Ao falar na saúde íntima da mulher, uma das primeiras condições que costuma vir à mente é a candidíase, doença causada pelo desequilíbrio do fungo cândida, que existe naturalmente na flora vaginal. No entanto, existem outras condições que também são muito comuns e das quais muitas mulheres nunca ouviram falar.
Uma delas é a vaginose. Segundo pesquisa do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), encomendada pela marca Gino-Canesten, a doença acomete 13% das mulheres, mas boa parte das entrevistadas, cerca de 49%, ainda desconhece a infecção.
Além do desconhecimento sobre a vaginose fazer com que ela seja confundida com outras infecções, como a candidíase, também surgem dúvidas quando se fala da vaginite, termo usado para definir qualquer inflamação na vagina, independentemente do seu agente causador.
A candidíase, por exemplo, é uma vaginite, como explica Marina Almeida, ginecologista e coordenadora de Laparoscopia Ginecológica do Hospital Santa Lúcia. “É uma inflamação aguda, que traz dor e ardência, causada por um fungo, a candida albicans. Podem existir vaginites causadas por outros elementos, como o ressecamento vaginal e lesões por atrito, além da herpes e outras infecções sexualmente transmissíveis”, ressalta.
A vaginose
- A vaginose é uma infecção causada pela proliferação de bactérias já existentes na vagina ou pelo surgimento de alguma bactéria externa, que é menos comum, mas pode acontecer.
- Os principais sintomas são o corrimento acinzentado, com um odor forte e incômodo na região.
- Outro sintoma recorrente é o sangramento após a relação sexual e a dor pélvica.
- Apesar desses sintomas, muitas mulheres não percebem que estão com a infecção e só a descobrem, com surpresa, no consultório médico.
- Segundo a ginecologista Heloisa Gondim, da Farmacêutica Bayer, esse desequilíbrio pode ser causado por uma mudança no pH da vagina. Na maioria das vezes, a bactéria responsável pela vaginose é a Gardnerella vaginalis, natural da flora bacteriana da região.
- O tratamento da vaginose é feito com o uso de antibióticos específicos para o controle da bactéria que está em desequilíbrio.
- A importância de falar sobre a vaginose e a saúde íntima da mulher está muito relacionada à prevenção.
- Segundo especialistas, um dos principais aspectos de prevenção da vaginose é não lavar a vagina.
- Heloisa afirma que, entre suas pacientes, o uso de ducha vaginal é uma das principais causas da vaginose.
- “Muitas mulheres acham que essa limpeza evita infecções, mas é o contrário. Elas afetam o pH da vagina, que não precisa ser lavada. A higiene íntima deve ser voltada apenas para a região externa, ou seja, a vulva”, completa a ginecologista.
- Pacientes com vaginoses persistentes ou recorrência e que não usam métodos de barreira durante o ato sexual também precisam estar atentas. Quando ainda se está no processo de reequilíbrio após uma vaginose, o sêmen interfere no pH vaginal.
- Evitar roupas abafadas, preferir calcinhas de algodão e não usar absorventes diários são algumas das formas de prevenir a vaginose. Ambientes escuros, úmidos e quentes facilitam a proliferação de bactérias.
- A higiene básica após a relação sexual, além de urinar após a penetração, auxilia na prevenção.
- O uso de preservativos ajuda na prevenção de vaginoses causadas por bactérias sexualmente transmissíveis, como a clamídia e a tricomona.
- Diminuir o consumo de doces e carboidratos facilita no controle da flora bacteriana. Altos níveis de glicose no sangue deixam as mucosas com altos níveis de glicemia, mais atraentes para bactérias.
As diferenças
- Embora os sintomas sejam muito diferentes, como explica a ginecologista Heloisa Gondim, muitas mulheres confundem a candidíase com a vaginose. “Isso acontece pelo desconhecimento de que a vaginose existe, porque são duas coisas muito diferentes”, completa.
- A médica acrescenta que o corrimento na vaginose é mais acinzentado ou esverdeado e, além do odor, tem aspecto menos pastoso que o corrimento da candidíase, que é branco, aparenta leite talhado e não tem cheiro.
- A candidíase é uma infecção vaginal causada por um fungo chamado candida albicans, que tem como principais sintomas a coceira vaginal e um corrimento esbranquiçado e grumoso, mas sem a ocorrência de cheiro forte. Nesses casos, o autoconhecimento junto com o acompanhamento periódico ao ginecologista são fundamentais para a identificação do problema e o encaminhamento do tratamento mais adequado.
Palavra do especialista
Como os tabus envolvendo a saúde íntima afetam as mulheres?
Qualquer infecção na região causa não apenas desconfortos físicos, mas também emocionais, como insegurança e vergonha. Os dados do estudo do Ipec confirmam isso: 68% das entrevistadas disseram que a saúde íntima impacta muito na autoconfiança e na autoestima. Outro dado relevante mostrado pela pesquisa é que 45% das entrevistadas sentem desconforto em falar sobre sua saúde íntima, enquanto 30% delas sentem vergonha ou desconforto em comprar medicamentos para a saúde íntima.
Qual a importância de falarmos cada vez mais sobre o tema?
Falar sobre a saúde íntima, por mais que seja algo simples, ainda causa constrangimento a muitas mulheres. Sendo assim, muitas delas evitam falar sobre o assunto, o que acaba dificultando a disseminação de informações importantes, que podem ajudar na prevenção e no tratamento da vaginose, candidíase e outras infecções. Apesar da vergonha, as mulheres querem se informar, 95% das entrevistadas afirmam querer saber mais sobre o assunto. Ou seja, a disseminação de informações sobre a saúde íntima é essencial, até para que consigam identificar quando algo não está normal.
Um dos meios mais procurados pelas mulheres para saber mais sobre a saúde íntima é a internet, isso é positivo?
A pesquisa apontou que a internet é a fonte mais comum para 72% das mulheres, sendo que, deste percentual, 86% são jovens de 16 a 25 anos. Normalmente, essa é uma fase de iniciação da vida sexual, e entender melhor o corpo, buscando informações qualificadas na internet, é fundamental para essas jovens saberem identificar possíveis problemas de saúde íntima e fazerem o tratamento correto. O segundo meio mais procurado são os consultórios médicos. Grande parte das pacientes que atendo desconhecem a vaginose bacteriana e seus sintomas, e algumas ficam até assustadas quando descobrem que estão com a infecção — querem saber se é transmissível, se é possível identificar como ou quando pegaram. Eu sempre tento explicar desde o início, trazendo o máximo de informações para que haja uma maior conscientização sobre a condição, e até mais aderência ao tratamento.
Ornella Minelli é ginecologista e obstetra da farmacêutica Bayer
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