Sabe aquela canção que traduz exatamente o que você está sentindo? Do choro ao riso; da frustração à euforia… para todos os momentos, há de haver alguma melodia com a qual se identifique. Música é catarse. Demarca momentos históricos, une gerações e representa discursos sociais. Como se não bastasse, é, muitas vezes, um artifício terapêutico, que externaliza o que não é possível dizer. Para os animais, a experiência é semelhante. Nesse contexto, a musicoterapia pode surtir resultados bastante positivos no bem-estar e comportamento dos peludos.
Segundo Joana Barros, médica veterinária da Gaia Medicina Veterinária Integrativa, a principal utilidade da técnica está no efeito calmante promovido aos pets, especialmente em momentos de estresse, como idas a clínicas e quando ficam sozinhos. Além disso, o método pode auxiliar em intervenções comportamentais, como no adestramento ou na aplicação de protocolos terapêuticos para diferentes desordens emocionais.
Mas nada de escolher qualquer música e colocá-la no último volume para o seu amigo, ok? Certas adaptações devem ser levadas em conta, afinal, o ouvido dos bichos não é igual ao dos humanos. A princípio, os tutores devem se certificar de quais canções seus animais mais gostam, antes de usá-las em situações que causem insegurança. "Lembre-se que a individualidade existe e nem sempre uma melodia que agrade a um agradará ao outro, independentemente da espécie", adverte o médico veterinário comportamentalista Edilberto Martinez, da Cognivet.
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Após notar a habituação do peludo a algumas músicas, utilize-as em diferentes conjunturas, desde momentos prazerosos, como um passeio de carro ou uma ida ao parque, até aqueles estressantes, como banhos e tosas. Em dias chuvosos, com trovoadas, ou festivos, com fogos de artifícios, a musicoterapia também pode ser uma mão na roda — aqui, deve ser tocada em um quarto fechado e seguro, a fim de acalmar e fazer frente aos sons externos. E atenção à audição do seu cão ou gato: alto volume pode desestabilizá-los, mesmo que a escolha musical seja certeira.
Ademais, Joana explica que canções agitadas tendem a deixar os bichos mais inquietos; enquanto aquelas mais calmas são ideais para fazê-los relaxar. Em concordância, Edilberto acrescenta que os animais ficam mais tranquilos ao ouvirem músicas clássicas. Porém, curiosamente, estudos científicos sugerem que os cães têm preferência por reggae e rock suave, dado que latem menos e parecem menos agressivos quando escutam esses gêneros. Já os gatos ficam mais confortáveis com sons vindos do piano e mais estressados com rock pesado.
"Para descobrir qual estilo musical seu pet gosta, basta atentar-se ao comportamento dele neste momento, interpretando os sinais de comunicação transmitidos", explica a veterinária. E cantar para os peludos, tem o mesmo efeito? Sim e não. A frequência da nossa voz não causa um efeito sonoro equivalente ao das músicas instrumentalizadas. Contudo, "cantar para nossos bichos pode fortalecer o vínculo e despertar interesse na interação, visto que, quando cantamos, relaxamos e, nesse momento, pode ocorrer uma sintonia com todos que estão ao nosso redor", finaliza o especialista.
Malu, a apreciadora de MPB
A yorkshire terrier Malu, de 3 anos, sempre foi muito dócil e nunca latiu para desconhecidos. Depois da castração, porém, a situação mudou. A pequena tornou-se ansiosa, nervosa e carente. Sua tutora, a jornalista Jéssica Lima, procurou especialistas, que prescreveram calmantes. "Não quis usar. Eles já são tão frágeis, não é?" Mas as pesquisas pela internet lhe apresentaram outra opção: a musicoterapia.
"Hoje, temos até uma playlist no Spotify", conta. Os resultados são bastante positivos, uma vez que a peluda está mais calma, centrada, e cochila tranquilamente. A técnica costuma ser aplicada antes de Jéssica sair para o trabalho, quando Malu fica sozinha. A música é sempre baixa, devido à audição sensível. À noite, a melodia é utilizada para relaxar.
Assim como sua tutora, a yorkshire terrier gosta de MPB, sons de chuva e canções de meditação. "O poder da musicoterapia é incrível para eles. E até me ajudou também. Sou bem ansiosa e não desligo. Quando coloco música para ela, relaxo junto. Por isso, indico muito", diz.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte