Segundo o estudo A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), produzido em 2017, mulheres negras tinham chances menores de receber anestesia durante o parto. De mãos dadas com o racismo, as desculpas eram de que elas eram mais fortes e resistentes à dor.
No que tange à promoção de cuidados com a pele negra, o desdém é semelhante, ainda que de forma menos grave. Prova disso é a falácia, tão disseminada no passado, de que a cútis preta não precisa de proteção solar, por exemplo.
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"O preconceito racial permeia todas as estruturas, inclusive a da saúde. A verdade é que nossa pele é sensível a diversos fatores e merece atenção como a de qualquer outra etnia", frisa o dermatologista, especializado em pele preta, André Moreira.
Entre as particularidades dessa cútis, vale citar: a maior carência de água, exigindo uma hidratação mais vigorosa para evitar o ressecamento; a tendência a manchas, demandando maior prudência na realização de procedimentos que causem trauma e inflamação; e a perda de volume no processo de envelhecimento, diferentemente da pele branca, que adquire manchas de sol e rugas.
Quanto às madeixas, observa-se maior propensão à quebra, em especial os cabelos crespos, daí a necessidade de cautela ao optar por alisamentos e outras intervenções químicas.
Para a rotina de skincare, as orientações básicas são as mesmas para todas as peles. Dessa forma, não dispense o uso de um bom sabonete, de um protetor solar e de um item de tratamento. Enquanto os dois primeiros são decididos pela união do gosto pessoal, das necessidade da cútis e do custo benefício, o último é o que mais depende da avaliação de um especialista, visto que cada paciente possui uma demanda diferente, da acne a inflamações mais graves.
E na hora da depilação, há um método mais seguro para a pele preta? De acordo com Moreira, sim. Trata-se do laser ND-YAG, no qual a emissão de energia luminosa com o comprimento de onda de 1064nm consegue penetrar pelos profundamente enraizados. Nesse caso, o tratamento deve ser feito por um profissional capacitado, já que as complicações da técnica são sérias e podem ser irreversíveis.
"Lâminas, ceras e cremes depilatórios podem causar foliculite ou irritações. Se o desejo for simplesmente reduzir o tamanho do pelo, recomendo aparar com tesoura ou barbeador com o pente", complementa o dermatologista.
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Make satisfatória
A euforia em participar de eventos importantes, daqueles aguardados há tempos, pode se transformar em frustração quando, no momento da preparação, as coisas não saem como o esperado. Aquela maquiagem, que deveria fazê-la se sentir bonita, torna-se motivo de estranheza, pois, de repente, a pele preta fica cinza!
Certamente, houve equívoco na escolha do tom da base, mas, também, despreparo por parte do profissional. Muitos, inclusive, consideram ser um diferencial saber maquiar rostos que não sejam brancos, quando, na verdade, trata-se de uma obrigação do ofício, como pontua a maquiadora e empresária Cynthia Cardoso.
"É importante destacar a dor que a mulher preta carrega com suas experiências ao se maquiar, daí a relevância desse profissional capacitar-se para atendê-la com respeito e dignidade, utilizando técnicas e produtos que considerem as mais diversas características", acrescenta.
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Nesse caso, vale o adendo: peles negras possuem diferentes tonalidades no rosto, então, pode ser que haja a necessidade de utilizar dois tons de base para uniformizá-las. "Cútis mais retintas possuem hiperpigmentação, principalmente ao redor dos lábios e abaixo dos olhos, na área das olheiras", explica a maquiadora. Com o fim de camuflar esses tons, pode-se usar corretivos laranja ou coral, "coringas".
Para além da base, o contorno no nariz, para afiná-lo, e os truques para diminuir os lábios são desafios a serem vencidos. Mas há progresso. Para Cynthia, por exemplo, são raras as clientes que ainda solicitam essas táticas, e a mudança é fruto de um processo de aceitação, motivado, ela acredita, pelas redes sociais. Nesse ambiente, há maior espaço para discussões e questionamentos do antigo (e inalcançável) padrão de beleza.
Quanto ao mercado de cosméticos, também é preciso avançar. "É comum se deparar com lojas tradicionais de maquiagem, em que os tons para pele negra simplesmente não estão disponíveis nas prateleiras", critica. Por outro lado, entre as marcas que não deixam o papel social de lado, cabe mencionar: a Fenty Beauty, da Rihanna, responsável por apresentar 50 tons de bases, e a Negra Rosa, empresa nacional especializada em pele preta. Veja, abaixo, essas e outras sugestões de produtos adequados para peles pretas.
* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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