Mesmo ainda sendo um assunto polêmico e de diferentes opiniões sobre o uso em humanos, a cannabis medicinal já é realidade na medicina veterinária, mais precisamente no tratamento de doenças caninas. As opções terapêuticas são diversas, desde problemas comportamentais, como ansiedade, câncer, Alzheimer canino e até doenças crônicas.
Os irmãos Tuca e Paco, cães da raça maltês, fazem tratamento com canabidiol. Paco tem dermatite e otite, além de ser muito agitado, e Tuca foi diagnosticada com declínio cognitivo há dois meses. "Ela estava muito letárgica, desorientada, ficava perdida dentro de casa ou olhando para a parede, não queria mais passear, estava em uma situação bem triste" afirma a tutora do bichinhos, a assessora parlamentar Simone Abraão.
"Começamos o tratamento com um óleo rico em canabidiol, prescrito pela médica veterinária que acompanha o caso. Tuca melhorou muito, está comendo bem e voltou a passear e a interagir já na primeira semana de uso. Paco também se beneficiou com o uso e está bem mais calmo", detalha a assessora.
A cannabis possui propriedades antiepiléptica, analgésica, anti-inflamatória, neuroprotetora e consegue modular as respostas fisiológicas para que o organismo permaneça em equilíbrio sem efeitos colaterais importantes. Os componentes presentes na planta conseguem modular o sono, a memória, a fome, agir contra processos inflamatórios, diminuir o estresse, regular reações alérgicas, diminuir a dor de forma efetiva, entre diversos outros benefícios.
De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), em razão da ausência de uma legislação que ampare a prescrição desses produtos à base de cannabis, a recomendação é que, antes de prescrever o tratamento com seus derivados, o médico veterinário delimite de maneira objetiva o diagnóstico do paciente, e leve o caso ao judiciário para que obtenha uma autorização judicial para realizar a autorização necessária ao tratamento.
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Lei em território nacional
No Brasil, diversos veterinários e tutores já estão aderindo a substâncias à base de canabinoides para tratar de convulsões e dores dos animais. Contudo, com a proibição genérica da cannabis no país, os interessados precisam recorrer a associações de pacientes que já produzem o óleo para uso humano. Ainda é vedado ao veterinário prescrever um medicamento não registrado no órgão competente — atualmente, tramitam na Câmara dos Deputados, os projetos de lei nº 369/2021 e nº 3.790/2021 que buscam regulamentar e permitir o uso veterinário dos canabinoides no Brasil.
Caso as proposições sejam aprovadas, tornando-se lei, vão possibilitar, entre outras coisas, a importação e o uso de produtos à base de cannabis para os pets, desde que destinados à medicina veterinária. Os especialistas, no entanto, não têm autorização para importar Cannabis, por isso a substância prescrita vem das associações de pacientes, que produzem o remédio com a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A médica veterinária Vanessa Seabra, que atende também no Distrito Federal, explica que, hoje, o Brasil conta com mais de 40 associações que desenvolvem cannabis medicinal, inclusive para pets. A partir do contato com essas instituições, os tutores compram a cannabis que será aplicada, de acordo com a receita do paciente. "As medicações são super de qualidade e testadas, então sabemos o que vamos dar (certo). Além disso, são medicações até mais completas que as importadas", analisa.
A maneira correta para o tratamento é sempre com a orientação de um profissional com conhecimento do assunto. É necessário analisar desde o comportamento até a alimentação do animal, pois a cannabis tem interação com diversas substâncias que podem ser benéficas ou não para a resposta terapêutica desejada. "Os cães, por exemplo, possuem uma maior densidade do receptor de cannabis no hipocampo e cerebelo, levando a uma resposta exacerbada do Tetra-Hidrocarbinol (THC), podendo gerar ataxia estática quando não é dosado corretamente" acrescenta Vanessa.
A ataxia estática pode ser definida como um sinal de disfunção sensorial que produz instabilidade ou descoordenação dos membros. "Cada paciente terá uma resposta a medicação, portanto não há um protocolo específico, cada caso é analisado individualmente, geralmente as medicações são de associações de pacientes que produzem o óleo, e apesar da usarmos outras vias, a mais comum é via oral. Além do uso medicinal, a planta pode ser usada, também, como suplementação animal tanto para pets quanto para animais de produção, sendo uma fonte de vitaminas, minerais e aminoácidos em proporções perfeitas para suplementar deficiências nutricionais e do organismo dos pacientes" complementa a médica veterinária.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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