A mistura de duas tendências trouxe de volta um estilo de revestimento que foi um dos grandes queridinhos algumas décadas atrás. Unindo a decoração afetiva, na qual elementos de design nos levam de volta a momentos felizes, e a busca por técnicas e materiais mais sustentáveis, o uso de cacos na decoração ganha força e volta a aparecer.
O estilo chamou a atenção em um ambiente da CasaCor São Paulo, no qual foi usado como principal revestimento no piso. Os arquitetos Felipe Stracci e Luciana Pitombo, do escritório Plantar Ideias, criaram o espaço Sol:.ar buscando uma atmosfera aconchegante e leve, e logo pensaram nos maxicacos.
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"Os caquinhos fazem parte da memória da arquitetura brasileira, presentes nas nossas casas desde muito tempo. Além de trazer esse sentimento nostálgico, a cerâmica contribui para o ar leve que queríamos no espaço", explica Felipe.
Luciana acrescenta que muito da estética relacionada à memória afetiva está em alta. "Tudo que traz boas lembranças está sendo mais desejado e evidenciado pelas pessoas. É aí que o caquinho casa perfeitamente, e vem à tona não só como caquinhos, mas maxicacos também, uma versão mais atual", completa.
Eles acreditam que a queda da popularidade está relacionada às novidades que foram surgindo ao longo dos anos e da preferência por revestimentos que precisam de menor rejunte. Mas, agora, a versatilidade e as possibilidades trazidas pelos cacos voltaram a ser grandes atrativos.
Em espaços externos e mais rústicos, o maxicaco se torna um coringa. Conversa bem com o cimento queimado e outros tipos de piso e cores, além de ter um aspecto assimétrico, que permite que ele seja aplicado em pisos com desníveis e recortes, sem prejuízo estético.
Espécie de releitura, os maxicacos são uma alternativa para quem prefere usar menos rejunte e, além do tamanho, podem vir em todo tipo de cor e estampa, a depender da decoração do ambiente do qual farão parte.
O estilo também pode mudar. De acordo com os caquinhos escolhidos, podem ter ares rústicos, contemporâneos e modernos. A depender de como são combinados podem ser elegantes, aplicados em ambientes formais ou mais descontraídos. É possível migrar do piso para paredes e até bancadas, para quem deseja trazer apenas um toque mais pontual da técnica.
Futuro e passado
As referências do uso de caquinhos no Brasil começam no século 19, no boom da industrialização, principalmente entre 1920 e 1950, quando fábricas de cerâmica se instalaram em São Paulo.
A produção cerâmica se popularizou e as peças tingidas, sobretudo de vermelho, tornaram-se queridinhas nas casas de classe média. O uso dos cacos surgiu como uma alternativa para as diversas peças que se quebravam durante os processos de produção, transporte e manuseio. Elas eram aproveitadas pelos operários, e a reutilização de material se transformou em estilo.
A arquiteta Jéssica Campos acrescenta que as cerâmicas e os azulejos eram um item de luxo para muitas pessoas e os cacos eram usados em calçadas e outros espaços mais casuais. O material se tornou mais acessível e foi substituído por porcelanatos e placas maiores de diversos materiais.
O reaproveitamento é uma das alternativas necessárias quando falamos em design e arquitetura mais sustentáveis, fundamentais para o futuro da indústria. As formas orgânicas, em evidência, são um convite para o uso dos cacos, que podem ser empregados com um pouco mais de liberdade, evitando o desperdício de material quebrado e aproveitando resíduos de outras obras e reformas.
Caquinhos por todo o lado!
A cerâmica é um material versátil, o que permite que seja usada não somente no piso, mas em paredes e até no teto. Jessica sugere ainda o emprego de cacos menores em peças mais delicadas, como vasos, jardineiras e objetos de decoração.
O engenheiro Fernando Pauro, da Grid Engenharia, destaca que é possível aplicar os casos em todo tipo de ambiente, internos e externos, pisos ou paredes. "Com exceção de piscinas, única restrição para a aplicação", completa.
O especialista destaca que os tons são escolhidos de acordo com o projeto de interiores, tudo para manter uma composição harmoniosa. Os tamanhos também são definidos a partir do desejo estético — aqui vale o gosto de quem vai viver naquele espaço. Fernando, no entanto, alerta que é necessário considerar as dimensões em que os cacos serão aplicados, para evitar um aspecto bagunçado ou malfeito.
A dica do engenheiro é que se você tem duas paredes que formam entre elas um ângulo de 90º, é melhor que a escolha seja pelo maxi, uma vez que você pode aplicar a continuação na parede ao lado, em formato livro aberto. Dessa forma, mesmo com a aleatoriedade da composição, cria-se a ideia de continuidade e harmonia.