Visitar a casa dos avós ou de pessoas mais velhas significa deparar-se com elementos que nos transportam no tempo. Da cadeira de balanço ao filtro de barro, nota-se a simplicidade da decoração e a valorização de produtos feitos à mão, característica, em certa medida, bastante brasileira. Afinal, atire a primeira pedra quem nunca entrou em um banheiro com o famoso conjunto de tapetes de crochê ou com tais materiais cobrindo os eletrodomésticos da cozinha.
Pois bem. A tendência retornou, mas não por acaso. Como toda expressão artística, há uma ciclidade em seu auge e em seu declínio. Na moda, por exemplo, assiste-se à volta das calças de cintura baixa, tão renegadas há pouco anos. Já na arquitetura e no design de interiores, a vez é da decoração afetiva, daí a inclusão de artigos feitos de crochê ou de tricô.
"Por vivermos um boom tecnológico, com muitas decorações pós-modernas, parte da nossa personalidade é apartada do lar, visto que os objetos são facilmente replicados. Por isso, há, agora, a busca por elementos com maior valor simbólico, com o fim de trazer a sensação de pertencimento ao espaço", explica a arquiteta, urbanista e pintora Carmen Jimenez, da Blu Arte e Arquitetura.
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Nesse sentido, o crochê, assim como outros artesanatos, tem a característica especial do "fazer com as mãos", tornando as peças únicas e irreplicáveis, uma vez que até erros sutis, como um nó maior que o outro, relembram que "não se pode viver apenas de funcionalidade, mas também de beleza", completa Carmen. Em concordância, a arquiteta Thaís Rodrigues reforça que a história e o afeto por de trás dessas produções potencializam seus significados, tópicos indispensáveis na criação dos seus projetos.
Para tornar esse artesanato um diferencial na decoração, vale atentar-se à composição do ambiente, pois mesmo em espaços mais corporativos, que geram a sensação de frieza e impessoalidade, é possível deixar marcas de identidade e, por que não, de afeto. Em consultórios médicos, por exemplo, tais elementos, assim como a madeira e os materiais naturais, podem ser peças-chave para acolher melhor os usuários.
"Hoje, o tricô está tão modernizado, com tantas tramas, cores e texturas, que se tornou atemporal e usual. É um super aliado para cachepôs com vegetação, para adornar uma estante, ou até mesmo como acessório, dando aquele toque final", complementa Thaís. Para a arquiteta, a dica é deixar a criatividade fluir de forma harmônica, equilibrada e proporcional. "Treine o seu olhar e fique atento aos detalhes da produção", finaliza.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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