Quando era criança e vivia na pequena cidade de Canto do Buriti, no interior do Piauí, Paula Andrade sonhava em ser advogada — um desejo aparentemente distante, já que a garota vinha de uma família humilde e bastante numerosa, com um total de 19 irmãos. Aos 8 anos, para ajudar nas despesas de casa, começou a trabalhar informalmente como babá. Isso, porém, não a fez desistir de seu propósito. Ao contrário.
Em 2007, o sonho de Paula começou a se realizar. Aos 14 anos, ela se mudou para Brasília, onde uma irmã mais velha morava. Para conseguir estudar, a adolescente arrumou um emprego como empregada doméstica em uma casa de família. Foi aí que teve o primeiro contato com a boa mesa. "Meus patrões entregavam as receitas dos pratos do almoço e do jantar e me mandavam reproduzir. A maioria dos alimentos eu nem sabia o que era", recorda-se.
Mas Paula não reclamava. Ao contrário, achava aquilo uma terapia e foi tomando gosto pelas panelas. No primeiro emprego, ficou por sete anos; em seguida, foi trabalhar para outra família. A jovem, porém, não deixava que sua meta escapasse do seu radar, e seguia estudando. Entrou na faculdade, formou-se em gestão pública pela Universidade Católica de Brasília e, com a ajuda dos então patrões, conseguiu um emprego como auditora financeira em um cartório.
Já estabelecida em terras candangas, Paula trouxe, em 2018, duas irmãs mais novas, de 17 e 19 anos, para morar com ela. Como queria que as jovens já tivessem um emprego, decidiu se "aventurar" no mundo dos cafés. Abriu uma minicafeteria "rústica", como define, onde vendia bolos, doces, salgados, cuscuz, tapiocas e outras delícias nordestinas.
Paula ficou responsável pela confecção dos salgados, e uma das irmãs pela dos doces — a maior parte produzida na cozinha da própria casa. O fato de trabalhar remotamente no cartório, cuja sede fica no Rio de Janeiro, ajudou a piauiense no processo de abertura do Café de Andrade, em um pequeno espaço no Sudoeste.
O trabalho era muito, mas o reconhecimento logo veio. Em pouco tempo de funcionamento, recebeu um convite irrecusável: abrir uma unidade dentro da Maternidade Brasília, que fica próxima ao café, e outra nos consultórios médicos do próprio hospital. "O pessoal da maternidade era cliente aqui do café e gostava do nosso trabalho", justifica.
Uma das irmãs saiu da sociedade e Paula teve que aprender também a fazer os doces. Muitos estudos e pesquisas para montar um cardápio que agradasse a clientela — que se tornava fiel. A cozinha de casa já não dava conta, e Paula montou um centro de produção para abastecer as três unidades. Aí veio a pandemia. Os cafés que ficavam dentro do ambiente hospitalar permaneceram abertos, mas o do Sudoeste precisou fechar as portas.
Repaginada
Inquieta, Paula percebeu que estava pronta para dar um passo maior. E, durante o período de lockdown, começou a planejar a expansão do Café de Andrade. Mais que isso: queria dar uma nova roupagem ao estabelecimento, transformando o ambiente e o cardápio rústicos em algo sofisticado. "Meu trabalho no cartório me permite viajar muito, e isso abriu minha cabeça. Eu sempre ficava fascinada pelos cafés que visitava. Também passei a seguir perfis no Instagram para me inspirar", conta.
Pouco depois do fim do lockdown, a piauiense voltou a fechar as portas para a reforma. Alugou a loja do lado, dobrou o tamanho da loja e criou um "novo" Café de Andrade. Com ares de um charmoso café parisiense, mudou a decoração, que passou a ser instagramável, investiu em um novo conjunto de louça e mexeu completamente no cardápio.
Os bolos e doces populares deram lugar a tortas finas. No menu, éclair, cheesecake, banoffee — cuja receita Paula compartilha com os leitores da coluna —, quiches, o famoso croissant (um dos carros-chefes da casa), além de cafés especiais e espumante. Até a tapioca foi gourmetizada. "Estamos agora estudando como servir o cuscuz de forma diferente." Tudo pronto, o Café de Andrade reabriu as portas em novembro do ano passado.
Para o ano que começa hoje, Paula tem vários planos. A começar por um curso de torrefação que pretende fazer em Minas Gerais. "Já fiz um curso de barista, mas pretendo me aprofundar nesse universo do café." E o passo mais importante será abrir uma nova unidade na Asa Sul também em 2023.
E para quem pensa que o sonho de se tornar advogada ficou no passado, Paula vai logo avisando que está cursando direito e que, em breve, estará com o diploma em mãos!
Saiba Mais
Banoffee do Café de Andrade
Ingredientes
350g de biscoito tipo maisena triturado
200g de manteiga
875g de doce de leite
8 bananas nanicas
600g de nata
Canela em pó ou chocolate para polvilhar
(caso queira substituir a nata por chantilly, use 450g de chantilly batido)
Modo de fazer
Triture o biscoito em um processador, misture com a manteiga até formar uma massa homogênea. Forre o fundo e as laterais de uma forma de fundo removível e leve ao forno médio-alto (200°C), preaquecido, por 10 minutos. Reserve.
Espalhe sobre a massa da torta o doce de leite e distribua as rodelas de banana.
Em uma batedeira, bata o chantilly ou a nata (gelado) em velocidade alta até obter um creme firme (cerca de 4 minutos).
Cubra com o chantilly e finalize polvilhando a canela ou o chocolate em pó, coloque para gelar por duas horas e sua sobremesa estará pronta.
Uma dica que facilita o corte de cada fatia é aquecer a faca com água quente a cada corte. A sua fatia sairá perfeita.
É importante usar um doce de leite mais firme.
Instagram: @cafedeandrade
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