Beleza

Abaixo a ditadura do cacho perfeito! A definição não precisa ser uma imposição

Depois de se livrarem do padrão dos fios alisados, muitas mulheres têm caído em outra armadilha: a imposição do cabelo perfeitamente definido

Por Carolina Marcusse*
postado em 23/10/2022 06:20
 (crédito: Pinterest/Divulgação)
(crédito: Pinterest/Divulgação)

Nos últimos anos, a tendência de aceitação e valorização dos cabelos naturais cresceu, levando  influenciadores digitais e produtores de conteúdo a falarem abertamente sobre seus cuidados com as madeixas e a compartilharem processos e dicas.

Para os crespos e cacheados, as indicações de cremes, finalizações e de como deixar o cabelo com definição trouxeram autonomia e liberdade para, principalmente as mulheres, assumirem os fios naturais. No entanto, mesmo se desvinculando de uma obrigação social que estabelecia o alisamento como padrão, muita gente passou a viver uma nova imposição: a do cacho "perfeito".

O cabelo perfeitamente definido é uma meta impossível de ser alcançada. "São muitas informações, e as pessoas, às vezes, idealizam um cacho, uma definição, que não é possível alcançar. A maioria dos cabelos crespos e cacheados pode ter até quatro tipos de texturas. Como alinhar e definir por igual essas quatro texturas?", questiona a cacheada, cabeleireira e fundadora do Salão Beleza Crespa, Antônia Rodrigues.

A profissional faz questão de ressaltar que todos os fios crespos e cacheados têm sua beleza, e aceitar isso é um grande passo para ter a liberdade de usar o cabelo como ele é. Outro ponto importante é que esse peso da perfeição acaba não caindo sobre mulheres de cabelos lisos da mesma forma. Para esse grupo, sair de casa com um pouco de frizz ou com os fios desalinhados pode não ser exatamente uma grande questão.

Essa busca incessante pela perfeição pode levar as cacheadas a gastarem muito mais tempo arrumando os cabelos diariamente e gerando frustração e insegurança que podem ser nocivas para a autoestima e para a decisão de continuar apostando no cabelo natural. Geralmente, o que as leva a essa situação é o julgamento da sociedade, que aponta os cabelos cacheados que não estão perfeitamente alinhados como desleixo e falta de cuidado.

Para esses casos, Antônia aconselha: "Você é livre para usar o seu cabelo como quiser, lembre-se de que ele não precisa estar sempre super definido, sem frizz, sem volume. Você e o seu cabelo precisam, sim, de liberdade". É com muitas mulheres que se beneficiam dessa libertação que a cabeleireira trabalha.

Transformação

A pedagoga Carina França, 26 anos, conta que, durante a infância, tinha dificuldade de cuidar do cabelo crespo por insegurança e incerteza se ficava bonita com eles daquela forma. Por isso, passou a alisar as madeixas desde muito nova. Aos 18 anos, finalmente, decidiu começar a transição capilar. Após alguns meses no processo, realizou o big chop, que é o ato de cortar a parte do cabelo que foi submetida a químicas.

Carina França, pedagoga, exibe seus cachos com liberdade e beleza.
Carina França, pedagoga, exibe seus cachos com liberdade e beleza. (foto: Arquivo pessoal)

Nessa época em que redescobria seus fios, conheceu o salão Beleza Crespa via redes sociais. "Daí em diante, não parei mais de frequentar", relata. Com o local especializado no seu tipo de cabelo e com profissionais que compartilham da sua realidade, encontrou apoio e indicações adequadas, que trouxeram segurança e confiança.

"Muitas vezes, olhamos e pensamos que o nosso cabelo nunca é 'bom' ou bonito, mas assumir os cabelos cacheados é uma aceitação, é libertador. Quando entendi isso, parei de me sentir pressionada pelos outros e até mesmo por mim mesma." Hoje, Carina entende que existem diferentes tipos e texturas de cabelos cacheados, do mais crespo ao ondulado, o que a tranquiliza.

Agora, aos 26 anos, a pedagoga prioriza os cuidados que se encaixam em sua rotina e que melhor funcionam para seu cabelo e permite que seus cachos fiquem em um resultado que a agrada e mantém livre, sem excesso de cremes e tratamentos exaustivos.

Essa transformação e trabalho com autoestima é uma das partes mais encantadoras e recompensadoras para a cabeleireira Rafaela Santos, do salão Afro Chic. A profissional começou a se interessar por cuidados com cabelos aos 13 anos, quando iniciou sua transição capilar. "Primeiro, virei a 'amiga referência', para quem todas recorriam a qualquer situação envolvendo cachos. Depois, comecei a me profissionalizar e hoje trabalho em salão e curso faculdade de estética e cosméticos", conta.

Rafaela, ou Rafinha, como é carinhosamente apelidada no salão, advoga contra a formação de um novo padrão que aprisiona as mulheres. "Para mim, a graça do cabelo com curvaturas são justamente os vários tipos, tamanhos e frizz", afirma. Relembra, também, que alguns cuidados são necessários para fios saudáveis, sejam eles lisos, sejam cacheados.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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  • Carina França, pedagoga, exibe seus cachos com liberdade e beleza.
    Carina França, pedagoga, exibe seus cachos com liberdade e beleza. Foto: Arquivo pessoal
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    Carina França, pedagoga, exibe seus cachos com liberdade e beleza. Foto: Arquivo pessoal
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