Para celebrar a chegada da primavera e o retorno das chuvas no Centro-Oeste, nada melhor que um prato bonito. Para além dos clichês, uma refeição colorida faz mesmo bem à saúde. O interessante é que o período entre setembro e outubro é a época de várias frutas. Coincide também com o florescimento de espécies comestíveis como a capuchinha, uma Planta Alimentícia Não Convencional (Panc) de sabor marcante, semelhante à rúcula e ao agrião.
A presença de várias cores no prato revela um alto valor nutricional. Em geral, quanto mais cor, maior a variedade de nutrientes. É isso que informa a nutricionista Monique Martins (@monimartinsnutri), da clínica Ibranutro e do Hospital Santa Helena, da Rede D'Or. Felizmente, a estação é uma oportunidade para variar os ingredientes e cuidar da alimentação.
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É tempo de abacaxi, banana, caju, laranja e jabuticaba. De verduras, abóbora, alho-poró, almeirão, brócolis, chicória e couve-flor. Um incentivo para quem costuma servir-se de muitos itens amarelados. "Batata, mandioca e macarrão são ótimos, mas a prevalência deles não fornece muitas vitaminas", analisa a profissional.
Cada cor, um nutriente
É possível, inclusive, associar as cores dos alimentos aos nutrientes que eles oferecem. Os avermelhados levam licopeno, substância responsável pelo tom de vermelho, e são ideais para melhorar a circulação. Os verdes são abundantes em vitamina A, um tipo de vitamina protetora que auxilia na redução de danos às células.
Da mesma forma, os marrons ofertam fibras, que ajudam no funcionamento do intestino e no controle do colesterol. "Os amarelados, como laranja e manga, são fonte de vitaminas B2 e B3, que atuam no sistema nervoso. Outro componente do qual são fartos é o betacaroteno, pigmento antioxidante natural", completa Monique.
A nutricionista Julia Canabarro, do software de nutrição Dietbox, reitera que os produtos ficam mais nutritivos quando aproveitados nos meses que estão em alta. "Além de saborosos e mais em conta", estimula. A exemplo de frutas e vegetais, vale aproveitar as Pancs da temporada. O nome, que pode parecer estranho, refere-se às plantas comestíveis e são boas opções, tanto para colorir quanto para adicionar sabor à comida.
Época das flores
Cada vez mais estudadas, sabe-se que o corpo se favorece principalmente dos flavonoides das flores — que são compostos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Por não serem sintetizados pelo corpo, é importante obtê-los por meio dos alimentos. Entre as Pancs, está a divertida dente de leão, a flor amor-perfeito, cravina, lavanda, madressilva, flor de abóbora e flor de mel — que puxa para o sabor de mel, como sugere o nome, e dá um toque agridoce em pratos salgados.
A recomendação de Julia Canabarro é pesquisar se é possível o consumo da opção escolhida. Flores vendidas em floriculturas não devem ser ingeridas. O ideal é buscar produtores especializados em Pancs, em hortifrútis e feirinhas. Elas podem ser protagonistas de uma refeição ou aproveitadas esteticamente, como parte da decoração.
Assim faz o estudante de ciências biológicas Matheus Corrêa, 21 anos. Idas a feiras fazem parte da rotina dele. Matheus e os pais priorizam também as barraquinhas de frutas que ficam nas quadras e ao longo das vias. Sempre que possível, fazem uma parada para conferir alguma opção boa e barata para levar para casa.
"Quando é época de um alimento, a oferta cresce e o preço dele fica mais baixo. Buscando o produto fresco, ainda encontramos muita produção da agricultura familiar e cultivos sem agrotóxicos, mais naturais. Acabo juntando a prática socioambiental à vida saudável", conta. Em casa, compõem salada de frutas, sucos, pratos para o almoço, sopas e caldos com ingredientes da estação.
Desde que fez um minicurso que jogava luz sobre a falta de conhecimento das diferentes formas vegetais, o estudante passou a incluir também Pancs na dieta: ora pro nobis, taioba, hibisco (para chás) e peixinho, sua favorita. Há quem não imagine os nutrientes delas, que são ricas em teor proteico, fibras e vitaminas.
Matheus tem acesso às Pancs comprando de produtores que expõem em feiras e por meio de amigos que cultivam as plantas em casa. "Peixinho fica muito bom empanado, como petisco. Faço até molho para acompanhar. A taioba é uma boa substituição para a couve. Gosto de usar as flores na finalização, em cima de um arroz, por exemplo", conta.