Praticar atividades físicas é um dos pilares essenciais para uma vida saudável — e o mesmo vale para os animais de estimação. Uma opção interessante e divertida para se movimentar é o canicross, esporte criado na Europa e que tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil, com inúmeras vantagens para o tutor e para o animal.
Segundo a médica veterinária Giovanna Stecanela, o canicross é um esporte de corrida onde o cachorro corre à frente do tutor, geralmente em trilhas em meio à natureza. Nele, o humano veste um cinto conectado à guia elástica atrelada ao arnês, um colete próprio para a prática que permite a tração do animal.
Segundo a especialista, que também realiza a prática com seus cachorros, o objetivo da modalidade é criar diversão e harmonia para o tutor e o animal, já que os dois se movimentam com intensidade na atividade.
A origem documentada do esporte, de acordo com Giovanna, é de por volta de 1990, na Europa, como um modo de treinamento para cães, que eram preparados para puxar trenós no inverno e acabavam perdendo o condicionamento físico no verão, pelo declínio de atividades físicas. A fim de solucionar o problema, os tutores realizavam corridas com os animais durante a estação mais quente. A veterinária explica que ter esse momento de exercício fazia com que os tutores criassem uma maior ligação com os cães, além de também se exercitarem.
Entre as vantagens citadas pela profissional acerca do esporte, ela destaca: "Promove bem-estar completo, tanto físico quanto psicológico. Melhora o condicionamento, a saúde, a conexão com o animal, a harmonia e estimula a conhecer lugares incríveis em contato com a natureza. Além de incentivar a criar memórias de qualidade com os nossos cães e oferecer uma vida ativa e cheia de diversão".
Com relação aos locais para prática, são selecionadas, geralmente, trilhas em meio à natureza. Giovanna Stecanela sugere buscar alternativas com bastante sombra, mas afirma que também pode ser realizado na cidade, em parques, por exemplo. Segundo ela, a dificuldade do local varia de acordo com a própria prática do esporte, se a pessoa é iniciante, se tem condicionamento físico para longas distâncias, entre outras variáveis.
Para ela, o mais importante é ter vontade de praticar, não é necessário ser um corredor ou ter histórico de exercícios, basta ter interesse e começar aos poucos, nem que seja somente caminhando. O canicross entrou recentemente na vida da veterinário, quando buscava por alguma atividade para fazer junto com a cadela que tem muita energia. Nessa procura, ela encontrou o perfil @canicrossbsb, com quem pôde conversar e receber orientações sobre como funciona a modalidade na capital.
Giovanna relata que percebeu a evolução em sua cadela e como o exercício foi peça fundamental em auxiliar a pequena a se tornar mais tranquila e sociável. "Tivemos experiências únicas que se não fosse pelo canicross, talvez nunca teríamos. E o melhor de tudo: levando minha cadela para se divertir comigo! É um esporte muito saudável, indico para todos que queiram ter esses benefícios na vida", conta.
Em Brasília
Justamente por relatos como o da veterinária Giovanna que um dos planos para os próximos anos de Julie Assêncio, uma das fundadoras do Canicross Bsb (@canicrossbsb), é de continuar divulgando a modalidade para o maior número de pessoas possível, pois, segundo ela, muitas ainda não conhecem e sequer fazem ideia dos benefícios que se pode ter.
Julie formou o Canicross Bsb há cerca de cinco anos, junto com Adauto Belli e Thiago Ruiz. Adauto é adestrador de cães e ultramaratonista e, devido a essa extensa experiência, contribuiu muito para garantir treinos seguros e bem direcionados. Juntos, deram início às práticas na chácara Cães e Trilha, no Tororó — na região administrativa de Santa Maria.
Além do núcleo local, existem vários grupos espalhados pelo país e uma associação nacional, a Associação Brasileira de Canicross e Esportes Similares (ABCAES), que conta com vários associados e dá suporte a novos grupos que surgem e querem praticar o esporte. No Distrito Federal, o grupo organiza trilhas todos os domingos, realiza treinamentos no Parque da Cidade todas as quartas-feiras à noite e eventos temáticos cerca de quatro vezes por ano.
Em 2019, foi realizada a primeira competição de canicross do Centro-Oeste, que atingiu um marco histórico. Julie afirma que a prova contou com o maior número de competidores do país na modalidade. Além disso, conta que mais de 700 duplas cão/tutor já participaram de alguma atividade do Canicross Bsb, mesmo que os que praticam com frequência representem um número menor.
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Cuidados
Com benefícios incríveis, alguns cuidados precisam ser tomados. A veterinária comportamental Nayara Brea chama atenção para animais que tenham doenças ou condições como problemas osteoarticulares, cardiológicos, doenças respiratórias, obesidade e alergias a componentes do ambiente da prática esportiva. O ideal é que uma consulta de avaliação veterinária seja realizada para que o profissional ateste aptidão do peludo a realizar a prática.
Outro ponto de atenção está relacionado a cães de raças braquicefálicas, ou seja, aquelas raças com focinhos curtos e crânios achatados, como os buldogues, shitzus e pugs. Essas raças têm maior dificuldade de respiração, o que pode gerar mais desconforto no exercício. Além disso, cadelas prenhas não devem praticar o canicross.
Com relação à idade, é ideal que o cão tenha toda a estrutura óssea desenvolvida antes de iniciar o esporte. A veterinária Nayara afirma que a maturação de cães de pequeno e médio porte ocorre, geralmente, com um ano de idade, enquanto os de porte grande e gigante entre um ano e meio e dois anos. De forma alguma, ela aconselha os treinamentos antes desse período: "A sobrecarga em estruturas ainda em crescimento no filhote pode comprometer o desenvolvimento, entre outras implicações".
Somado às condições físicas, é essencial estar com todas as vacinas em dia, a veterinária faz menção a três, em especial: a múltipla, a contra giárdia e a anti-rábica. E, como é praticado geralmente em meio à natureza, ela recomenda as medicações preventivas contra ectoparasitas e endoparasitas, como pulgas, carrapatos e vermes. A utilização de repelentes e coleiras contra o mosquito da leishmaniose também são muito importantes.
Na preparação, o ideal é que não alimentar o cão antes da prática, para que não ocorra torção gástrica, mais comum em raças de grande porte. A veterinária também recomenda que a linguagem corporal e comportamento do animal sejam sempre observados, para, desse modo, ele tenha o seu ritmo respeitado. Nos dias mais quentes, deve-se fornecer água durante todo o percurso e molhar o animal quando necessário, além da constante atenção com o calor do chão, que pode queimar os coxins, as almofadinhas das patas.
Para começar
A aqueles que nunca praticaram o esporte, a profissional recomenda que o tutor inicie aos poucos, fazendo curtas distâncias e observando como o animal se sente. "É importante nunca forçar o animal à prática", pontua. Para ela, o primeiro passo é ter os equipamentos que garantam mais segurança e conforto, em seguida, participar da aula e testar, para ver se foi interessante para a dupla.
É o caso da servidora pública Raquel Dias, que tutora o cão Max, de seis anos. Ela descobriu o canicross através de conhecidos do condomínio e, apesar de ter se interessado, não tinha certeza se daria certo com sua realidade. "Tinha medo de não conseguir, porque sou asmática e nunca tive fôlego. Além disso, nunca fui fã de correr, mas ao ver os vídeos dos treinos no Instagram, a alegria dos cães correndo, o astral maravilhoso, não resisti e fui treinar", relembra.
Para a surpresa dela, apesar do cansaço esperado, Raquel conseguiu fazer o percurso — o que a deixou motivada para continuar. Em seguida, participou de uma corrida de canicross de quatro quilômetros, que não foi fácil: "Tive que parar algumas vezes, mas a sensação de completar o primeiro percurso da minha vida foi algo incrível. Não acreditei que consegui". Outra memória marcante é a de Max, que, segundo ela, estava felicíssimo, já que se divertiu e interagiu com a natureza e outros cães.
Depois das experiências, ela nunca mais parou e, inclusive, nota melhoras na sua própria saúde, como o fôlego, que hoje está bem melhor do que o de quando começou. "Ainda estou longe de ser uma atleta, mas sou uma pessoa bem mais saudável e feliz, com certeza", emociona-se. Sempre participa dos treinos, pelo menos, quinzenalmente, aproveitando o melhor que o esporte traz para os dois.
O canicross também marca a superação de Max, que foi abandonado e atropelado no condomínio de Raquel, que o resgatou, levou ao veterinário, cuidou e adotou. Na época, o cão tinha o osso da pelve quebrado e com o tratamento adequado se recuperou e voltou a andar, foi se fortalecendo e é hoje um grande praticante do esporte, que o auxilia a se manter em forma e feliz.
*Estagiária sob a supervisão de Ailim Cabral
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