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Será que você faz parte? Conheça o clube das mulheres exaustas

É fato que lidar com inúmeras responsabilidades e expectativas gera ansiedade para qualquer pessoa. Para elas, entretanto, as pressões são multiplicadas e têm como plano de fundo a desigualdade de gênero

Quem nunca quis fazer parte de um grupo? Sentir-se pertencente a uma comunidade? Aqui no clube das mulheres exaustas, você, amiga cansada, tem o seu lugar! Mas, como toda associação que se preze, existem requisitos para entrar e regras a serem cumpridas. Precisar equilibrar profissão, filhos e cuidados com a casa; ter que lembrar de todas as responsabilidades do restante da família e ser cobrada para estar sempre bonita e dentro do padrão estético são algumas das condições. E não vale reclamar, ok? Porque uma das regras é manter-se agradável e pacífica, tal qual esperam que você comporte-se. Caso cumpra todas as exigências, parabéns, você faz parte do clube das mulheres exaustas!

Mesmo com avanços trabalhistas e maior divisão nas tarefas domésticas, as expectativas do lar ainda se voltam para as mulheres. Na pandemia, inclusive, essa desigualdade foi escancarada — isso sem contar a carga mental e as cobranças estéticas. Não deu outra: independentemente da idade, elas estão adoecendo. Pensando nisso, a Revista do Correio conversou com mulheres que compartilharam suas angústias e deram conselhos do que fazer quando o único desejo for sumir.

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Nas sociedades contemporâneas, as mulheres trabalham mais que os homens em termos de uso do tempo, já que são responsáveis pelas funções domésticas e pelos cuidados, chamadas de trabalho de reprodução social, mesmo quando também atuam no mercado. É o que informa Marjorie Chaves, historiadora, educadora popular em saúde e doutoranda em política social pela Universidade de Brasília (UnB).

É como se essas demandas fizessem parte de uma suposta natureza feminina, sendo incorporadas em seus cotidianos sem que sejam consideradas como um trabalho. Daí a desvalorização deste, quando exercido por outras mulheres, as trabalhadoras domésticas.

“Atribuir às mulheres toda ou a maior parte das responsabilidades de casa é uma espécie de ajuste social para que os homens permaneçam dominantes no mercado, em sociedades patriarcais capitalistas. Quando exercem qualquer atividade remunerada, elas não são dispensadas do trabalho de reprodução social, o que justifica a exaustão em ter que conciliar ambas”, explica.

Mesmo aquelas que podem delegar suas tarefas para outras profissionais, lidam com o alto nível de carga mental, isto é, a função de gerenciar as tarefas do lar: fazer lista de compras, planejar a faxina, agendar consultas, lembrar dos compromissos dos outros. Parece familiar, não? Esse encargo é mais invisibilizado ainda, apesar de não lhes poupar a tranquilidade.

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“O maior entrave que encontramos para a mudança de cenário está na falta de reconhecimento do trabalho de reprodução social como trabalho. Ademais, o Estado não se empenha em investir em creches, restaurantes comunitários, lavanderias públicas ou até mesmo em cuidadores de idosos ou doentes como serviços públicos. Delegar as tarefas de casa e de cuidados para outras mulheres evidencia a desigualdade existente entre elas, uma vez que negras e pobres são maioria na ocupação de domésticas, e não possibilita a discussão sobre estas serem responsabilidade de todas as pessoas que vivem em um lar”, conclui.

Cultura machista

Crescer com o sentimento de que é responsável por fazer tudo por todos é, para a estudante Lays Miranda, 19 anos, constantemente fatigante. Em casa, mesmo com muitas tarefas domésticas divididas entre seus pais, as demandas que restam não costumam ser divididas igualitariamente entre ela e o irmão mais velho. “Minha mãe nunca cobrou muito dele em relação aos cuidados com a casa, o que passou a ideia de que essas obrigações não lhe dizem respeito”, conta.

Arquivo pessoal - Para Lays Miranda, as pressões estéticas foram as que mais a prejudicaram emocionalmente

A necessidade de amadurecer rapidamente, imposta por expectativas externas, mostrou desde cedo que, apesar de ser a caçula, certas expectativas eram voltadas especificamente para ela. Quando o pai precisou fazer uma cirurgia no joelho, por exemplo, foi Lays que o levou ao hospital, cuidou da sua alimentação e prezou todos os dias para que a recuperação corresse bem — aos 14 anos. “Meu irmão? Acordava e sentava em frente ao computador para jogar, sem preocupações.”

Concomitante a isso, lidar com as pressões estéticas lhe gerou inseguranças e foi tema de muitas sessões de terapia. Seus cachos, hoje exibidos com orgulho, entraram na fila da progressiva quando ela ainda era criança, aos cinco anos. Comentários ofensivos e de cunho racista, como “cabelo de bombril” eram ouvidos com frequência e contribuíram para o sentimento de desencaixe frente aos padrões de beleza. Na época, sua mãe, também vítima do mesmo desrespeito, não detinha artifícios para lhe ajudar no processo de aceitação.

E, como para as mulheres, nenhum modelo estético as incomoda sozinho, a jovem teve, também, dificuldades em acolher as próprias curvas, consideradas um excesso, algo que não deveria fazer parte de si. Aos 14 anos, escutou de uma parente que precisava emagrecer para entrar no vestido da festa de 15 anos. Foi o que fez. Além de perder quase 10kg, desenvolveu transtornos de imagem e um princípio de bulimia. “Fiquei viciada em contar calorias e, por vezes, jogava para fora a comida ingerida”, recorda-se.

Daí a importância em manter o acompanhamento psicológico, que faz desde os 12 anos e é, para ela, a melhor forma de buscar equilíbrio físico e mental. A terapia tem ajudado, inclusive, na ansiedade com os estudos, já que a aspirante à médica se dedica quase que integralmente para o vestibular, demandando (e recebendo) da família e dos amigos bastante incentivo. Nas conversas com a psicóloga, aprendeu um lema importante: “As expectativas das pessoas são delas e não minhas, portanto, quem tem que supri-las são elas, não eu. Por isso, as únicas ambições que devemos sustentar e realizar são as nossas!”. Memorizou?

Para as jovens que se sentem sobrecarregadas, seja com os estudos, seja com as tarefas de casa, ou mesmo para aquelas que entram em embate com o próprio corpo, Lays recomenda buscar ajuda profissional e preservar uma rede de apoio, com pessoas de confiança. Ademais, “toda mulher deve buscar sua independência financeira, pessoal e mental. Então, lute pelos seus objetivos e não se deixe levar pelos sonhos alheios”, aconselha.

Recebi o título de "mulher guerreira", devo comemorar (ou me preocupar)?

Competir com os amigos para saber quem deu a melhor desculpa para se esquivar das tarefas do lar é interessante, mas no clube das mulheres exaustas as disputas são mais divertidas e intensas. Para elas, alguns dos desafios são: manter a casa impecável (e falar para as visitas não repararem na bagunça); preparar a melhor lancheira do filho; fazer exercícios físicos diários para estar em forma (mas aquela faxina bem dada não conta, ok?) e buscar o melhor desempenho possível no emprego, para provar sua competência. Passa de fase quem recebe o diagnóstico de burnout ou depressão — coisa boba, né? Todo esforço vale a pena porque o prêmio é, nada mais nada menos, que o título de “Mulher Guerreira: a ‘faz tudo’ da minha vida”.

Há momentos que não tem jeito, o parafuso sai, o aparelho queima, dá “tela azul”. E, apesar de ser o esperado, em vista da quantidade imensa de demandas, essa situação é, também, um sinal de que é preciso desacelerar e rever o que de fato é sua atribuição ou não.

Todo excesso é danoso e, nesses casos, pode levar ao adoecimento psíquico e físico. Crises de ansiedade, ataques de pânico, esgotamento mental, burnout, processos depressivos maiores, o sentimento de que está sempre procrastinando são alguns dos problemas decorrentes da exaustão.

Fato é que dar conta de tudo é dar conta de muita coisa, e essa aparente resiliência pode até ser positiva, importante para o desenvolvimento e a adaptação, mas até que ponto é saudável? Naressa Klenda, psicóloga clínica pós-graduanda em neuropsicologia clínica e em psicologia social, explica que aprender a identificar os sentimentos com relação ao exterior é necessário para saber quando estabelecer limites.

Pergunte-se se, de fato, é necessário resolver todas as pendências sozinhas ou se não há a possibilidade de priorizar algo em detrimento de outra tarefa — realizada, quem sabe, por outro indivíduo. “Como podemos pedir para uma sociedade composta por pessoas adoecidas ajudar alguém que também está adoecido? O que pode ser feito para amenizar todo esse caos é cada um cuidar da sua saúde, se acolhendo e olhando para si com mais gentileza, para, a partir disso, aprender a zelar pelos demais, respeitando barreiras e subjetividades. Nesse sentido, a psicoterapia é essencial”, especifica.

Além disso, vale pontuar que ninguém tem a obrigação de corresponder e agir de acordo com a expectativa gerada por outros. Portanto, “se eu fico frustrado porque uma mulher não conseguiu corresponder às expectativas que eu criei, isso é responsabilidade minha por ter gerado a ilusão de que a pessoa estava ali para me agradar”, complementa Naressa.

Mãe, profissional e multitarefas

Ser educada para tornar-se uma boa dona de casa, mãe exemplar e esposa ideal parece algo distante no tempo, afinal, hoje as mulheres têm mais oportunidades e acesso aos estudos, certo? Não completamente. Para além das discussões progressistas no Twitter, enxergar que algumas limitações do passado ainda estão presentes na realidade de muitas mulheres é necessário. E nada de errado em desejar ter filhos, casar e cuidar do lar. O problema está em não ter outras opções.

Arquivo pessoal - Verônica gostaria de conseguir conciliar melhor as demandas do trabalho e o tempo em família

Verônica Franco, 46 anos, encarregada de departamento pessoal, recorda que no interior do Piauí, onde nasceu, esses ensinamentos eram seguidos à risca, assim como as funções da casa eram bem delimitadas: mulheres eram responsáveis pelos serviços domésticos, enquanto os homens, na roça, ficavam com o sustento da família. Para as meninas, as perspectivas eram escassas, dado que, no geral, casavam e engravidavam cedo.

Com ela, a história foi parecida e os desafios, imensos. Recém-chegada a Brasília, morando na casa de parentes, percebeu que a sua lista de escolhas era breve e, em primeiro lugar, estava a urgência em conseguir um trabalho para se sustentar. Assim, o sonho de tornar-se veterinária foi, aos poucos, se dissipando, em especial, porque ingressar em uma faculdade não era possibilidade.

Da oportunidade de fazer um estágio, surgiu, tempos depois, a conquista da contratação. Tornou-se encarregada e, desde então, está nessa função. Para ela, foi o trabalho que lhe deu a oportunidade de criar os três filhos. “Ser mãe na cidade grande sem uma estrutura de vida montada não é tarefa fácil. Descobri a gravidez aos 22 anos, em um relacionamento não estável e sem o apoio da família. Com muita garra, enfrentei essas dificuldades e tive minha primogênita”, relembra.

Foi no período da maternidade, inclusive, que reconheceu a força emocional que tinha, combustível para lidar com os obstáculos que viriam. E vieram. Conciliar o cuidado dos filhos, enquanto mãe solo, e as demandas do emprego é uma dessas adversidades, quase uma via de mão dupla: trabalhar para dar conforto à família, mas perder tempo de qualidade com ela.

O resultado? “Nos tornamos mães cansadas e estressadas, porque frequentemente levamos pra casa a carga de um dia difícil. Não vemos as crianças crescerem direito nem acompanhamos seu desenvolvimento escolar, como queríamos”, desabafa.

Hoje, com as crias já crescidas — uma moça de 24 anos e dois rapazes, com 20 e 12 —, as tarefas do lar são melhor divididas entre os quatro, mas o sentimento de frustração vez ou outra ainda dá as caras. Como é de praxe para as mulheres esgotadas, desenvolveu, após a terceira gestação, ansiedade e pânico. Foi no tratamento psicológico que passou a estudar e compreender melhor suas emoções e gatilhos. As cobranças e comparações da maternidade, na qual elas são julgadas constantemente, geram sentimentos de culpa e são algumas das alavancas para as crises.

“Em um mundo ideal, eu teria mais tempo para minha família, conciliando-a com um trabalho que não me ocupasse tanto o tempo. Haveria equilíbrio entre ser uma boa profissional e uma mãe mais presente. Sinto falta de fazer coisas simples, como poder levar meu filho na escola, que devido à correria do dia a dia não é possível”, conta.

Para as mulheres em situações semelhantes, o conselho, que também repete para si, é tentar não se cobrar tanto. “Cuide da sua mente, pois estamos fazendo o nosso melhor! A vida já nos coloca muitos pesos, então, seja gentil consigo”.

Será que o reconhecimento vem?

Após a última vencedora do prêmio "Mulher Guerreira" abrir mão do seu título, com a justificativa de estar infeliz e não suportar mais tamanha desvalorização, outras mulheres passaram a compartilhar suas insatisfações — algumas, inclusive, sentiam-se envergonhadas por temerem a alcunha de fracassadas. Juntas, porém, decidiram pela paralisação de suas atividades afetivas, domésticas e profissionais, por tempo indeterminado. Maridos, filhos, pais e amigos desesperaram-se. "Quem fará a janta?", "Quem me lembrará dos meus compromissos?", "Quem cuidará da tia doente?" e "Quem resolverá as pendências da firma?" foram alguns dos questionamentos. Para os mais velhos, a atitude delas foi como uma heresia, "coisa de mulher louca", disseram.

Dando a volta por cima

Entre 2012 e 2019, a psicopedagoga Patrícia Fernandes, 44 anos, passou por altos e baixos que comprometeram suas relações e sua saúde física e mental. A perda do emprego ao qual se dedicava muito, em uma multinacional que faliu, foi o estopim para as tensões seguintes — a decepção amorosa no casamento, a retirada do útero e a preocupação com a gravidez da filha adolescente —, que contribuíram para sua depressão e ansiedade.

Arquivo pessoal - Atualmente, Patrícia trabalha como psicopedagoga, cuidando de crianças com autismo e TDAH

Acostumada a ser independente e a cuidar das próprias finanças, a então administradora se viu perdida, em uma situação na qual nunca estivera. A soma de emoções resultou em insatisfação e estresse constantes, de forma que um móvel ou objeto fora do lugar se tornasse motivo de conflitos com a família. Entre os momentos bons, recorda-se do nascimento do neto, em 2016, e da conquista de um novo emprego, de recepcionista, meses depois, em uma clínica próxima a sua casa.

Apesar do salário bastante reduzido, se comparado ao ofício anterior, foi nesse ambiente que Patrícia se engajou em novas possibilidades profissionais, ingressando em um curso de psicopedagogia e ganhando destaque dentro da empresa. Mesmo com as novidades, os estudos tornaram-se mais uma demanda para dar conta, além da casa, da família e do trabalho. A depressão e a exaustão continuaram, então, de mãos dadas com ela.

Como se já não bastassem tantas responsabilidades, a estudante e o marido iniciaram uma obra, tiveram que mudar de casa e passaram a morar de aluguel. Foi a vez da dificuldade financeira bater à porta e o esgotamento físico dar as caras, aliado ao cansaço mental. Com o estresse intensificado, ela sentia que já não conseguia sequer reconhecer e agradecer o apoio que recebia da família. "Eu chorava muito, gritava e brigava por qualquer coisa que estivesse fora do lugar. Já não controlava as minhas emoções", recorda-se.

Com o curso de psicopedagogia concluído, veio a boa notícia: Patrícia foi convidada a atuar na clínica em que já trabalhava, agora na nova função. O reconhecimento profissional e a motivação para crescer estavam evoluindo juntos. Assim, ingressou em outros cursos e aprimorou seus atendimentos. "Hoje, acredito mais no meu potencial e tenho investido nisso. Eu me encontrei em uma área que jamais havia imaginado atuar", revela. Os estudos nas áreas da psicanálise e na teoria do comportamento, por exemplo, complementam sua formação e comprovam seu engajamento.

Os resultados positivos do seu trabalho lhe motivaram a cuidar, também, de si. Decidiu, então, aos poucos, realizar antigos desejos que, devido às demais preocupações, havia deixado de lado, como alguns procedimentos estéticos e o acompanhamento psicológico que, logo nas primeiras sessões, já a ajudou a ressignificar e entender certas dores — inclusive físicas, visto que havia somatizado no corpo seu sofrimento emocional. "Quando eu comentava sobre as dores nos braços, minha psicóloga questionava o que tanto eu queria pegar e buscar." Percebeu que sempre desejou ser perfeita, a melhor, e quando não conseguia, frustrava-se.

Para ela, houve, durante todo esse tempo, a falsa sensação de que estava cuidando dos outros, quando, na verdade, não estava sequer zelando por si. Mas a página virou. Sua autoestima e confiança foram melhorando e passou a priorizar as suas vontades, tornando-se mais assertiva. Ademais, passou a deixar os outros cuidarem mais das próprias vidas, se envolvendo menos nas decisões dos familiares. "Eu me sobrecarregava cuidando da vida do outro, enquanto a minha ficava para trás", conta.

Hoje, sua autonomia transparece na forma como age e se relaciona. “Me sinto mais bonita e alegre, e as pessoas percebem isso”. Com o emocional fortalecido, consequentemente, as dores de cabeça do passado reduziram significativamente. O olhar sobre os acontecimentos negativos mudou e, mesmo nas situações difíceis, procura enxergar um lado bom. “Se as coisas não saírem como o esperado, tudo bem, afinal, ninguém é perfeito. Procure sempre melhorar, mas por você mesma, aprenda a identificar suas emoções e faça o que gosta. Cuide-se!”.

O Clube existe! Mas é bem melhor do que parece

Um time de amigas do Avaaz, rede para mobilização social global, teve a iniciativa de criar grupos de WhatsApp para mulheres que desejam compartilhar abraços virtuais, dicas sobre autocuidado, finanças e truques para deixar a vida mais simples, é o Clube das Exaustas! Aqui a ideia é que, juntas, podemos superar qualquer momento, inclusive o pós-pandemia, com as surpresas e ansiedades do recomeço. Para entrar no grupo, basta clicar aqui

Urgência do sucesso profissional

Os três últimos anos da vida da cantora e professora Thaís de Matos, 23 anos, foram permeados por mudanças; primeiro, do curso de Letras para o de Música; depois, dos planos de se manter somente na sala de aula para atuar também nos palcos de espetáculos. Com a pandemia, a ansiedade dessas novidades se transformou em insegurança. “Será que vai dar certo?”, perguntava-se.

Foto: Marcelo Dischinger - Para Thaís, as maiores preocupações foram em relação à carreira

Na retomada das atribuições, veio o sentimento de urgência, de “agora é a hora”, e aceitou todos os trabalhos e oportunidades que surgiram. A ideia era construir o mais rapidamente uma carreira consolidada, com muitas referências e experiências, então mergulhou de cabeça em vários projetos de uma vez.

Atualmente, faz faculdade, curso técnico e participa de dois musicais. Há pouco, finalizou outras duas óperas. “Eu saía de casa às oito da manhã e voltava às onze da noite. Passava literalmente o dia fora e mal tinha horários para estudar os conteúdos. Isso porque minha dedicação aos ensaios deve ir além do tempo em que estou nos palcos”, explica. E engana-se quem pensa que os finais de semana são reservados ao descanso, pois domingo também é dia de ensaio. Não teve jeito, a exaustão bateu.

Foi aí que percebeu o quanto estava colocando outros projetos à frente da sua saúde, afinal, não ter tempo de fazer exercícios, poder colocar o pé na grama, dar uma respirada e sequer almoçar estavam lhe prejudicando profundamente.

Apesar disso, conseguiu manter a terapia – o que já foi bastante positivo – mas não suficiente. Necessitou, por isso, da avaliação de um psiquiatra, dado que os reflexos do cansaço e da ansiedade foram exteriorizados. “Sentia meu corpo fragilizado e, para completar, rompi um ligamento do joelho, que me impediu de apresentar um dos musicais que estava ensaiando”, desabafa.

Mesmo com a frustração, o reconhecimento de que era preciso se dar uma pausa foi importante. Agora, finalmente, está tirando um tempo para descansar e reorganizar sua rotina.

Para Thaís, toda essa urgência se deve à sensação de insuficiência: se recusa um trabalho, que no seu meio é muito baseado em contatos, teme não ser chamada para os demais; se aceita e não dá conta, preocupa-se com a impressão que passará aos responsáveis. “Já escutei pessoas falando que, no canto lírico, a voz tem que estar pronta aos dezenove anos, por exemplo. Me sinto atrasada em relação aos demais”.

É perceptível, segundo a cantora, a postura de julgamento dos outros quando se tira um momento para cuidar da mente em detrimento de dedicá-lo somente ao trabalho; há, especialmente para as mulheres, a noção errônea de que é preciso ser produtiva sempre.

Lidar com essas situações tem sido um desafio, mas a conclusão é que, de fato, não dá para colocar a saúde em segundo plano – em todos os sentidos, visto que “saúde não é só comer alface. É ter tempo de qualidade com as pessoas que gostamos também”, conclui.

Perfis nas redes para seguir (e se identificar)

Reprodução: Maria Dinat/ Instagram -

@maria.dinat: o caos da maternidade, os perrengues da profissão e os dilemas da vida doméstica são inspiração para as fotografias da, também escritora, Maria Emilia Dinat, que retrata, com sensibilidade, o seu cotidiano.

@angudegrilo: duas mulheres, duas gerações, duas jornalistas. Flávia Oliveira e Isabela Reis comandam com leveza e intimidade uma conversa entre mãe e filha no podcast Angu de Grilo.

@br000na: tem dias que nem os astros dão sossego e, para confirmar se o mercúrio está retrógrado ou se o dia apenas amanheceu cinza mesmo, os conteúdos da cartomante Brona Paludo são uma mão na roda, além de divertidíssimos.

Reprodução: Jana Viscardi/ Instagram -

@janaisa: sabe aquele discurso recheado de preconceito, mas que, de tão velado, quase passa despercebido? A linguista Jana Viscardi mostra a importância de analisar o que está nas entrelinhas, comprovando que a forma como nos comunicamos diz muito mais sobre nós do que imaginamos.

Reprodução: Nátaly Neri/ Instagram -

@natalyneri: inseguranças do jovem adulto, maneiras de se tornar mais camarada do meio ambiente e papos sobre estilo e autonomia são alguns dos temas abordados pela cientista social Nátaly Neri. 

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Arquivo pessoal - Para Lays Miranda, as pressões estéticas foram as que mais a prejudicaram emocionalmente
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Reprodução: Jana Viscardi/ Instagram -
Reprodução: Maria Dinat/ Instagram -
Arquivo pessoal - Verônica gostaria de conseguir conciliar melhor as demandas do trabalho e o tempo em família
Reprodução: Nátaly Neri/ Instagram -
Foto: Marcelo Dischinger - Para Thaís, as maiores preocupações foram em relação à carreira