Chega o dia daquele evento importante, do encontro tão esperado e da reunião decisiva. Na hora de se aprontar, desespero. Em meio a uma montanha de roupas e sapatos — muitos, sequer usados — é possível escutar: "Não tenho nada para vestir!". Em um misto de frustração e conforto, o look escolhido não apenas cobre o corpo, mas também traz confiança. E, adivinha? A composição foi repetida tantas vezes que já possui marcas do tempo.
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A calça branca de alfaiataria é a peça preferida de Pati Herzog. Nos três looks, mesmo repetindo-a, consegue passar mensagens distintas Arquivo pessoal -
As opções que Ana Maria Moreira escolheu alternam entre looks mais despojados, com a saia e o vestido, e uma composição mais formal, com a calça de alfaiataria Arquivo pessoal
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No Blog Repete Roupa, várias possibilidades de composição com uma única peça Divulgação/Repete Roupa
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Possibilidade de looks diversos com o mesmo macacão Divulgação/Maya Marx
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Ana Maria com a camisa branca de linho e algodão que usou para montar os looks Arquivo pessoal
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Armário cápsula e minimalista de Pati Herzog Arquivo pessoal
Para muitas, essa situação é recorrente e motivo de perda de tempo. O incômodo não está em repetir os looks (que, evidentemente, devem ser usados novamente), mas no que fazer com todas as outras peças que parecem não se encaixar no seu estilo. Em terra de fast fashion, seguir tendências sai caro para o bolso e para o meio ambiente. As condições precárias de trabalho em muitas empresas do meio são o plus.
Por isso, considerar novas formas de consumo pode ser um alento para todos. A ideia do armário cápsula, por exemplo, propõe que consigamos usar nossas roupas de forma estratégica, com maiores possibilidades e sem desperdício. Normalmente, são vestimentas atemporais, com materiais de qualidade e que combinam entre si.
"O objetivo é que possamos aproveitar ao máximo as peças que temos. Trata-se de um armário funcional e prático", explica a consultora de moda Thais Campelo. Entre os benefícios, pode-se citar: a redução de gastos, o ganho de tempo, o estímulo à criatividade e o consumo mais sustentável. Mas, afinal, por onde começar?
Para a designer de moda Mirelly Cruz, o primeiro passo é o autoconhecimento. Entender o seu estilo é primordial para tomar qualquer decisão em relação às suas roupas. A partir daí, é possível filtrar as peças que são usadas com mais frequência, aquelas que já não contemplam sua personalidade e, principalmente, aquelas que nunca vestiu. Para essas últimas, desapegue!
Não existe fórmula secreta
Muito se discute sobre a quantidade ideal de peças que o armário cápsula deve conter, além de quais roupas são indispensáveis no guarda-roupa. Fato é que não existe fórmula secreta, visto que as vestimentas essenciais para você podem não abarcar as necessidades de outra pessoa.
"Tudo depende do contexto social, da rotina, da personalidade, da cidade em que vive, entre outros fatores. Por isso, digo que é tão importante compreender o próprio estilo", resume Mirelly. Em concordância, Thais lembra que tipificar peças essenciais a todas pode ser um equívoco, dada a variabilidade de gostos. "Sempre dizem que a camisa branca é uma roupa coringa. Para mim, ela nunca fez falta", completa a consultora.
E engana-se quem pensa que aderir à prática significa montar composições monótonas ou sem graça. Pelo contrário. Saber combinar peças com padronagens, estampas e tecidos diferentes exige criatividade e autenticidade. Muitas vezes, é esse olhar mais receptivo que permite enxergar a versatilidade de um vestido que ora pode ser blusa, ora pode ser saia. Tudo depende da composição. Se o resultado lhe agrada, é o que importa.
Dicas preciosas
- Observe o seu armário e selecione as peças que mais utiliza. Questione-se quais roupas ali disponíveis combinam e são melhor aproveitadas juntas.
- Para cada parte de baixo (saia, short ou calça) que deixa entrar em seu guarda-roupa, procure combiná-la com, no mínimo, três partes de cima, garantindo versatilidade.
- Se estiver com dúvidas em como compor um look com peças estampadas ou coloridas, pense nas cores de forma isolada e invista em roupas nesse tom.
Uma peça, várias composições
A secretária executiva Ana Maria Moreira começou a se interessar pelo universo do armário cápsula quando a angústia de abrir o guarda-roupa cheio de roupas não usadas passou a lhe consumir. “Observei que sempre vestia as mesmas peças durante a semana para ir ao trabalho. Percebi que, por não saber fazer as combinações devidas, nem compreender qual o meu estilo, as demais roupas sobraram”, recorda-se.
Ainda hoje, tem dificuldades para definir o seu estilo, mas reconhece gostar de peças que se diferenciam nos detalhes — um bordado aqui, uma barra de calça alternativa ali. Por isso, o primeiro passo que teve em busca do armário funcional foi desapegar do que há tempos estava parado. Dos saltos altíssimos, despediu-se. Criou com a irmã, Bruna Moreira, o virtual Reutiliza Brechó.
Em suas pesquisas e estudos sobre o assunto, aprendeu também a fazer compras mais assertivas, peças melhores e mais duráveis, além de conseguir reduzir esses gastos e ganhar tempo. Entre as roupas que não abre mão, em vista da versatilidade, elege os vestidos, os macacões, uma camisa com um corte interessante e uma boa calça de alfaiataria.
Para a turismóloga e stylist Pati Herzog, o conceito de “menos é mais”, levado a sério em seu estilo de vida minimalista, abrange também seus looks. “Como consumir menos e viver melhor?” foi o questionamento que mais lhe impulsionou a adotar o armário cápsula, visto que exige consciência do que realmente é essencial.
Suas composições são diversas, versáteis e com o mínimo de peças; todas na cor branca ou em tons claros e pastéis, característica que, segundo ela, reduz a necessidade de ter muitos acessórios, pois os que já tem são suficientes e combinam com suas roupas.
“Não abro mão de ter, em meu acervo, peças sem prazo de validade, que possam me acompanhar em várias fases da vida”, comenta. Um armário cápsula perfeito para Pati deve conter alfaiataria, com um bom caimento, em especial a calça, além de biquínis e chapéu.
Revista do Correio
Para conhecer mais
Com o blog Repete Roupa, que acumula mais de 25 mil seguidores em sua página no Instagram, a professora de inglês Melody Erlea escreve sobre cinema, música e história, sobretudo quando esses temas estão ligados à moda. Lá, compartilha possibilidades de looks diversos com as mesmas peças, além de mostrar personalidades da cultura pop que fazem o mesmo de forma criativa e autêntica.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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