Jornal Correio Braziliense

VIAGEM

Intercâmbio em alta: Estados Unidos é o país 'queridinho' dos alunos

Segundo o relatório Open Doors Report on International Educational Exchange sobre Intercâmbio Educacional Internacional, o Brasil é o oitavo país que envia alunos para os EUA com a finalidade de seguir os estudos

Já imaginou ter a oportunidade de vivenciar o ensino médio como nos filmes e séries estrangeiros? Cada vez mais estudantes buscam métodos de ensino diferentes, e isso pode ser feito muito antes de entrar na universidade. A vontade de conhecer o dia a dia escolar em outro país vem aumentando entre os brasileiros, segundo novo estudo, e especialistas indicam que a melhor maneira de conquistar esse sonho é se preparando bem!

Para Rui Pimenta, diretor de vendas nacional da Agência de Intercâmbio STB, a experiência de estudar no exterior pode ser positiva para o aluno, não só pelo currículo. "No programa de intercâmbio para os jovens, eles têm a oportunidade de sair um pouquinho fora da caixa, vivenciar uma cultura totalmente diferente, estar numa casa de família que eles nunca viram na vida para ter o processo realmente de autoconhecimento e até definir o que ele quer fazer após se formar", destaca.

Como existem modelos distintos de intercâmbio, os alunos que estão cursando o ensino médio querem ter a experiência de high school — em que vivenciam a rotina escolar americana no mínimo por seis meses, podendo se estender a até dois anos em alguns casos. Eles podem ficar instalados em casas de família, após um processo seletivo mediado pela escola onde o aluno vai estudar e pela agência que escolher para viajar, ou também em residências estudantis com pessoas de outros países. Rui pontua que todo o processo varia muito de aluno para aluno, mas ambas garantem uma experiência cultural enorme entrando em contato com diferentes culturas e pessoas.

O intercâmbio high school pode ser feito a partir dos 14 anos, quando o aluno já pode viajar sozinho e até antes dele completar o ensino médio no Brasil. Eles iniciam o semestre nos EUA em setembro ao mesmo tempo que os outros alunos voltam às aulas.

A procura por intercâmbios desse modelo são os "queridinhos dos adolescentes" atualmente, de acordo com Roseane Zanini, gerente comercial da World Study. Ela conta que, apesar de muitos quererem viajar e terem a experiência, é preciso se atentar a alguns detalhes. "A gente sempre recomenda que isso seja muito bem conversado entre a família, porque um dos pontos principais é a conversão das notas", pontua. 

Ela explica que a média necessária para um aluno manter antes de viajar, enquanto estuda no Brasil, é 7 no histórico escolar. "Essa conversa com o adolescente é importante para que ele mantenha o foco da escola aqui no Brasil, para que quando a gente faça a conversão para a escola americana se torne um 'A' (medida de pontuação de notas dos EUA que é equivalente ao 10)", frisa.

Vale lembrar que a recomendação do Ministério da Educação para que o aluno consiga aproveitar os créditos cursados no exterior quando retornar ao Brasil é fazer uma matéria de humanas, como história e geografia; uma na área de exatas, como química ou física; matemática, inglês e educação física. Além disso, a escola ao qual o aluno retornará após o intercâmbio fica responsável de fazer a convalidação da grade do aluno no Brasil para que o aluno dê continuidade até o fim do ensino médio. 

É preciso ficar atento também às documentações necessárias para a viagem como visto estudantil, carteira de vacinação, inclusive considerando as da covid-19, entre outros. Além disso, Rui ressalta que, como o intercâmbio requer vários passos, o tempo médio para planejá-lo com tranquilidade é de oito meses. "Tem que ter planejamento, tem que buscar uma agência, tem que ter uma base de consultoria porque são vários detalhes que a gente olha desde o tipo de documentação que o estudante precisa até o tipo de roupa que ele vai levar para o exterior, como por exemplo se vai precisar de uniforme ou não", reforça.

EUA como destino

Para Roseane, é importante destacar que apesar dos intercâmbios serem muito atrativos para os jovens, pessoas de todas as idades podem escolher viajar para estudar. "Existem muitas pessoas mais velhas que procuram. É para qualquer idade, inclusive para os pequenininhos, programas como o seu filho de 4 anos pode aprender inglês enquanto você aprende também." 

O relatório Open Doors Report on International Educational Exchange sobre Intercâmbio Educacional Internacional, publicado pelo Institute of International Education (IIE) e realizado entre 2021 e 2022, aponta que o Brasil é o oitavo país que mais envia alunos — levando em conta diferentes faixas etárias e estilo de intercâmbio — para os Estados Unidos para estudar.

Segundo a pesquisa, 14.897 brasileiros viajaram com esse intuito entre 2021 e 2022, um aumento de 6,4% em relação ao levantamento anterior. A quantidade de brasileiros indo para os EUA sofreu uma queda tendo em vista a pandemia do coronavírus. Entre 2019 e 2020, mais de 16 mil alunos viajaram para o país com o objetivo de estudar. 

Além disso, outro fator levado em consideração foi o nível acadêmico dos alunos: 49,3% dos brasileiros desembarcam no país para cursar o chamado "Undergrad" — que é a faculdade.

Aqueles que querem fazer pós-graduação, mestrado ou doutorado nos EUA representaram, no período da pesquisa, 31,9%, e 4,2% viajaram sem a predeterminação de conseguir diploma escolar ou universitário. O levantamento mostrou ainda que, entre 2021 e 2022, 14.6% dos brasileiros deram entrada no Optional Practical Training (OPT, como é conhecido) que concede ao aluno que cursou um curso de nível superior nos Estados Unidos para trabalhar na sua área de formação.

Simulações em renomadas faculdades dos EUA

As simulações de fóruns das Nações Unidas (ONU) se tornaram muito comuns nos últimos anos para alunos em formação acadêmica. Muitas vezes, as escolas organizam as próprias simulações para ensinar aos estudantes como elas funcionam, mas também conseguem mediar a ida de alunos para participar de simulações em duas das mais renomadas universidades dos Estados Unidos: Harvard e Yale. Cada aluno, às vezes até mesmo a escola, é designado para representar um país em uma conferência que simula a solução de problemas sociais, ambientais, geopolíticos, entre outros.

Para Erika Zaidan Rodrigues, coordenadora de ensino internacional do Colégio Presbiteriano Mackenzie, quando os alunos fazem a viagem ela percebe que eles se envolvem bastante com tudo e desenvolvem um pensamento crítico. "Eles precisam estudar muito para participar disso e precisam elaborar um documento de posição que será enviado para as universidades, onde eles vão defender seus pontos a partir de um tema dado em seu respectivo comitê", explica .

O Correio conversou com as alunas Kelly Chrockatt, de 14 anos, e Giovanna Lenz, de 17, que fazem parte da comitiva do Mackenzie de Brasília, Tamboré (SP) e Higienópolis (SP), para a edição de 2023 do projeto. Ao lado de outros 12 estudantes, elas viajaram para os EUA em 16 de janeiro e, antes de ir, contaram para a reportagem sobre as expectativas que tinham e como estavam se preparando para a viagem.

Para Giovanna a viagem representa muito quem ela é. A carioca que hoje reside em Brasília passou boa parte do ensino médio com a ideia de cursar medicina — enquanto estudava no ensino virtual, durante a pandemia —, mas quando voltou ao presencial ela conta que teve uma sensação muito forte sobre "possibilidade do ser humano de fazer relações e de estabelecer dessa forma uma comunicação muito forte".

A preparação foi intensa com constantes estudos — mesmo após o fim do ano letivo — e Giovanna espera levar muito mais do que bagagem da viagem. "Uma temporada internacional não é só pelo currículo que conta, é pela vivência em si que você ganha na bagagem, a experiência de vida."

Já para Kelly, a escolha por fazer o processo seletivo para a simulação foi diferente. Como teve a oportunidade de ver a irmã dela, Karen, de 21 anos, vivenciando alguns anos antes a experiência de participar da simulação nos EUA decidiu tentar o processo seletivo e passou na primeira tentativa. "Eu vejo a minha irmã como modelo, então, eu quis participar para ver como foi a experiência dela também", conta ela.

A professora Erika explica ainda que a viagem vai para além das simulações e os alunos participam de passeios em monumentos históricos das cidades de Washington, New Haven, Nova York e Boston, que fazem parte do itinerário. "Nós vamos com os alunos nos monumentos históricos porque normalmente eles estudam a história americana. É uma oportunidade que temos de levá-los para vivenciar esses momentos e passar por onde eles estudaram, porque eles estudam a teoria e na prática vão vivenciar", frisa a professora.

Primeiros passos para fazer um intercâmbio

  • Ter nível intermediário de inglês;
  • Conversar com os pais;
  • Deixar de 8 meses a 1 ano apenas para o planejamento;
  • Prestar atenção nas notas ainda no Brasil para quando forem convertidas nos EUA continuarem altas