Das tradições mais remotas a um post no Instagram, o misticismo, em suas inúmeras variações, sempre esteve presente no cotidiano das pessoas, ora como ferramenta de autoconhecimento, ora como manifestação de determinada crença. O desejo de, quem sabe, adivinhar o futuro, a necessidade de receber uma orientação ou mesmo a curiosidade de tentar conhecer o outro pelo mapa astral são atitudes comuns. Afinal, quem nunca se pegou lendo o horóscopo quase que de forma automática?
Para a antropóloga Letícia Maia, tal envolvimento com as derivadas formas de crença nas energias do universo são explicadas por uma série de fatores. E, apesar dos misticismos serem oriundos de uma época mais antiga, foi com o crescimento do assunto nas redes sociais, que se tornaram tendência.
A quebra do conservadorismo — no cristianismo, por exemplo — também surge como característica forte, já que algumas pessoas, com esse rompimento de tabu, procuram atingir novas culturas e saberes. Além disso, a busca por novos ressignificados fazem parte dessa atual leitura de vida e visão da natureza ao redor. "O intuito maior é o autoconhecimento, e claro, nem todo mundo consegue aproveitar essas ferramentas e esses saberes de forma ética ou proveitosa para se autoconhecer", comenta a especialista.
Mesmo que os pontos negativos possam ser ressaltados pela disseminação pouco profissional dos signos e misticismos, em geral, na internet, o debate é capaz de gerar engajamento e servir como impulso para que o tema seja cada vez mais conhecido. A obviedade mora, justamente, em tratar com mais seriedade uma área que precisa crescer, uma vez que o princípio de sua existência consegue ajudar muitas pessoas a descobrirem o seu lugar no mundo. Segundo Letícia, se tudo for usado com sabedoria, a tentativa sempre será válida.
Por isso, para o ano que chega, muitos se aproximam de crenças, simpatias e misticismos para que propósitos como saúde, felicidade, amor e sucesso se tornem realidade. Das boas vibrações até a lei da atração, todos jogam uma semente no universo e praticam hábitos positivos para que as respostas sejam devolvidas nessa nova virada de chave.
Por dentro dos mistérios do tarô
Foi com a mãe de uma amiga que a jovem Luiza Lopes, 19 anos, teve o primeiro contato com o tarô. A possibilidade de poder ver a vida das pessoas por meio das cartas lhe encantou e a motivou a comprar seu primeiro baralho. Para sua surpresa, descobriu, pouco tempo depois, que sua mãe também lia as cartas e até trabalhou por um período com uma cigana. Em casa, aprendeu a ler e, na escola, jogava com os colegas. Para ela, o tarô é uma ferramenta espiritual que visa fazer revelações e adquirir conselhos.
Os atendimentos começaram há cerca de um ano e ocorrem majoritariamente de forma on-line, pelo seu perfil no Instagram Lua Celestial. Existem vários tipos de tiragens, com foco no amor, na cura familiar, no autoconhecimento e na vida profissional. Luiza gosta de frisar que o objetivo principal é muito mais terapêutico do que religioso, visto que pessoas de qualquer religião podem tirar, sem restrições. O foco é na espiritualidade.
Entre os comentários ofensivos que já recebeu, recorda-se de escutar que estava enganando as pessoas para conseguir dinheiro. Falas como "tem gente que acredita nessas bobagens?" também já ocorreram. "Me causava muita revolta e raiva, mas hoje vejo que quem tem mais a perder são eles, pois meus clientes sabem como é meu trabalho e confiam em mim", destaca. Questionada sobre as tiragens a respeito de si, explica que é importante que essas sejam realizadas por outra tarologa, a fim de que o ego não intervenha.
Para este início de ano, deixa dois ensinamentos que reforça entre seus clientes: "Façam tudo pela felicidade de vocês, desde que não faça mal ao próximo. E tente ser gentil e o mais compreensivo possível, pois nunca sabemos o que os outros estão passando. Um sorriso e uma frase positiva já pode mudar o dia de alguém".
Costumes de uma "alma velha"
Para a redatora publicitária Christine Santos, 24, o gosto pela astrologia veio acompanhado por outro interesse: a história da astronomia, na qual pôde aprender acerca de algumas mitologias que deram nome aos astros e às constelações mais conhecidas. "Querendo ou não, a astrologia foi para a astronomia o que a alquimia foi pra química", compara. No que tange ao universo dos signos, a busca por uma melhor forma de se conhecer foi o que mais chamou sua atenção, unindo o útil ao agradável, algo que lhe leu muito bem.
Em seu mapa astral, o que mais faz sentido para si é sua atração — ela definiu como pequena obsessão — com economia e um senso enorme de empatia. Ademais, nutre um gosto por coisas antigas, tanto que trabalhou há um tempo em uma rádio focada em sucessos do passado. Michael Jackson, Whitney Houston e Elton John são alguns dos seus ídolos. Quem arrisca dizer qual o signo? "Falam que eu sou uma alma velha. Capricórnio é assim, né?", revela, Chris, como gosta de ser chamada.
Porém, na teoria, a publicitária nasceu na cúspide, isto é, no dia em que um signo transita para o outro, 20 de janeiro, levantando a dúvida se é capricorniana ou aquariana. Nesses casos, diz-se que é uma nativa híbrida, absorvendo características de ambas as constelações. Fato é que ela se identifica mais com os atributos do signo do elemento terra, conhecido por sua estabilidade. E, apesar de, em suas relações, não considerar esse ponto como algo determinante, reconhece que, em relacionamentos passados, não se deu muito bem com pessoas dos signos de ar e de fogo.
Na internet, gosta de acompanhar conteúdos desse tipo, como horóscopos e tiragens de tarô, dos profissionais que levam o assunto a sério. Madama Br0na, Marcelo Tarot e milkstrology estão entre os seus perfis preferidos nas redes. E se você é daqueles que passa o olho pelas previsões e não se preocupa, Chris contempla o outro time. "Eu tomo mais cuidado em algumas decisões que vou fazer ou no que falar, dependendo do dia, do humor e, por que não, da previsão", explica.
Este ano, por exemplo, esperou o momento certo para se demitir de um cargo no qual não estava se sentindo valorizada, dado que o salário era baixo e sentia receio de não conseguir ajudar nas contas de casa, caso não conseguisse outro emprego logo. Foi após uma dica do tarô e do horóscopo que bateu o martelo e apostou na demissão. Não se arrepende e, hoje, considera uma das melhores escolhas que fez em prol da sua saúde mental.
Saiba Mais
Lei da atração
A vontade de acreditar em algo maior motivou a jovem Laura Abrantes, 21 anos. O interesse inusitado em aprender mais sobre a lei da atração é chamado por ela de "despertar espiritual". Depois de assistir ao documentário Segredo, que explicava a origem do tema e como ele surgiu, a estudante de publicidade ganhou ainda mais curiosidade para se aprofundar nas crenças e boas energias do universo.
Diariamente, a principal prática exercida — entre tantas existentes — é a Carta para o Universo, que consiste em agradecer, em um papel, pelas coisas que se quer, como se já tivessem acontecido, mas que ainda não existem, pelo menos não no tempo presente. "Eu pratico a gratidão. Se você quer coisas boas, você precisa estar na mesma frequência que elas, então é preciso estar constantemente agradecendo o que já tem para que se consiga o que quer", conta Laura.
A partir dessa nova vivência e do abraço aos sonhos que moram no peito, a jovem passou a ter mais esperança e pensar que a vida, de alguma maneira, poderia ser mais leve. A valorização dessa perspectiva fez com que Laura agradecesse mais pelo que já tem, como se isso fosse uma ponte para que ela conquistasse tudo o que almeja. Essa frequência com o mundo, como a mesma descreve, torna tudo mais possível.
"Você atrai o que você emana, por isso é sempre tão importante ser positivo para atrair coisas positivas", afirma a estudante. E para 2023, com o intuito de traçar metas e alcançar objetivos, ela revela que começou a montar o seu mapa dos sonhos — um plano de vários aspectos da própria vida — com metas mais claras e visualmente definidas para o ano que vai se iniciar. "Quero lembrar sempre o que quero e onde quero chegar", ressalta Laura.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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