Dos 4 aos 10 anos de idade, período em que seus pais tiveram uma padaria em Teresina, no Piauí, Flávio Braga praticamente morou no local. A mãe colocava um colchonete no chão da cozinha e, dali, ele e o irmão mais novo "viam a mágica acontecer", como o rapaz define o processo de fabricação dos pães, bolos e doces.
Com o fechamento da padaria, a mãe de Flávio passou a fazer doces e bolos sob encomenda e logo ganhou o filho como ajudante. "Eu a via confeitando bolo e achava a coisa mais linda. E ela sempre me incentivava, dando um dinheirinho para eu ir ao shopping, em troca da minha ajuda", recorda-se.
A paixão pelas panelas era tanta que Flávio não tinha nenhuma dúvida de que faria faculdade de gastronomia. Mas aí ele esbarrou em um percalço: falta de recursos financeiros para bancar o curso. Um infortúnio, porém, acabou se tornando a solução para o problema. Sua avó materna, dona Dolores, morreu e, com a herança, o neto pôde pagar pelos estudos.
"Minha avó morava no Recife e, todas as férias, eu ia para lá. Quando chegava, o sorvete preparado por ela já estava no pote. Os biscoitos e os bolos eram deliciosos", emociona-se. E dona Dolores estava sempre compartilhando suas criações com as filhas e, depois, com o neto, que herdou dela o caderninho de receitas. "Ela me deu antes de morrer."
E a herança de dona Dolores beneficiou não só Flávio, mas a mãe dele também. Dona Glória sempre sonhou em fazer gastronomia, mas achava-se velha para voltar aos estudos. O filho, então, decidiu fazer uma surpresa. Sem que ela soubesse, a inscreveu no vestibular. Os dois fizeram a prova juntos e passaram. A mãe tinha, então, 56 anos.
"Combinei com minha mãe que, da catraca para dentro da universidade, seríamos apenas colegas. A relação mãe e filho ficaria apenas para fora", conta. Mas logo na primeira semana de aula, dona Glória, diante de uma sala lotada, chamou Flávio de filho e todos descobriram o "segredinho" deles. "Todo mundo achou a coisa mais linda", diverte-se.
As finanças, porém, começaram a apertar e Flávio encontrou a solução para continuar bancando os estudos: ele e a mãe passaram a fazer salgados para vender aos colegas. Em pouco tempo, tinham uma clientela cativa, mas a direção da faculdade proibiu a comercialização em sala de aula. A solução encontrada foi fornecer para a cantina da instituição.
O piauiense também levou seus salgados para uma lanchonete em uma clínica médica, eles amaram o produto, e mãe e filho se tornaram fornecedores de coxinhas, esfihas, pastéis, empadas e tantas outras delícias. A partir daí, o negócio deslanchou de vez. "Teve uma época em que fornecemos salgados para 27 clínicas", diz.
O sucesso foi tanto que o pai e o irmão também tiveram que entrar no negócio. "Acordávamos de madrugada para preparar tudo fresquinho. Minha mãe ficava responsável pela massa e o pão; eu pela fritura e a entrega; o meu pai pelo corte dos salgados; e meu irmão por assar os produtos", detalha. Foi com o dinheiro da empresa familiar que eles conseguiram pagar a faculdade de Flávio e de dona Glória e o curso de direito do irmão caçula.
Na capital
Mas aí veio a pandemia e tudo parou. O piauiense decidiu, então, largar tudo para correr atrás de um outro sonho: fazer uma especialização em confeitaria. "Minhas opções eram Recife, Fortaleza ou Brasília." Como tem um primo que não só mora na capital como também é dono de um restaurante, o Bla's, na 406 Norte, Flávio desembarcou, no ano passado, em terras candangas. "O Gabriel (Blas, chef e dono do restaurante) me deu todo o apoio. Passei um tempo morando com ele e me tornei o chef de patisserie do Bla's", conta.
Durante nove meses, conciliou os estudos com a função no restaurante. Mas decidiu que estava na hora de trilhar um novo caminho com os próprios passos. Flávio, que tinha o caderninho de receitas da dona Dolores guardado, resolveu preparar as receitas de biscoitos caseiros dela e comercializá-los. Surgia, assim, a Biscoitos Vó Dolores.
O piauiense produz sete tipos de biscoitos doces e salgados na cozinha da própria casa. Quando as encomendas apertam, usa a cozinha do Bla's para intensificar a produção. O carro-chefe é o casadinho de queijo, recheado com brigadeiro de requeijão. Os clássicos, com recheio de goiaba e o amanteigado, cuja receita o confeiteiro compartilha com os leitores da coluna, também são sucesso garantido — assim como os de laranja e os de maisena com chocolate meio amargo.
Como a vida não anda fácil pra ninguém. Flávio trabalha também como motorista de aplicativo para complementar a renda. "Sempre converso com os clientes, conto minha história, dou uns biscoitos para que eles degustem e, ao fim da corrida, a maioria acaba comprando uns saquinhos", diverte-se. Além de aceitar encomendas, o piauiense disponibiliza os biscoitos para venda no Bla's Restaurante.
O rapaz, agora, sonha em abrir a própria confeitaria. "Quero que as pessoas voltem à infância, que os meus biscoitos tragam memória afetiva." Assim como o próprio piauiense ativa, diariamente, as lembranças da avó. Afinal, foi graças a ela que Flávio conseguiu realizar o sonho de ser confeiteiro.
Biscoito amanteigado
Ingredientes
•200g de manteiga (em ponto de pomada)
•1 ovo
•200g de açúcar refinado
•400g de farinha de trigo
•1 colher de sopa de essência de baunilha
Modo de preparar
•Todos os ingredientes devem estar em temperatura ambiente e os ingredientes secos precisam ser peneirados.
•Na batedeira, usando a pá do tipo raquete, bata a manteiga com o açúcar, em velocidade baixa. Assim que virar um creme, adicione o ovo e a essência de sua preferência.
•Bata até ficar um creme homogêneo, por mais ou menos um minuto. Depois, adicione a farinha de trigo peneirada e bata só para misturar.
•Leve a massa para a geladeira por uma hora. Depois disso, já pode abri-la.
•Para biscoitos decorados, antes de assar a massa, o ideal é refrigerá-la cortada (no tabuleiro) por 20 minutos. Se quiser, leve ao congelador por 10 minutos.
•Asse os biscoitos no forno pré-aquecido a 180 graus. Eles levam de 10 a 15 minutos para assar e ficam prontos quando as bordas começarem a ficar levemente douradas.
•Após frios, guarde os biscoitos em potes bem fechados. Sugiro que guarde em latas e forre com papel manteiga. Dessa forma, mantém o biscoito crocante e gostoso.
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