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Beleza

Os cuidados em torno da popular bichectomia

Procedimento que visa retirar ou reduzir as "bolas de Bichat" na região da bochecha é seguro, mas deve ser bem indicado e realizado por profissional capacitado

Há dois meses, a criadora de conteúdo Maíra Medeiros compartilhou, com os inscritos em seu canal no YouTube, sua experiência com a bichectomia, relatando o arrependimento em torno do procedimento que, segundo ela, tornou essa região do seu rosto mais flácida e, consequentemente, envelhecida. Nos comentários, o público se dividiu entre pessoas que condenam veementemente a cirurgia para fins estéticos, enquanto outras não enxergam a intervenção como causa dos incômodos da influenciadora.

Fato é que, na onda de procedimentos como a harmonização facial, a bichectomia tornou-se popular entre indivíduos, normalmente com face arredondada, que desejam ter um rosto mais leve, delicado, triangular e com realce na região malar e no contorno de mandíbula.

Mas, segundo o cirurgião-dentista Diogo Lustosa, especialista em harmonização orofacial e mestre em implantologia, há também indicações funcionais, relevantes para pacientes que mordem as bochechas ao se alimentarem. Após a cirurgia, esse trauma é reduzido ou até mesmo eliminado.

“O procedimento é realizado por dentro da boca e dura, em média, 40 minutos. Com uma anestesia local (odontológica tradicional), é feita a incisão, de cerca de um centímetro, em cada lado das bochechas. As “bolas de Bichat” são removidas, e realiza-se a sutura com dois ou três pontos. Não ficam cicatrizes aparentes”, explica Diogo.

No que tange às contraindicações, o cirurgião plástico Cristiano Fleury, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cita: pessoas que não têm o rosto naturalmente arredondado; que se encontram acima do peso, pois no caso de um futuro emagrecimento, há a possibilidade de ficar com a face exageradamente afinada; presença de infecção local e condição clínica arriscada para procedimentos cirúrgicos, como cardiopatias severas.

Queixas e cuidados

Os dois especialistas concordam que a indicação para a bichectomia deve ser minuciosamente discutida e avaliada. De forma geral, em pacientes com boa saúde e sem focos de infecção locais, os riscos são mínimos. Edemas, equimoses, hematomas e trismo são as possíveis e mais comuns complicações. Parestesia, paresia, hemorragia, lesão do ducto parotídeo, seroma, e abscesso são problemas bem menos recorrentes, mas podem acontecer.

No pós-operatório, é esperada dor local, tratada com anti-inflamatório e analgésico. Ademais, recomenda-se uma alimentação líquido-pastosa e higiene bucal reforçada nos primeiros dias. Vale frisar que os profissionais habilitados para realizar o procedimento são cirurgiões-dentistas e médicos com conhecimento e experiência na técnica.

Questionados sobre os relatos frequentes, na internet, de pessoas insatisfeitas com os resultados da bichectomia, Fleury destaca ser comum a busca, em seu consultório, de pacientes que tentam reverter os efeitos da cirurgia. Quanto às queixas relacionadas ao aspecto de envelhecimento da face, Lustosa esclarece que a gordura localizada abaixo da “bola de Bichat”, responsável por dar sustentação à pele, mantém-se intacta diante do procedimento, não gerando flacidez adicional cutânea.

“Essa é uma crença, infelizmente, disseminada por profissionais que não realizam nem possuem experiência na técnica. Nós continuamos envelhecendo com o passar dos anos após a cirurgia, e esse envelhecimento é multifatorial e acontece em todos os diferentes planos teciduais e em todas as regiões da face”, explana Lustosa.

O profissional ainda completa que a intervenção, quando bem indicada, previne a queda (ptose) dos tecidos faciais, em especial, se associada ao lifting facial cirúrgico ou aos fios de sustentação, mesmo em pacientes de idade avançada. Aos que buscam procedimentos menos invasivos, há a opção da tecnologia do ultrassom microfocado, que apresenta resultados mais sutis.

Em contrapartida, para reverter os efeitos da bichectomia seria preciso aumentar o volume na região da depressão, técnica feita com estimuladores de voltagens ou, mais frequentemente, com os preenchimentos com ácido hialurônico ou com a própria gordura do paciente.

Satisfação

Para a depiladora Brenda de Souza, 22, ter optado pela bichectomia foi muito positivo para sua autoestima, dado que sua face, anteriormente com um aspecto mais arredondado, soava, para si, infantil; lhe incomodava. Quando maquiada, admirava-se com as maçãs do rosto ressaltadas, então, procurou algo permanente.

Arquivo pessoal - Para Brenda de Souza, s intervenção melhorou sua autoestima

Tanto no momento da cirurgia, quanto no pós-operatório, não teve problemas nem sentiu grandes desconfortos. Nos primeiros dias da recuperação, precisou adaptar a alimentação, priorizando líquidos, e após o inchaço já percebeu o resultado. Reconhece que a cirurgia, de fato, mudou seu rosto, percepção compartilhada por pessoas próximas, mas não se arrepende, visto que se sente mais satisfeita com a própria aparência.

Frustração com os resultados

Quando a escrivã de polícia civil Fabiula Bianchi, 33, decidiu fazer a bichectomia, em 2018, sentia-se acima do peso e desejava afinar o rosto, tornando-o mais harmônico. O que parecia ser a solução para seu incômodo, porém, multiplicou-o, pois, quatro meses depois da cirurgia, notou o envelhecimento da sua face, além das olheiras, da perda do malar e da assimetria.

Entre as providências tomadas após a decepção, tentou processar a dentista que realizou o procedimento e relatou, quando notificou a profissional, que muitas informações mentirosas sobre si haviam sido inseridas em seu prontuário, nas linhas em branco, após a assinatura do documento.

Arquivo pessoal - Fabiula Bianchi antes e depois da bichectomia: decepção com o procedimento

“Declararam que fiz bichectomia por morder as bochechas, que fui informada sobre os contras e orientada a fazer sessões com fisioterapeuta. Nada disso é verdade”, explica. De tratamentos estéticos, hoje, faz apenas bioestimuladores de colágeno anualmente.

Neste período, conheceu, pelo YouTube, outras pessoas que haviam passado por situações semelhantes a sua e, juntas, decidiram criar um grupo no WhatsApp e posteriormente uma página no Instagram chamada “Vítimas da bichectomia". O intuito do perfil, que conta com quase 40 mil seguidores, é alertar sobre os riscos da técnica, além de reunir relatos de demais mulheres.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

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Arquivo pessoal - Fabiula Bianchi antes e depois da bichectomia: decepção com o procedimento
Arquivo pessoal - Para Brenda de Souza, s intervenção melhorou sua autoestima