Um estudo recém-publicado pelo periódico PLOS Biology e conduzido por pesquisadores da Universidade de Berkeley no EUA demonstra que a falta de sono afeta nossas interações sociais fazendo com que tenhamos menor tendência em ajudar os outros. No dia seguinte a uma noite mal dormida, os voluntários se mostraram com menor tendência a ações altruístas simples, como abrir a porta para o outro. O estudo mostrou também que a privação de sono leva a uma menor ativação no cérebro de áreas envolvidas na empatia e, por último, de que doações para fundos de caridade são 10% menores na primeira semana do horário de verão, nos estados americanos que adotam essa medida.
A pesquisa aponta a importância do sono não mais focada no indivíduo, mas sua relevância nas interações sociais. Individualmente, já sabíamos que a privação de sono está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, obesidade, depressão e disfunção sexual. O presente estudo revela que um sono insuficiente degrada as interações sociais entre os indivíduos, degrada nossa consciência social básica de ajudar o outro. Não dormir bem afeta não só o seu bem-estar físico e emocional, mas os efeitos deletérios do seu círculo social e até de estranhos. O sono adequado poderia até ser considerado um “lubrificante social”.
Estudos anteriores mostraram que a privação de sono leva a um julgamento mais negativo das expressões faciais dos outros e pode estar associado a uma menor motivação para a interação social no mundo real. Isso também foi sugerido pelos resultados de uma pesquisa publicada pela Nature Communications em 2018. Muito interessante é o fato de que a privação de sono dispara um sinal de repulsa social naqueles que estão sem dormir, mas também entre aqueles que estão interagindo com o insone. Como dizemos anteriormente, os efeitos se dão em rede!
E a relação entre privação de sono e sociabilidade é de via dupla. Camundongos submetidos a isolamento social passam a ter o sono menos eficiente. Em humanos acontece o mesmo: a promoção de socialização melhora o padrão do sono e a falta de sono aumenta a tendência ao isolamento social. Sabemos também que a privação de sono está associada uma maior ativação das amígdalas cerebrais quando em frente a estímulos de contextos negativos ou prazerosos. Vale lembrar que amígdalas ativadas aumentam o hormônio do estresse cortisol e nos deixam prontos para a luta ou para a fuga.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília