas e de tarefas diárias. Além disso, a modalidade é capaz de devolver sonhos e o retorno à rotina diária.
Pedro Ivo Almeida, fisioterapeuta esportivo e educador físico, explica que a reabilitação é prescrita para a restauração de alguma lesão, função ou capacidade. Por isso, cada indivíduo deve ser avaliado e seguir um cronograma de exercícios baseado em algumas condições. Nível de disfunção, grau de atividade dessa pessoa e outros fatores estão presentes nesse contexto.
A evolução do paciente, certamente, perpassa sobre a rotina seguida à risca. E para ajudar nessa jornada, a atividade física, se bem direcionada e conduzida, pode ajudar. “Ela é de extrema importância na reabilitação, bem como na manutenção do estado físico do indivíduo após todo esse processo. É importante tentar deixar o paciente o mais ativo possível dentro das suas atividades físicas, independentemente do tipo e grau da lesão”, aponta Pedro Ivo.
Um novo começo
E quando se é atleta e sua vida está sempre no mais alto nível, lesionar-se pode significar o fim de sua trajetória no esporte ou, em alguns casos, nas atividades mais simples do dia a dia. O estadunidense Brian Brewer, 59 anos, mora no Brasil há duas décadas e vivenciou de perto essa experiência. Entretanto, carrega uma história de garra e leva um propósito de vida: ajudar pessoas na reabilitação. Faixa preta em judô, corredor de média distância — 5km e 10km —, ele competia na escola, mais precisamente durante o ensino médio.
Em meados de 2005, com 43 anos, começou a sentir fortes dores ciáticas, que aumentaram a ponto de não conseguir dirigir por mais de 15 minutos. “Finalmente, fui a um ortopedista, que reconheceu esses sintomas como clássicos para hérnia do disco lombar, e fui diagnosticado com duas hérnias no L4 e L5. O médico iniciou um tratamento de fisioterapia, que deu um bom resultado com o tempo, e me pediu para parar de praticar esportes de impacto, como o judô e a corrida”, relembra.
Como dedicou boa parte da vida aos esportes, ficar parado não era uma opção para Brian. Buscou a natação como uma nova prática e válvula de escape, mas desistiu por achar a piscina um lugar monótono. Tentou o ciclismo, algo que gostava antes, mas afirma que as pedaladas não conseguiam dar o mesmo resultado físico que uma corrida. Ele precisaria se desdobrar ainda mais para fazer dar certo. “Também comecei a ter problemas de discos no pescoço e dormência nas mãos pela posição do corpo. Tive que buscar outra solução de exercícios de rotina”, conta.
Surgimento da bike
Foi em uma academia de hotel em que estava hospedado onde experimentou um aparelho chamado “elíptico”, que simula o passo humano e tem um bom desgaste calórico, equivalente ao da corrida. Uma máquina que, segundo ele, condiciona bem a musculatura. Mas, ainda sim, era chato de fazer parado e olhando para a parede.
“Quando eu fazia uma corrida na rua, minha mente voava e meu corpo operava quase em automático, mas num transporte de academia, sem a paisagem para olhar nem o vento na cara, tive que me concentrar e me forçar a terminar o treino. Era algo árduo, mas eu pensei que poderia ser perfeito se estivesse montado em rodas e na rua — o que eu comecei a fazer. Levou alguns anos e muitos protótipos para chegar ao ERM, e valeu a pena”, afirma o atleta.
O OnEll ERM (Elliptical Road Machine) é uma máquina elíptica sobre rodas criada por Brian. Feito para levar o treino elíptico para a rua, ele traz todos os benefícios de um transporte de academia para curtir seu treino ao ar livre. Há estudos recentes do Harvard Medical School que demonstram que a eficácia de uma máquina elíptica é melhor do que a corrida de velocidade média, tudo sem impacto, nascendo com o objetivo de auxiliar vários atletas. Hoje, além de atleta, Brian é engenheiro e inventor com muitas patentes no INPI e no mundo afora
Força e superação
Triatleta aposentado desde 2005, Leandro Macedo, 54, é um desses relatos que corroboram a importância da reabilitação. Sete anos depois de largar o mundo das competições, deixar os esportes não era tarefa fácil. Muito pelo contrário, Leandro conseguia se dedicar a outras atividades de lazer. Em um desses momentos descontraídos, jogando futevôlei com os amigos, caiu com a perna direita totalmente esticada. De início, sentiu uma pancada que se arrastou do pé até o fêmur.
“Continuei jogando e, somente após esfriar, percebi que fiquei meio entrevado. Fui diagnosticado com artrose do quadril. Quando fiz o raios-x dos dois quadris, percebemos que eu tinha uma constituição óssea da cabeça do fêmur que favorecia à artrose”, recorda-se. Enquanto profissional, ele descreve que nunca havia se lesionado gravemente, pois ouvia os sinais do corpo e sempre fortalecia a musculatura, com massagens e alongamentos.
Leandro esperou cinco longos anos para se submeter a cirurgia no quadril. Depois de relutar e tentar amenizar as dores na fisioterapia, entendeu que o procedimento era o melhor a se fazer, já que o problema não era mais muscular e, sim, a falta de cartilagem nos ossos. Após a operação, permaneceu duas semanas internado. Em seguida, veio a fisioterapia, com um planejamento mais cauteloso e conservador.
Na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, onde fez a cirurgia, começou a pedalar em uma bike ergométrica, com algumas restrições de angulação do quadril. “Depois de um mês de cirurgia, fui apresentado ao Brian. Adorei a proposta da bike elíptica e, com aval do meu fisioterapeuta, inseri no meu plano de recuperação. A partir daí, o processo ficou muito mais divertido e eficiente”, comenta Leandro.
O começo foi bem conservador, pedalando 15 minutos, em média. Ao longo do tempo, a evolução apareceu, indo de 30 minutos a 1 hora. Obviamente a bike elíptica não substitui a tradicional, mas fica no meio termo, de acordo com Leandro. O aparelho é capaz de fortalecer diversas partes do corpo, como panturrilha, quadríceps e glúteos. ”Nessa pedalada, o ângulo do quadril e do joelho não são tão fechados quanto na bike tradicional, e isso é ótimo para quem tem alguma restrição de angulação nessas articulações ou para quem quer evitar alto impacto como o da corrida”, explica.
Com isso, de pouco em pouco, conseguiu recuperar a musculatura perdida na cirurgia. E, ao mesmo tempo, ia se preparando para voltar a correr. Graças ao empenho, Leandro voltou a participar de aquathlons, ciclismo e triathlons. De vez em quando, ainda arrisca no futevôlei. Tudo com moderação e fortalecimento. Daqui pra frente ele revela que o sonho é fazer uma prova longa de triathlon. Entretanto, só de estar ativo e de praticar esportes, sente-se grato e abençoado.
Quais os principais exercícios para ajudar?
Professor com PhD e fisioterapeuta, Thiago Fukuda recomenda, além da fisioterapia preventiva, pilates, musculação, treino funcional, caminhadas ou corridas. Opções como a hidroginástica e natação também colaboram durante o tratamento. De acordo com ele, o mais importante é achar o tipo de atividade física que dê prazer e socialize, de forma a realizá-la de forma constante e com qualidade.
“Normalmente exercícios específicos podem ser realizados duas a três vezes por semana para atingirem objetivos de estabilidade articular e manutenção da condição muscular. Entretanto, caso sejam realizados em grupos musculares diferentes, podem ser realizados diariamente”, finaliza.
E não somente as atividades no geral podem auxiliar nessa busca pela volta à normalidade. O especialista ressalta que o esporte, se bem orientado, aparece como uma forma de auxiliar ainda mais o paciente. A prática colabora, segundo ele, trazendo benefícios cardiovasculares, musculoesqueléticos e mentais.
A bike ajuda:
— Pessoas ativas com problemas ortopédicos;
— Fisioterapeutas e treinadores que usam transportes para recuperar atletas voltando de lesões;
— Pessoas que gostam de treinar na elíptica de academia e que gostariam de levar esse treino estático para a rua;
— Triatletas que precisam encurtar o tempo do seu treino e treinar subidas;
— Maratonistas que precisam diminuir o impacto do treino entre provas para não se lesionar antes de uma prova importante.
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