Muitas pessoas não gostam de estar em hospitais e se sentem ansiosas ao ter a necessidade de frequentar consultórios médicos. Em muitos casos, isso se deve a experiências traumáticas e desafiadoras que viveram em tais espaços, que podem afetá-las por toda a vida. Buscando mudar esse cenário, entram em cena profissionais de diversas áreas com abordagens que visam colocar o paciente no centro do atendimento, com um olhar baseado em ciência e empatia.
De acordo com a psicóloga Andressa Santos, é uma abordagem pautada no respeito, com um olhar integral do indivíduo, valorizando aspectos biológicos, psicológicos e sociais, indo além de um diagnóstico. "Busca enxergar a individualidade de cada um para, assim, prestar o cuidado a partir do que está sendo demandado", informa a psicóloga.
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Fabrício Guimarães, dentista da clínica odontológica Humaniza, explica que no caso da odontologia, não é raro encontrar pessoas com medo das consultas e com traumas existentes desde a infância. Principalmente para quem viveu outras gerações de dentistas, em que existiam menos tecnologias, técnicas mais agressivas e atendimentos tardios. Hoje, o cenário é outro, com a evolução dos tratamentos. "Ficou muito mais confortável para o paciente realizar qualquer procedimento, o que auxilia na diminuição dos traumas de dentistas", acredita.
Fabrício explica que existem diferenças entre a atuação tradicional e a odontologia humanizada. Na segunda, o foco não está no aumento do fluxo de pacientes e, sim, em oferecer um atendimento personalizado da forma mais confortável e completa possível. "Se o paciente procura um atendimento humanizado para a realização de um implante, por exemplo, ele será observado como um todo, e poderá, inclusive, diagnosticar e tratar outras doenças que ele nem sabia ter ainda", exemplifica. Além desse olhar mais cuidadoso, o vínculo com o dentista é mais próximo.
Essa relação que envolve confiança e atenção pode evitar traumas e ansiedade odontológica, levando a pessoa a postergar a consulta de rotina, por exemplo, que auxilia a prevenir problemas sérios. "Existem doenças que poderiam ser facilmente tratadas no início e podem evoluir para enfermidades muito maiores e que demandam tratamentos muito mais agressivos", alerta.
O atendimento humanizado se dá no enfoque das consultas, mas a maior parte dos profissionais se preocupa com outros aspectos, como as sensações antes do atendimento. "O ambiente precisa ser aconchegante para acolher o paciente, com músicas em baixo volume ou sons da natureza. Estimular o olfato com fragrâncias suaves e aromatizantes e utilizar cores para transmitir calma e tranquilidade", detalha a dentista Nathália Novaes.
Outro ponto importante é o cuidado com o público infantil, como fazer adaptações de instrumentos para o tamanho menor das bocas dos pequenos, ter mais paciência e oferecer tratamento lúdico, que vise o menor estresse possível. "É essencial deixar a consulta menos mecânica, com cuidado e empatia", diz a dentista.
Tais cuidados evitam ainda sérias complicações futuras, como a odontofobia — um medo intenso e limitante de dentistas e de qualquer material relacionado à odontologia. "Na maioria das vezes, ocorre devido a algumas experiências desagradáveis, principalmente na infância, que podem marcar para toda a vida", explica Nathália.
Protagonismo
"Humanizar antes de tudo é respeitar", afirma a ginecologista e obstetra Bárbara Freyre. Para ela, é ouvir, explicar com clareza todas as opções e levar em consideração o desejo da paciente. "O atendimento tradicional foca apenas na doença. O atendimento humanizado vê que, por trás da doença, existe uma pessoa com medos, inseguranças e dúvidas", completa.
No caso da obstetrícia, o atendimento humanizado transfere à mulher à posição de protagonismo, em vez do médico. Bárbara afirma que a humanização significa compartilhar decisões e respeitar escolhas, não impor condutas e opiniões. É, também, a garantia de que, independentemente do que ocorra durante a trajetória, a mulher terá um parto respeitoso e gentil.
Embora pareça óbvio que o momento do parto deva ser único e respeitado pelo profissional que acompanha a gestante, não é o que ocorre em todos os casos. Estudo da Fundação Perseu Abramo, de 2010, mostrou que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência obstétrica no Brasil.
As ocorrências mais comuns desse tipo de intervenção violenta incluem obrigar a mulher a ficar em determinada posição na hora do parto, a manobra de Kristeller, que é a pressão feita sobre a barriga da mulher para empurrar o feto, que pode, inclusive, causar fraturas de costelas, ruptura uterina e traumatismo craniano no bebê, e a episiotomia, corte desnecessário feito sob o argumento de ajudar no nascimento.
Essas intervenções podem por em risco a vida da mãe e do filho, além de deixar marcas físicas e psicológicas para sempre. "Humanizar é intervir apenas quando é necessário para o bem-estar materno-fetal, baseando-se em evidências científicas. Quanto mais conheço da fisiologia do parto, mais escassas se tornam as intervenções", conclui Bárbara.
A profissional ainda pontua que o que caracteriza se o parto será humanizado não é a via de parto vaginal ou cesárea ou o espaço físico. "Não tem significado se a equipe não entender e valorizar que aquele momento é o mais importante de toda uma família", informa. Para isso, os profissionais de saúde, além de um tratamento atencioso, devem estar bem atualizados e realizando todas as suas condutas em evidências científicas e consentimento.
Na outra especialidade de Bárbara, a ginecologia, a humanização se dá na clareza das explicações e na criação de uma relação de confiança e livre de julgamentos. "Dessa forma, a paciente sente-se à vontade para expor sua intimidade e todos seus aspectos emocionais, sociais e culturais e, assim, receber assistência de forma adequada", esclarece.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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