A árdua conquista dos direitos trabalhistas em meados do século 19 trouxe à tona os conceitos de férias e recessos. Muitos fatores como acidentes de trabalho ou diminuição da qualidade de produção demoraram para comprovar que trabalhadores cansados não produziam ao seu máximo.
Assim também como não se sabe uma data exata da criação das redes de descanso, que tinham função diferente das camas ou redes de dormir. Porém, sabe-se de uma origem indígena que mais tarde foi adaptada aos europeus. Hoje, mesmo com direitos trabalhistas e redes de descanso, presenciamos uma população extremamente cansada. O bombardeio de informações constantes, o ritmo acelerado do dia a dia, a cobrança e a comparação são apenas a ponta do "iceberg".
O surgimento de doenças autoimunes e o desenvolvimento de problemas digestivos são consequências físicas desses hábitos. Quanto à saúde mental, não desligar nunca pode levar ao surgimento de transtornos, tanto ansiosos quanto depressivos, impactos severos e crônicos no padrão do sono e burnout, como explica Ana Bodanese (@anabodanese), psicóloga clínica especializada em terapia cognitivo-comportamental.
As férias, os recessos e os feriados devem ser aproveitados. "Com o descanso, nossa cognição se torna mais precisa, tendemos a agir menos por impulso e a avaliar com maior eficiência os riscos envolvidos em tudo o que fazemos, os nossos reflexos ficam mais aguçados e nos envolvemos menos em acidentes," explica a psicóloga. Que tal aproveitar o feriadão de carnaval para pôr tudo isso em prática?
Como identificar o cansaço
É preciso ficar atento aos sinais que o corpo dá nesses momentos ,a fim de evitar que se desenvolvam problemas que limitem sua capacidade de conseguir produzir e viver bem. Para a psicóloga Ana Bodanese, eles são sutis e vagos e se caracterizam como "cansaço mental".
Alguns sinais do estresse prolongado
-Aumento da irritabilidade
- Dificuldade de concentração
- Episódios de afasia, que é a dificuldade de se comunicar, levando ao esquecimento de palavras específicas, nomes, etc.
- Insônia
- Alteração do apetite
- Excesso de tensão muscular na região dos ombros e do pescoço
- Dores na mandíbula e enxaquecas
- Problemas gástricos e casos repetidos de infecções fúngicas.
Pausas necessárias
Para as pessoas que se sentem sobrecarregadas, tornando o descanso inviável, é importante ressaltar uma programação eficiente. "A nossa ilusão é de que só devemos descansar quando não estamos trabalhando, aos finais de semana ou à noite, em casa. Chamo de ilusão por que chega a ser infantil acreditar que será possível produzir com eficiência por 8 horas seguidas e ininterruptas de trabalho, por exemplo", explica a psicóloga. "Isso não é viável." Invariavelmente, perderemos o foco e a capacidade atencional após 45 minutos a 1 hora de trabalho intelectual. Porém, quando encaixamos na nossa rotina pequenas pausas de 10 a 15 minutos, consegue-se produzir mais e melhor.
Técnicas meditativas rápidas
- Exposição diária à luz natural
- Prática de atividades físicas
- Alimentação adequada
- Cultivo de um hobby
"Nem sempre temos tempo para isso, mas caminhar por alguns minutos ao ar livre e optar por se sentar em frente a uma janela durante o trabalho, ler as páginas de um livro antes de dormir e deixar o celular um pouco de lado já são eficientes", aconselha Ana Bodanese.
Quando a culpa bate
Não é exclusividade do momento em que vivemos se sentir culpado por não estar sendo produtivo, entretanto, a pandemia fez com que as noções de trabalho e lazer ficassem sem divisão alguma, já que todos trabalhavam em casa. Isso leva as pessoas a acreditarem que sempre deveriam estar produzindo algo. "Nas redes sociais, passamos a valorizar ainda mais esse tipo de comportamento: "Fulano é focado e persistente", "Beltrano dá conta da casa, dois empregos e dos filhos". Esquecemos que apenas vemos o que o outro escolhe nos mostrar e não a totalidade da sua rotina", diz Ana Bodanese. A psicoterapia auxilia na compreensão dessas ideias, e essa prática facilita o caminho para o descanso. "Ao nos forçarmos a continuar produzindo cada vez mais, acabamos cometendo mais erros, adoecemos e nos isolamos."
Palavra do especialista
Existe alguma maneira de usar as redes sociais a seu favor na hora de descansar? Ou são muito prejudiciais e fingem um "falso descanso"?
Como qualquer outro comportamento, o que pode tornar o uso das redes sociais algo disfuncional e nocivo é o seu excesso. Estamos inseridos nesta realidade, em que o comportamento de acessar as redes está presente desde a hora em que acordamos até a hora em que nos deitamos para dormir, nos bombardeando de estímulos mesmo enquanto acumulamos pendências.Ao longo do dia, você tem mil coisas para resolver e sente que está cansado, com a cabeça cheia; abre sua rede favorita e rola a tela. Por um tempo você pode ter a sensação de que está descansando a mente porque, de fato, sua atenção foi retirada dos "problemas". Se eu quero esquecer, por uns minutos, daquela tarefa chata ou daqueles pensamentos desagradáveis, rolar a tela e ver alguns memes serve à distração — a sensação imediata é boa, convenhamos! Porém, quando precisamos descansar, não é suficiente apenas nos distrairmos. Cada um de nós precisa avaliar honestamente em que medida o uso das redes sociais pode estar ou não contribuindo positivamente com o descanso de que necessitamos.
Como lidar com a falta de descanso por resultado de alguma doença mental crônica?
Algumas condições de saúde mental, como os transtornos de ansiedade e o TDAH, podem dificultar bastante o descanso necessário. Se a mente está agitada, com pensamentos acelerados e preocupações a mil, fica muito complicado conseguir simplesmente "desligar" e relaxar; a questão é que, se não descansamos, o esgotamento pode acabar "batendo à nossa porta". Quando descansar não é um hábito natural para um indivíduo, a melhor forma de lidar com isso é por meio do comportamento intencional, ou seja, da atitude consciente de promover o descanso, com ações direcionadas a esse objetivo. Manter uma rotina organizada, com planejamento, buscar ter um sono de qualidade, prática de atividade física e atenção plena (mindfulness) podem contribuir muito para diminuir o estresse e o cansaço. Aqui entra também a questão do acesso à internet: gerenciar a quantidade de tempo que passamos conectados pode ser bem útil.
Como aproveitar momentos de descanso da melhor maneira possível?
Algumas pessoas se sentem desconfortáveis quando percebem que não estão ocupadas ou "produzindo". Elas podem ter uma crença profunda de que não podem ou não merecem descansar, como se estivessem fazendo algo errado e até vergonhoso. Então, se você conseguir se permitir descansar, já é maravilhoso! É essa consciência que te permitirá aproveitar os momentos de descanso. Reserve o tempo necessário, organize-se de modo a tornar isto previsto na sua rotina — descansos diários, semanais, férias. Tente ter o mínimo de pendências, isso te deixará mais livre para relaxar. Estar física e mentalmente presente é fundamental para que você sinta que o descanso aconteceu.
Christiane Dias é psicóloga clínica e terapeuta do esquema. Pós-graduada em psicologia perinatal e atualmente se especializa em transtornos de humor.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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