Bichos

SOS pets: a essencialidade dos primeiros socorros aos peludos

Nem sempre é possível recorrer ao atendimento veterinário imediatamente. Por isso, saber como agir em situações de emergência pode ser decisivo para salvar a vida do animal

Quando algum dos nove gatos da contadora Diana Luz se aventura bebendo um pouco da água da piscina, a intoxicação é certa. Vômitos, fezes com aparência anormal e prostração são sintomas esperados, mas duram pouco, pois a tutora sabe exatamente o que fazer para solucionar o problema.

Como prevenção, mantém um kit de primeiros socorros em casa, que inclui pomadas para ferimentos, spray prata cicatrizante, suplemento alimentar, vermífugo e comprimidos de carvão ativado — este último indicado para a situação. A piscina, inclusive, só é descoberta em dias de limpeza, justamente para evitar acidentes domésticos.

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As instruções de como agir em casos de emergência vieram do primeiro veterinário com quem teve contato, quando ainda resgatava apenas cães — Diana acolhe animais abandonados na chácara onde vive. Os peludos, alimentados somente com ração, vez ou outra comiam algo indevido e necessitavam de pronto socorro. As tantas idas à clínica trouxeram, então, aprendizados.

Nos resgates, a preparação também é imprescindível. Por isso, além de muita paciência, a tutora leva ração, coleiras, focinheiras, cordas, cobertas e caixas ou colchonetes. Para a própria proteção, luvas. Mesmo com o contato do profissional de confiança dos seus bichos sempre em mãos, ela não dispensa as lições aprendidas para quando estiver sozinha. E você? Sabe como agir em contextos de emergência?

A Revista do Correio conversou com as veterinárias Lorena Nichel, especialista em clínica geral, e Fernanda Franco, do Hospital Público Veterinário, para entender o que fazer quando o atendimento médico imediato não for possível. Afinal, muitas vezes, as primeiras ações dos tutores já são suficientes para salvar a vida do amigo de quatro patas.

Engasgo

Notou que o animal está com dificuldades para respirar, apresenta gengivas azuladas ou esbranquiçadas e realiza movimentos estranhos, como levar a pata à boca tentando tirar algo? Atenção, pois ele pode estar engasgado.

Tente inspecionar a sua cavidade oral, a fim de buscar algum corpo estranho que esteja causando o sufoco. A Manobra de Heimlich, também utilizada em humanos, pode ser uma opção. Para realizá-la, segure o pet com as costas apoiadas em seu peito, abraçando-o e mantendo as mãos abaixo das costelas; em seguida, pressione o corpo do peludo com força para cima, visando empurrar o que obstrui sua via respiratória.

Outro método possível, especialmente em animais de pequeno porte, é, com delicadeza, levantá-los pelas patas traseiras, inclinando-os para frente. A força da gravidade pode ajudá-los a expelirem o objeto.

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Envenenamento e intoxicação

Antes de tentar desintoxicar cães ou gatos, procure identificar a substância ingerida ou inalada, além da quantidade e do tempo em que está agindo, pois isso ajudará o veterinário a escolher o melhor protocolo durante o atendimento de emergência. Os sintomas podem variar desde letargia, prostração, apatia e vômitos até agitação, tremores e convulsões.

Caso o pet tenha vomitado, também é recomendável recolher uma amostra do conteúdo, porém, nunca tente provocar o vômito, como alerta Lorena. "Dependendo do elemento, há o risco de queimar seu esôfago e agravar o quadro. Ademais, é comum que as pessoas acreditem que o leite auxilie em situações de envenenamento, contudo, em alguns casos, a bebida reage com a substância e, igualmente, piora o estado do animal."

Em contrapartida, o carvão ativado ajuda a reduzir a absorção do agente tóxico pelo organismo, devendo ser administrado apenas nos primeiros minutos após a adversidade. Siga as orientações do fabricante e ofereça o produto diluído ao seu amigo pela boca, usando uma seringa sem agulha. Lembre-se que muitos alimentos consumidos pelos humanos e aparentemente inofensivos — chocolate, uva e cebola, por exemplo — são tóxicos para eles.

Picadas de insetos

Procure identificar qual espécie foi responsável pela picada, pois, caso o bicho de estimação seja alérgico à fisgada, o risco de complicações é maior, dado que o focinho fica inchado e compromete as vias aéreas. A qualquer sinal de anormalidade, leve-o imediatamente ao veterinário. A depender da situação, o profissional pode recorrer a medicamentos e/ou procedimentos mais invasivos.

Cortes

Lave a região afetada com água corrente para diminuir a chance de complicações e infecções; com um pano limpo, pressione-a de forma constante e firme, evitando que o animal perca muito sangue. "Independentemente da situação, o tutor não deve medicar o bicho sem a orientação de um médico veterinário, sob o risco de causar intoxicação, além de não utilizar álcool ou soluções desinfetantes para limpeza de feridas", destaca Fernanda Franco.

Queimaduras

Essas lesões podem ter origem térmica, elétrica ou química. "Em animais domésticos, as queimaduras costumam decorrer de acidentes com fiação, aparelhos eletrônicos, água fervente, além da exposição solar excessiva", explica a veterinária Lorena.

Resfrie a área queimada com água corrente para eliminar resquícios do agente nocivo e interromper a progressão do calor. Essa ação, contudo, é contraindicada quando a região acometida for superior a 15% do corpo do pet, dado que pode causar hipotermia.

Brigas com outros animais

Em casos de brigas de rua, nunca tente separar os animais usando o próprio corpo, não jogue água quente, não bata nem chute-os. Evite puxar seu amigo pela coleira, visto que, com os instintos aflorados, ele pode avançar em você. Mantenha a calma e procure chamar a atenção dos pets envolvidos, utilizando jatos de água fria, fazendo barulho com tampas de panelas ou batendo palmas.

Em caso de ferimentos, se o peludo permitir, lave o local com água corrente, seque com pano limpo e procure um hospital veterinário. Por fim, vale o alerta: a vacinação antirrábica precisa estar em dia para, nos conflitos envolvendo cães ou gatos desconhecidos, o animal manter-se protegido contra a doença.

Fraturas internas e externas

Não manipule o animal de forma desnecessária e exagerada, evite movimentos bruscos e mantenha a região afetada o mais estável possível. As fraturas podem ser imobilizadas com o auxílio de esparadrapo e objetos retos, como palito de picolé e pedaço de papelão.

Quando o rompimento for exposto, o melhor a ser feito é colocar um pano limpo sob a área atingida. A veterinária Fernanda adverte que nunca se deve tentar colocar o osso no lugar ou manipular o local de forma excessiva, porque há o risco de piorar a situação.

Afogamento

Retire o pet o mais rápido possível da água e mantenha-o com a cabeça inclinada para baixo, fazendo com que o excesso de água na boca e no trato respiratório saiam com mais facilidade. "Em hipótese alguma, tente realizar a manobra de boca-focinho para reanimar o animal. O ideal é levá-lo depressa ao atendimento veterinário", pontua Fernanda.

Manobras de ressuscitação

Antes de empregar manobras de ressuscitação no animal, utilizadas quando há parada cardiorrespiratória, é preciso verificar os sinais vitais dele. Para isso, observe se o tórax do pet está mexendo; coloque o dorso da mão em seu focinho, a fim de confirmar se tem saída de ar; posicione o indicador ou o dedo do meio abaixo da última almofadinha das patas dele e veja se há batimentos cardíacos, averiguando se as batidas estão em sincronia com os movimentos do peito.

Com as vias aéreas livres, coloque o bichano deitado de barriga para cima, ajeite sua língua, feche sua boca e assopre as narinas com intensidade suficiente para chegar até os pulmões. Depois, relaxe um pouco a boca para que o ar saia. Repita o processo a cada dois ou três segundos, de forma comedida para não danificar o pulmão, em caso de filhote, até o animal voltar ou você chegar no atendimento.

Kit de primeiros socorros

Luva de procedimento, esparadrapo, tesoura, gaze, atadura, toalha seca e limpa, colar elizabetano, algodão, soro fisiológico e termômetro.

* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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