Ah, o cheirinho de café… quantas memórias podem ser associadas ao aroma? Para alguns, tal essência remete ao aconchego, ao fim de tarde e à casa de avó; para outros, às demandas do trabalho, à correria do dia a dia e às noites mal dormidas. Para certas pessoas, ainda, refere-se a ambas as situações. Isso porque entre um sopro e um gole, o café está em tudo, inúmeros contextos e momentos, não somente para os adultos.
Muitas crianças crescem vendo os pais tomarem a bebida e se interessam. Por vezes, experimentam e gostam. Outras não gostam, mas apreciam a sensação de “gente grande” que a xícara em mãos provoca. Há, também, adolescentes que, diante da urgência da hiperconectividade, se veem incentivados a entrar no ritmo da aceleração, no qual as dicas tradicionais de produtividade já não funcionam. É preciso encontrar uma substância que dê mais energia: a cafeína.
Mas, atenção, o café não é recomendado para crianças menores de dois anos, conforme alertou a nutricionista infantil Sabrina Galdino. Antes dessa idade, a cafeína pode atrapalhar o sono, já que ainda não é metabolizada pelos pequenos.
Após os dois anos, até pode fazer parte da alimentação, desde que em quantidade reduzida e acompanhada do leite, pois há o risco de alterar a pressão arterial e a frequência cardíaca. No geral, a ingestão de café deve ser limitada até o final da adolescência.
Vitor Prata, nutricionista infanto-juvenil, acrescenta que o consumo de cafeína entre crianças e adolescentes brasileiros está acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (2,5 mg/kg/dia, para o público de 4 a 12 anos), segundo estudo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, em 2016.
Além disso, o uso de bebidas energéticas, que muitas vezes contêm a substância, é comum e pode levar a efeitos adversos, como taquicardia, insônia e nervosismo. O risco de obesidade também é uma das consequências do consumo geral da cafeína.
Nesse contexto, evidentemente, o café não é o maior vilão. “Refrigerantes de cola, chocolates, energéticos e determinados chás, como o mate e o preto, também possuem a tal substância e, ingeridos de forma indiscriminada, são igualmente prejudiciais”, lembra Sabrina.
De toda maneira, se os pequenos apreciam essas bebidas, é recomendado que optem por consumi-las segundo o limite indicado pela OMS e pela manhã, visto que a cafeína pode ficar no organismo por cerca de seis horas. Para as grávidas e as lactantes, as orientações são semelhantes — evitar ou diminuir a ingestão — em vista da saúde dos bebês.
E o café com leite ou o descafeinado, são menos prejudiciais? Se comparado ao café comum, que contém altos níveis de cafeína, sim. Porém, ainda possuem a substância em quantidades significativas e, portanto, caso sejam consumidos em excesso, também apresentam efeitos negativos.
Entusiasta da bebida
A estudante de geologia Letícia Albernaz, 20 anos, não se lembra exatamente com qual idade despertou seu gosto por café, porém recorda que, ainda muito criança, ao acompanhar a mãe no trabalho, gostava de observar as pessoas tomando café na copa, onde ficava. Lá, começou a experimentar a bebida com — muito — açúcar. “Eu me sentia muito adulta e fingia estar trabalhando”, conta, aos risos. “Minha mãe regulava a quantidade, mas percebo que foi neste momento que meu vício começou.”
O que a jovem mais aprecia na bebida é o hábito de parar e curtir o momento e o sabor. Com o tempo, aliás, aprendeu a consumi-la sem açúcar, não tão quente, pura ou do tipo “cold brew”, conhecido como o café gelado. No que tange à frequência do consumo, reconhece que, hoje, consegue regular melhor, ingerindo no máximo duas xícaras por dia, de manhã e após o almoço.
No ensino médio, entretanto, o vício em café, alimentado pela tensão do vestibular, causava-lhe ansiedade. Certa vez, em um pico de irritação e estresse, percebeu que a cafeína poderia estar por trás dos sintomas. Foi hora de parar. “Vez ou outra, ainda me vejo ansiosa com o trabalho e acabo bebendo mais café do que deveria. Então, tento me frear e tomar mais água. Ultimamente, também tenho tomado mais chás, de camomila ou maracujá”, explica.
Saiba Mais
Alerta aos pais
De acordo com o nutricionista infanto-juvenil Vitor Prata, há contextos de saúde em que os pequenos não devem, de forma alguma, consumir cafeína, são eles: transtornos de ansiedade ou transtornos do sono, gastrite, refluxo gastroesofágico e doenças cardiovasculares. “É importante ressaltar que qualquer alteração na dieta de crianças e adolescentes deve ser feita sob orientação de um profissional de saúde, como um pediatra ou nutricionista”, completa.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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