Encontro com o Chef

Encontro de gerações exalta força do empreendedorismo feminino na confeitaria

Apesar da diferença de idade, confeiteiras compartilham a paixão pelos doces e as receitas de família

Sibele Negromonte
postado em 30/03/2023 10:31 / atualizado em 30/03/2023 11:12
 (crédito: Sibele Negromonte)
(crédito: Sibele Negromonte)

Cecília Falcão se lembra com carinho do dia em que foi visitar a família de Amanda Figueiredo e a então garotinha preparou um salmão para o almoço. “Ela tinha uns 10 anos e ficava toda preocupada, perguntando se eu tinha gostado”, recorda-se Cecília. E não é à toa que a menina queria tanto agradar a “tia”, afinal, ela, que tem mais de duas décadas de experiência como confeiteira profissional, era sua referência quando o assunto é gastronomia.

Hoje, aos 26 anos, Amanda não só conversa de igual para igual com Cecília, quando o assunto são doces e afins, como também se tornou confeiteira e toca o próprio negócio. Nascida em Cuiabá, Cecília é amiga de infância do pai de Amanda, também mato-grossense. Já a jovem nasceu em Brasília, mas carrega consigo muito da tradição culinária dos antepassados.

Tanto que, neste mês da mulher, elas decidiram fazer uma ação conjunta: gravaram um vídeo em que Cecília ensina Amanda a preparar uma espécie de biscoito típico do Mato Grosso, o bolo de queijo, cuja receita elas compartilham também com os leitores da coluna. A gravação foi publicada nos perfis profissionais das duas confeiteiras no Instagram (@docesceciliafalcao e @mandiedoceria).

A ação foi uma forma que as doceiras encontraram para exaltar a força do empreendedorismo feminino em uma área até hoje pouco valorizada. “E mostramos que não existe isso de competição, tem mercado para todas. Precisamos, sim, nos unir”, ressaltam.

Assim como Amanda, Cecília começou a cozinhar ainda muito cedo, com uns 7 anos. Aos 14, já preparava os bolos das festas da família e ficava ansiosa pelos elogios, que sempre vinham. Casou-se aos 18, formou-se em pedagogia, teve três filhos e, nesse período, a paixão pela confeitaria só cresceu. Fez diversos cursos e, quando estava grávida do filho caçula, teve a primeira encomenda profissional: preparar os doces do casamento da filha de uma amiga da mãe. A partir daí, não parou mais. Hoje, seu nome é conhecido na cidade por fazer doces delicados e saborosos.

Desafios

Durante a pandemia, a mato-grossense quase desistiu dos doces. com a suspensão dos eventos, de repente, viu-se sem trabalho. Precisou se reinventar. A filha do meio, que é engenheira, decidiu se tornar sócia da mãe e, juntas, pensaram em estratégias para driblar a crise. Criaram, então, a bag cafezinho, com quatro opções de bolo — banana, laranja, coco e chocolate —, casadinho, biscoito de castanha-do-Pará, pirulito e francisquito, doces típicos do Mato Grosso. “Tudo ia lindamente organizado em uma sacola. Vendemos muitas durante a quarentena.”

No São João, festa preferida de Cecília, ela preparou uma caixa que reproduzia, em desenho, o casarão que a avó, conhecida por Bem bem, morava, em Cuiabá. Dentro iam todas as delícias típicas dos festejos juninos. “Esse projeto me deixou muito emocionada, pois era na casa da minha avó onde as mulheres se reuniam para produzir os biscoitos que abasteciam a tradicional festa de São Benedito”, recorda-se.

O maior desafio mesmo para a veterana foi abrir um espaço para concentrar toda a produção — antes, ela preparava tudo em casa —, em plena pandemia, na Asa Sul. Hoje, o ateliê funciona a todo vapor, inclusive com o fornecimento de alguns bolos para pronta-entrega. Além das festas de casamento, seu carro-chefe, Cecília aceita encomendas para bolos e doces diversos, dos tradicionais aos autorais. Um dos seus diferenciais é o uso de frutas, sempre frescas, na confecção das delícias. “Preparo um doce de limão recheado com doce de leite, cujas frutas são plantadas especialmente para mim, em Mato Grosso. Os limões vêm em um tamanho uniforme e específico.”

Bolo de queijo, típico do Mato Grosso
Bolo de queijo, típico do Mato Grosso (foto: Arquivo pessoal)

Se para Cecília a pandemia foi sinônimo de reinvenção, para Amanda, significou começo. Foi durante o período de confinamento que a jovem de 26 anos tomou coragem para largar o emprego e abrir a própria confeitaria. A brasiliense até tentou seguir outra profissão. Estudou um ano e meio de direito, mas largou a faculdade para ingressar no curso de gastronomia, apesar do receio da família. “Ainda é uma área muito desvalorizada. Mas minha mãe me apoiou incondicionalmente.”

Durante a quarentena, trabalhando e fazendo uma segunda graduação — de administração — a distância, Amanda decidiu criar uma torta de maçã com massa sucrée. Postou a foto no Instagram e logo recebeu encomendas. “A torta viralizou de tal forma que, em um mês, vendi 210 unidades, todas feitas na cozinha da minha casa”, relembra. “Em dois meses, minha conta no Instagram tinha ganhado 2 mil seguidores.”

A jovem confeiteira viu que era possível viver da sua paixão. Em fevereiro do ano passado, criou formalmente a Mandiê, um ateliê no Lago Sul. Amanda gosta de trabalhar com doces tradicionais e tortas, principalmente, com massa sucrée. Hoje, fornece seus produtos para cafés, escritórios e clínicas da cidade. “Meu nicho é o fornecimento para empresas, mas também recebo encomendas com, no mínimo, 24 horas de antecedência.”

Ao contrário de Cecília, que passa horas produzindo flores de açúcar para decorar os seus bolos perfeitamente confeitados, Amanda conta que não tem tanta habilidade manual e suas tortas são mais rústicas e caseiras. “Estou sempre experimentando novas receitas. Cozinha é um teste. Recentemente, testei quatro receitas até chegar à receita que será o carro-chefe da Páscoa: uma chesse cake basca. Ela é servida no próprio papel-manteiga em que foi assada”, detalha. Para a Páscoa, Cecília também comercializa ovos de chocolate com recheios diversos.

Durante o bate-papo informal, tia e sobrinha trocam experiências sobre receitas perpetuam a tradição, cada uma a seu jeito, dos doces caseiros.

Bolo de queijo

Ingredientes

500g de polvilho
500g de queijo curado ralado
150g de manteiga
Entre 7 e 8 ovos
1 colher de sopa de fermento

Modo de fazer

Misture o polvilho com queijo, manteiga e os ovos até dar ponto de enrolar. Por último, acrescente o fermento. Enrole como uma coxinha e faça um furo na parte mais gordinha. Ass por aproximadamente 20 minutos, ou até que fiquem ligeiramente dourados, em forno preaquecido.

Serviço

Cecília Falcão
Instagram: @docesceciliafalcao
Ateliê: CLS 315, Bloco B, Loja 27, Asa Sul

Amanda Figueiredo
Instagram: @mandiedoceria
Ateliê: SHIS QI 7, Bloco D, Sala 3, Lago Sul

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    Revista - Encontro com o chef - confeiteiras Amanda Figueiredo e Cecília Falcão Foto: Sibele Negromonte
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    Bolo de queijo, típico do Mato Grosso Foto: Arquivo pessoal
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