Crônica

Candidatos das galáxias: políticos nos fazem passar vergonha até entre ETs

O horário eleitoral seria uma diversão se não mexesse tão profundamente com a vida de cada um de nós

Paulo Pestana - Especial para o Correio
postado em 12/09/2022 08:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

Não faz muito tempo, um grupo de cientistas da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, afirmou que há 36 civilizações na Via Láctea. Não surpreende: esse seria o número estimado de planetas em condições análogas às da Terra para a formação de vida inteligente. Mas os cientistas acharam pouco; antes calculavam muito mais: chegou-se até ao número de 928 civilizações que estariam tentando se comunicar pelo espaço — mesmo sem ninguém ter ouvido um pio.

Não são exatamente nossos vizinhos, daqueles que botam um disco da Luisa Sonza bem alto no sábado de manhã, já que ficam, em média, a 17 mil anos-luz de distância. Portanto, mesmo que não estejamos sozinhos, estamos isolados. Mas o que mais chama a atenção é o tempo calculado para que uma vida inteligente se forme num planeta com as mesmas condições da Terra: cinco bilhões de anos.

O cálculo é feito também levando em consideração as condições terrestres, ou seja: esse foi o tempo necessário para que o ser humano chegasse ao ponto em que estamos. Pelo jeito, precisava mais. Se a gente der uma olhada no desfile de excrecências que tem aparecido no horário eleitoral, vai ter certeza que, para algumas pessoas, ainda faltam uns bilhões de anos para atingir um mínimo de civilidade.

São candidatos a deputado, pessoas se propõem a ser nossos líderes, criar leis, fiscalizar poderes, exercer ações efetivas que afetam a vida de comunidades inteiras. E é cada figura que aparece na TV que assusta qualquer um. Uns falam em velocidade supersônica, engolindo palavras que atropelam o tempo, mas a maioria nem tem o que dizer — um segundo seria tempo demais. E a TV de alta definição tornou o horário muito pior.

Eles gostam de gestos, especialmente de apontar o dedo na cara do eleitor. Quase todos são enfáticos, querem que a gente acredite que são capazes de tudo, inclusive de nos representar. Alguns são evidentemente despreparados para tudo, embora queiram que o eleitor se convença de sua capacidade; a maioria não sabe nem o que está fazendo ali. 

O horário eleitoral seria uma diversão se não mexesse tão profundamente com a vida de cada um de nós. Todos os candidatos têm algo em comum: estão prontos para resolver o problema de todos nós, seja um bico de papagaio, seja um buraco na rua. Alguns são até bem-intencionados, mas a maioria não resiste a uma investigação superficial; uns são perturbados, outros perturbam, a maioria está ali para amealhar uns votinhos e eleger os donos dos partidos com o chamado voto de legenda.

Às vezes, dá vergonha das figuras que aparecem, ainda que se saiba que estão ali apenas para serem reconhecidos pelos vizinhos, colegas e amigos. Mas é uma humilhação que afeta a todos nós. Fica a torcida para que nenhuma das outras 36 civilizações que os cientistas acreditam existir na Via Láctea nos descubra por agora. Ia ser ainda mais constrangedor se algum ET chegasse à cidade, descesse do disco voador, e pedisse, como naqueles filmes B:

— Leve-me aos seus líderes.

 

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