Saúde

O que é vaginose? Tabu na saúde íntima causa desconhecimento sobre a doença

A falta de conhecimento faz com que muitos casos de vaginoses não sejam diagnosticados, causando uma série de desconfortos para as mulheres

Ailim Cabral
postado em 30/10/2022 00:01 / atualizado em 04/11/2022 18:59
 (crédito: Valdo Virgo)
(crédito: Valdo Virgo)

Ao falar na saúde íntima da mulher, uma das primeiras condições que costuma vir à mente é a candidíase, doença causada pelo desequilíbrio do fungo cândida, que existe naturalmente na flora vaginal. No entanto, existem outras condições que também são muito comuns e das quais muitas mulheres nunca ouviram falar.

Uma delas é a vaginose. Segundo pesquisa do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), encomendada pela marca Gino-Canesten, a doença acomete 13% das mulheres, mas boa parte das entrevistadas, cerca de 49%, ainda desconhece a infecção.

Além do desconhecimento sobre a vaginose fazer com que ela seja confundida com outras infecções, como a candidíase, também surgem dúvidas quando se fala da vaginite, termo usado para definir qualquer inflamação na vagina, independentemente do seu agente causador.

A candidíase, por exemplo, é uma vaginite, como explica Marina Almeida, ginecologista e coordenadora de Laparoscopia Ginecológica do Hospital Santa Lúcia. “É uma inflamação aguda, que traz dor e ardência, causada por um fungo, a candida albicans. Podem existir vaginites causadas por outros elementos, como o ressecamento vaginal e lesões por atrito, além da herpes e outras infecções sexualmente transmissíveis”, ressalta.

A vaginose

  • A vaginose é uma infecção causada pela proliferação de bactérias já existentes na vagina ou pelo surgimento de alguma bactéria externa, que é menos comum, mas pode acontecer.
  • Os principais sintomas são o corrimento acinzentado, com um odor forte e incômodo na região.
  • Outro sintoma recorrente é o sangramento após a relação sexual e a dor pélvica.
  • Apesar desses sintomas, muitas mulheres não percebem que estão com a infecção e só a descobrem, com surpresa, no consultório médico.
  • Segundo a ginecologista Heloisa Gondim, da Farmacêutica Bayer, esse desequilíbrio pode ser causado por uma mudança no pH da vagina. Na maioria das vezes, a bactéria responsável pela vaginose é a Gardnerella vaginalis, natural da flora bacteriana da região.
  • O tratamento da vaginose é feito com o uso de antibióticos específicos para o controle da bactéria que está em desequilíbrio.
  • A importância de falar sobre a vaginose e a saúde íntima da mulher está muito relacionada à prevenção.
  • Segundo especialistas, um dos principais aspectos de prevenção da vaginose é não lavar a vagina.
  • Heloisa afirma que, entre suas pacientes, o uso de ducha vaginal é uma das principais causas da vaginose.
  • “Muitas mulheres acham que essa limpeza evita infecções, mas é o contrário. Elas afetam o pH da vagina, que não precisa ser lavada. A higiene íntima deve ser voltada apenas para a região externa, ou seja, a vulva”, completa a ginecologista.
  • Pacientes com vaginoses persistentes ou recorrência e que não usam métodos de barreira durante o ato sexual também precisam estar atentas. Quando ainda se está no processo de reequilíbrio após uma vaginose, o sêmen interfere no pH vaginal.
  • Evitar roupas abafadas, preferir calcinhas de algodão e não usar absorventes diários são algumas das formas de prevenir a vaginose. Ambientes escuros, úmidos e quentes facilitam a proliferação de bactérias.
  • A higiene básica após a relação sexual, além de urinar após a penetração, auxilia na prevenção.
  • O uso de preservativos ajuda na prevenção de vaginoses causadas por bactérias sexualmente transmissíveis, como a clamídia e a tricomona.
  • Diminuir o consumo de doces e carboidratos facilita no controle da flora bacteriana. Altos níveis de glicose no sangue deixam as mucosas com altos níveis de glicemia, mais atraentes para bactérias.

Foto de uma mulher segurando um morango, sugerindo uma vagina
Foto de uma mulher segurando um morango, sugerindo uma vagina (foto: Reprodução: Timothy Meinberg/Unsplash)

As diferenças

  • Embora os sintomas sejam muito diferentes, como explica a ginecologista Heloisa Gondim, muitas mulheres confundem a candidíase com a vaginose. “Isso acontece pelo desconhecimento de que a vaginose existe, porque são duas coisas muito diferentes”, completa.
  • A médica acrescenta que o corrimento na vaginose é mais acinzentado ou esverdeado e, além do odor, tem aspecto menos pastoso que o corrimento da candidíase, que é branco, aparenta leite talhado e não tem cheiro.
  • A candidíase é uma infecção vaginal causada por um fungo chamado candida albicans, que tem como principais sintomas a coceira vaginal e um corrimento esbranquiçado e grumoso, mas sem a ocorrência de cheiro forte. Nesses casos, o autoconhecimento junto com o acompanhamento periódico ao ginecologista são fundamentais para a identificação do problema e o encaminhamento do tratamento mais adequado.

Palavra do especialista

Como os tabus envolvendo a saúde íntima afetam as mulheres?

Qualquer infecção na região causa não apenas desconfortos físicos, mas também emocionais, como insegurança e vergonha. Os dados do estudo do Ipec confirmam isso: 68% das entrevistadas disseram que a saúde íntima impacta muito na autoconfiança e na autoestima. Outro dado relevante mostrado pela pesquisa é que 45% das entrevistadas sentem desconforto em falar sobre sua saúde íntima, enquanto 30% delas sentem vergonha ou desconforto em comprar medicamentos para a saúde íntima.

Qual a importância de falarmos cada vez mais sobre o tema?

Falar sobre a saúde íntima, por mais que seja algo simples, ainda causa constrangimento a muitas mulheres. Sendo assim, muitas delas evitam falar sobre o assunto, o que acaba dificultando a disseminação de informações importantes, que podem ajudar na prevenção e no tratamento da vaginose, candidíase e outras infecções. Apesar da vergonha, as mulheres querem se informar, 95% das entrevistadas afirmam querer saber mais sobre o assunto. Ou seja, a disseminação de informações sobre a saúde íntima é essencial, até para que consigam identificar quando algo não está normal.

Um dos meios mais procurados pelas mulheres para saber mais sobre a saúde íntima é a internet, isso é positivo?

A pesquisa apontou que a internet é a fonte mais comum para 72% das mulheres, sendo que, deste percentual, 86% são jovens de 16 a 25 anos. Normalmente, essa é uma fase de iniciação da vida sexual, e entender melhor o corpo, buscando informações qualificadas na internet, é fundamental para essas jovens saberem identificar possíveis problemas de saúde íntima e fazerem o tratamento correto. O segundo meio mais procurado são os consultórios médicos. Grande parte das pacientes que atendo desconhecem a vaginose bacteriana e seus sintomas, e algumas ficam até assustadas quando descobrem que estão com a infecção — querem saber se é transmissível, se é possível identificar como ou quando pegaram. Eu sempre tento explicar desde o início, trazendo o máximo de informações para que haja uma maior conscientização sobre a condição, e até mais aderência ao tratamento.

Ornella Minelli é ginecologista e obstetra da farmacêutica Bayer

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