Encontro com o chef

Com pratos típicos e muita alegria, dona de bufê recria a magia do Natal

Dona de tradicional bufê da cidade se reinventa após a pandemia e cria o Quintal da Dona Graça, onde há dois anos celebra o Natal e o São João

Graça Yoda nunca teve medo de trabalho. Aos dois anos de idade, deixou a cidade natal, Lajedo, no agreste pernambucano, em um pau-de-arara, ao lado dos pais e dos sete irmãos. O destino foi o interior de São Paulo, onde o pai, inicialmente, foi atuar na colheita de café.

Na capital paulista, para onde a família se mudou, Graça teve o seu primeiro "emprego", aos 10 anos, como babá, em uma casa de família. "Foi aí que começou o meu amor pela gastronomia, tive acesso a comidas que nem imaginava que existiam. Na minha casa, minha mãe preparava apenas feijão, arroz e bife espragatado. Descobri um mundo novo", conta.

Depois dessa experiência, Graça trabalhou como costureira, entrou como menor aprendiz em uma empresa de cosméticos até que, aos 18 anos, conseguiu uma posição como secretária na multinacional Caterpillar. Foi lá que conheceu Norizo Yoda, como quem viria a se casar tempos depois. Aos 23 anos, em 1974, desembarcava em Brasília, após o marido ter passado em um concurso do Banco Central.

Em terras candangas, concluiu o então segundo grau, ingressou na faculdade de letras e, assim como o companheiro, começou a trabalhar no Banco Central. Em casa, o maior hobby era cozinhar para a família e os amigos. Pesquisava, estudava e deixava a criatividade correr solta entre as panelas. A paixão era tanta que, um dia, viu que poderia virar profissão.

A cidade recém-inaugurada e ainda com poucas opções gastronômicas tinha o cenário ideal para se empreender na área. Decidiu, então, abrir uma pastelaria. O Pastelão funcionava na 706/707 Norte e oferecia pastéis com os mais diversos recheios e sucos naturais. "Na época, Brasília só tinha a pastelaria Viçosa, mas só servia opções de carne e queijo", recorda-se.

Graça lembra com carinho do momento em que sua carreira gastronômica deu uma virada de chave. No início dos anos 1980, ela, o marido e o filho mais velho se mudaram para o México, onde passaram uma temporada de três meses por conta do trabalho dele. Naquela época, relembra, existiam confeitarias, cafeterias e padarias maravilhosas na capital mexicana. "Aquilo abriu a minha mente. Além de me apaixonar pela cozinha mexicana, queria aprender a fazer aqueles doces maravilhosos."

De volta a Brasília decidiu trocar a pastelaria por uma confeitaria. Em 1982, a Docinho abria as portas na 712 Norte. "Ela fez história em Brasília. Aqui, não existiam bufês e nós fazíamos casamentos, aniversários e festas diversas. Tinha fim de semana que preparávamos 30 mil salgados. No Natal, chegávamos a vender 200kg de rabanada, que, modéstia à parte, faz sucesso até hoje." No cardápio, tortas, tarteletes, mil folhas, pavês, docinhos e salgados diversos.

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Pioneirismo e reinvenção

Na época, Graça fez curso de confeitaria, montou uma fábrica de suspiros e minibolos, que eram vendidos em supermercados da cidade. Curiosa e ativa, a pernambucana estava sempre inventando receitas, visitando a cozinha de diversos países e encontrando formas de melhorar os negócios. Em 2000, viu que estava na hora de abrir um bufê, onde pudesse pôr toda a criatividade em prática.

Além de contar com o próprio espaço, no Park Way, o La Fiesta ia até o cliente preparar a festa dos sonhos. "Eu cozinhava de tudo: comida árabe, mexicana, feijoada. Fui a primeira daqui a fazer crepes e a finalizar o risoto na hora", orgulha-se. Como ama viajar, Graça sempre busca inspiração gastronômica pelos locais por onde visita. E tudo sempre foi refletido no serviço que prestava ao brasiliense.

E assim foi por duas décadas, até que veio a pandemia e o setor de festas foi obrigado a parar. "Eu tinha 17 casamentos agendados quando veio o lockdown. Alguns eu ainda fiz; outros, devolvi o dinheiro", lembra. A crise sanitária — e todas as outras desencadeadas por ela — levou dona Graça a repensar o negócio.

"Não tinha noção de que tudo pode mudar de repente e que, depois que você passa dos 70 anos, tudo pode acontecer. Decidi que não ia mais aceitar fazer casamentos agendados com mais de um ano de antecedência. É preciso muito cuidado e responsabilidade ao assumir um compromisso com o outro. É o sonho de outras pessoas que está em jogo", reflete.

Ao mesmo tempo, a empresária tinha compromisso com os funcionários, que dependem dela para sustentar a família. Ela precisava, portanto, se reinventar. Foi assim que surgiu a ideia do Quintal da Dona Graça, que estreou com uma vasta programação junina, de maio a agosto do ano passado. Em novembro e dezembro, foi a vez de transformar o quintal em uma cidade natalina. O sucesso foi tanto que, em 2022, os eventos aconteceram ainda maiores.

Hoje é o último dia em que o Quintal de Natal (@quintaldadonagraca) receberá os brasilienses — uma ótima oportunidade para celebrar a data com os parentes e os amigos. Na ocasião, enquanto as crianças se divertem nas várias atrações montadas na vila natalina, todos podem se deliciar com o cardápio preparado por dona Graça, que inclui peru com chutney de frutas e arroz natalino, porco assado com farofa e salpicão, mini-hambúrguer, opções de massas, cachorro-quente, algodão doce e crepes no palito de diferentes sabores.

Entre os doces, a famosa rabanada da banqueteira não poderia ficar de fora, assim como o panetone, o fondue de chocolate com frutas e outras sobremesas. Para os leitores da coluna, dona Graça compartilha a receita do tradicional salpicão, fácil de fazer e perfeito para o almoço de domingo natalino.

Hoje aos 71 anos, dona Graça se diz realizada com as edições do Quintal. "Eu gosto de desafios. E não tem nada mais gratificante que ver a alegria no rosto das crianças, que chegam para me conhecer e agradecer a festa." Feliz Natal a todos!

Salpicão da Dona Graça

Claudio Andrade/Divulgação - Encontro com o chef - Salpicão feito por Graça Yoda

Ingredientes
•200g de frango
•200g de frango defumado
•200g de maçã picada
•130g de salsão
•120g de batata palha
•100g de uva passas
•650g de maionese
•150g de presunto picado
•340g de milho verde
•150g de cenoura ralada

Modo de preparar
•Tempere e cozinhe o frango e, em seguida, desfie.
•Cozinhe e desfie o frango defumado.
•Pique a maçã, o salsão e o presunto.
•Rale a cenoura.
•Após finalizar os procedimentos, misture bem todos os ingredientes e sirva.

Rende: 2,3kg
Serve: 10 pessoas

Instagram: @quintaldadonagraca