Jornal Correio Braziliense

Saúde

Voos confortáveis para os pequenos, tranquilidade para os adultos

Viajar com bebês no avião pode ser um sufoco devido às dores de ouvido sentidas pela criançada. Aos pais, toda preparação para evitar o incômodo é válida

Enfim, chegou o período de férias! Momento de descanso, diversão e, se possível, viagens em família. As expectativas são positivas até o momento em que o avião — tão grandioso e magnífico aos olhos das crianças — alça voo. Os pequenos choram, ficam inquietos e reclamam, e não é para menos. Aquela pressão dolorosa nos ouvidos, comumente sentida pelos adultos, é bem mais intensa neles. Por isso, o incômodo.

Segundo a otorrinolaringologista Tatiana Matos, da clínica OtorrinoDF, o ouvido tem uma membrana, chamada timpânica ou tímpano, que separa a orelha externa da orelha média. Quando há mudança da pressão ambiente, tal membrana pode doer.

"Isso ocorre quando não conseguimos equalizar a pressão da orelha externa com a pressão da orelha média. O órgão que usamos para realizar essa equalização chama-se tuba auditiva e liga o nariz ao ouvido, mais precisamente o fundo do nosso nariz com a orelha médio. Quando abrimos e fechamos a tuba auditiva, alteramos a pressão da orelha média", explica.

O mais comum é que o incômodo seja resultado de uma obstrução nasal, por alergia ou por resfriados, dado que, quando o nariz fica entupido, ocorre edema da tuba auditiva, impedindo-a de se abrir para equalizar a pressão. Assim, a pressão do ambiente exerce força na membrana timpânica e causa desconforto, a depender da diferença da pressão do ambiente e da orelha média.

Os bebês e crianças são mais sensíveis, pois não apresentam a coordenação de fechar e abrir a tuba auditiva, que ainda não está totalmente formada, alteração anatômica que permanece até os 7 anos. Ademais, ficam mais frequentemente com o nariz entupido, uma vez que têm em média oito viroses por ano.

Veja dicas de como amenizar o desconforto dos pequenos durante o momento do voo:

- "Os pacientes que estão com sinais de quadros gripais iniciais, bem como aqueles que naturalmente apresentam desconforto quando submetidos a pressurização, o uso de anti-alérgicos e corticoides nasais uma hora antes do voo ameniza queixas", detalha Larissa Camargo, médica otorrinolaringologista do Hospital Santa Lúcia.

- Evite viajar de avião quando o nariz estiver congestionado.

- Trate a rinite e as viroses rapidamente, lave bastante o nariz com soro fisiológico e use medicações específicas indicadas pelo médico otorrinolaringologista para diminuir ou eliminar a congestão.

- Pedir aos comissários de voos que avisem quando o avião estiver próximo à decolagem e à aterrissagem pode ser útil para preparar os pequenos para o possível incômodo.

- Faça a abertura voluntária da tuba auditiva. Conforme explica Tatiana, no caso dos adultos, vale bocejar, usar goma de mascar ou beber algum líquido durante decolagem e aterrissagem. Em bebês e crianças, sugere-se que eles usem chupetas, mamadeira ou aleitamento materno nesses momentos.

- Mesmo com a permissão da viagem, aconselha-se que os pais evitem voos com o bebê antes de completar três meses, exceto se houver necessidade.

Palavra do especialista

Quando os bebês e as crianças estão gripados ou com alguma alergia, esses incômodos podem ser maiores, correto? Quais as demais consequências?

Ser submetido a pressurização de aviões em estado gripal aumenta os riscos de desconforto nos ouvidos, uma vez que os despressurizadores da cavidade timpânica são as narinas. Tal exposição pode levar ao quadro de barotrauma, clinicamente manifestando-se com otalgia (dor de ouvido), sensação de plenitude auricular (como se tivesse água presente no ouvido), até mesmo otorragia (sangramento no ouvido) e perfuração timpânica.

O desconforto costuma persistir quanto tempo após a aterrissagem do voo?

O desconforto tende a reduzir após a retirada do fator causal, a pressurização, mas ainda assim pode permanecer a sensação de dor e de plenitude, fazendo-se necessária a avaliação do especialista para instituir um tratamento medicamentoso adequado a fim de reduzir o risco de complicações.

Existem outras situações em que os ouvidos dos pequenos merecem atenção redobrada?

O principal fator de risco para alterações no ouvido médio, como as famosas otites, são as condições nasais. Mantendo-se o nariz bem higienizado, com soro fisiológico, e seco, com o uso de anti-alérgicos, a chance de secreções oriundas da cavidade nasal penetrarem na cavidade timpânica reduzem muito. Em resumo, um ouvido saudável é reflexo de cuidados nasais contínuos.

Larissa Camargo é médica otorrinolaringologista do Hospital Santa Lúcia

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

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