"Brazilian Butt Lift." Assim ficou conhecida — pejorativamente — no exterior, a lipoenxertia nos glúteos, realizada por famosas como Kim Kardashian, Beyoncé e Nicki Minaj. Trata-se do aumento e da remodelação do bumbum por meio da injeção de gordura da própria paciente, coletada por meio da lipoaspiração de áreas doadoras, mais comumente o abdome e os flancos. Somado a isso, a redução do tecido adiposo desses locais também faz com que a região glútea se destaque ainda mais.
Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, somente em 2020, houve mais de 40 mil operações do tipo. Em 2021, foram 61 mil. E, para além das celebridades que aderiram à cirurgia, sua popularidade também se deu aos riscos que apresenta. Pensando nisso, a Revista conversou com os cirurgiões plásticos Ismar Ribeiro Júnior, da clínica Contorno Corporal, e Ivanoska Filgueira, mestre em ciências da saúde pela Universidade de Brasília (UnB), para entender de vez os pormenores da técnica.
Saiba Mais
A lipoenxertia é indicada tanto para fins estéticos quanto reconstrutivos. Há, por exemplo, a possibilidade de utilizar a gordura enxertada para corrigir sequelas de radioterapia, depressões na pele ou mesmo cicatrizes. O procedimento funciona assim: retira-se a gordura de uma área doadora, como o abdome inferior ou a região interna dos joelhos, que é separada do sangue, em um processo conhecido como decantação, e aplicada no local desejado, com a seringa e cânula adequadas.
Nos glúteos, o maior risco da operação se dá quando a gordura é injetada no plano submuscular, ou seja, dentro do músculo, que contém vasos calibrosos e ligação direta com a veia cava. "Caso essa substância viaje pela circulação sanguínea até o coração e os pulmões, no pior dos cenários, o resultado pode ser uma embolia gordurosa fatal. Já o volume injetado parece não estar relacionado a esse perigo, mas é recomendado que não se insira grandes quantidades de gordura", esclarece Ismar Ribeiro.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica contraindica a técnica submuscular e recomenda que a lipoenxertia seja feita apenas no plano subcutâneo, natural da gordura, logo abaixo da pele e acima do músculo, onde não existem vasos sanguíneos calibrosos e o risco de embolia é praticamente nulo. Em concordância, Ivanoska Filgueira acrescenta que é preciso avaliar o aspecto da harmonia corporal, dado que a injeção exagerada da substância pode, em compressão, causar, tardiamente, complicações como trombose, embolia, necrose ou mesmo infecções. "O procedimento, quando feito corretamente, não apresenta complicações futuras", pontua.
Saiba Mais
No pós-operatório, os primeiros cinco dias podem ser os mais difíceis em relação à dor, apesar de ser muito variável de pessoa para pessoa. Como a coleta de gordura ocorre pela lipoaspiração, é comum existirem áreas de equimose (manchas roxas na pele) e edema (inchaço), que tendem melhorar em torno de 30 dias. Ademais, é necessário usar cintas e talas compressivas, além de fazer drenagem e evitar atividades físicas e grandes esforços. Os resultados iniciais são visíveis a partir da segunda semana, enquanto os finais aparecem 18 meses após o procedimento.
As contraindicações são semelhantes às demais cirurgias, que dependem do estado de saúde do paciente. Os exames pré-operatórios — sangue, urina, coagulograma, função renal e hepática — precisam estar normais e é necessário haver a liberação de um médico cardiologista. Além disso, pacientes muito magras, que não têm áreas doadoras de gordura suficientes, são inelegíveis para a cirurgia.
Quanto à exigência ou não de repetir a técnica posteriormente, Ivanoska explica que, caso não haja grandes variações de peso, não será necessário. "Uma vez que o enxerto de gordura pegou e ficou, ele irá durar." Algumas exceções ocorrem nos casos de explantes de silicone, depressões e cicatrizes decorrentes de queimaduras e sequelas de radioterapia, nos quais pode ser preciso realizar de duas a três enxertias.
Ismar adverte que a maioria dos problemas relacionados à lipoenxertia se dá em operações realizadas por médicos não especialistas. Então, fica o alerta: para evitar complicações, de modo geral, é importantíssimo escolher o cirurgião plástico com cuidado, certificando-se de que ele é especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, com especialidade registrada junto ao Conselho Federal de Medicina e à Associação Médica Brasileira (AMB).
Resultados satisfatórios
Para a empresária Clécia Araújo, 50 anos, a escolha pela lipoenxertia se deu pelo desejo em solucionar aspectos corporais que a incomodavam. Com o passar dos anos e o fato de trabalhar muitas horas do dia sentada, sentiu que perdeu as curvas e o formato do bumbum, que diminuiu quando perdeu peso. Assim, optou pela lipoabdominoplastia com lipoenxertia, em que o excesso de gordura do abdome é colocado nos glúteos.
"Fiz muitas pesquisas e busquei com amigos médicos indicações de profissionais confiáveis. Considero o procedimento confiável, pois usa a gordura do próprio corpo para preencher, definir ou dar volume", conta. Há 17 anos, já havia realizado a técnica, porém os resultados não foram satisfatórios e, posteriormente, com o ganho de peso, sentiu que o efeito foi perdido. Desta última vez, a história foi diferente. "Hoje, estou extremamente feliz com tudo, foi a melhor decisão que tomei."
Por ser portadora de algumas comorbidades, como diabetes e hipotireoidismo, considerou todos os riscos possíveis junto a uma equipe de médicos, que incluiu cardiologista e endocrinologista. Com os resultados dos exames favoráveis, não teve medo de seguir com seu propósito. Ademais, optou por realizar a cirurgia em um hospital com estrutura para eventuais necessidades.
No pós-operatório, não teve complicações e, com 15 dias de operada, retomou as atividades, tais como dirigir e trabalhar. Para as mulheres que também desejam aderir ao procedimento, a empresária deixa o recado: "Se você buscou orientações, se está pronta para os gastos que envolvem qualquer cirurgia, se está disposta a fazer a parte que cabe a nós, pacientes, vá sem medo!".
Para a técnica em vendas Karla de Carvalho, 38 anos, os motivos que a levaram à lipoenxertia foram semelhantes aos de Clécia: queria diminuir o volume da barriga e aumentar o bumbum, que tinha um tamanho que a incomodava. Não chegou a considerar outros métodos e, já nas consultas iniciais, se decidiu sobre a cirurgia.
Com as explicações médicas, sentiu-se tranquila quanto à operação e, igualmente, os resultados foram satisfatórios. O efeito natural da região foi o que mais encantou a técnica em vendas. Quanto ao pós-operatório, não alegou qualquer problema. "Ficou lindo, da forma como imaginei. Tanto recomendo o procedimento, que, se precisasse, faria tudo novamente", relata.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.