Quando criança, Thayná Cristyne Araújo Marques fazia vestidos para suas bonecas Polly usando sobras de cetim e fita adesiva. Mais tarde, inspirada por filmes adolescentes, começou a gostar do estilo alternativo, já anunciando a afinidade por moda. A primeira vez que costurou foi aos 17 anos, ainda um pouco insegura ao usar a máquina.
Thay, como prefere ser chamada, tem diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA), mas isso não é um impedimento para evoluir na área que escolheu seguir carreira. Na verdade, o distúrbio do neurodesenvolvimento a faz questionar a presença rasa de pessoas neurodiversas e com deficiência na moda — e serve de inspiração.
Ela trouxe críticas importantes sobre capacitismo para o 2º Desafio Sou de Algodão Casa de Criadores, cuja proposta foi fomentar a sustentabilidade e dar espaço a novos designers. A iniciativa reuniu estudantes de moda de todo o Brasil. Thay, hoje com 21 anos, egressa da Universidade Paulista (Unip), foi uma das finalistas, representando a região Centro-Oeste pelo Distrito Federal.
"Respeite pessoas autistas" e "Não sou um alvo fácil" estamparam peças fluidas e coloridas como parte da coleção de sua marca, a Tulipa Designer. As roupas falam muito sobre a própria criadora. Não à toa, um dos objetivos foi mostrar a pessoa autista em lugar ativo e fugir do estereótipo do "anjo azul", termo usado para se referir a quem tem TEA — criticado por dar a impressão que o autista é inocente, infantil e por invisibilizar uma parte deles, porque o "azul" reforça a prevalência em meninos. "A mensagem que deixo para o público é que nem a moda nem a sociedade vão se livrar de nós."
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Produção
Os seis looks voaram de Brasília a São Paulo, onde aconteceu a final. Foi a primeira vez de Thay na cidade. Ela lembra que era muito para assimilar: os últimos ajustes nos modelos e a ansiedade da apresentação se somavam à inquietação da capital. Como precisou conciliar os estudos com a produção das peças, recebeu uma mãozinha da mãe, Fátima Celeste, nos preparativos. Aliás, o clima nos bastidores era tão amigável que a matriarca ajudou também os outros futuros estilistas. "Estávamos um torcendo pelo outro", recorda Thay. Os laços que construiu com os sete demais finalistas foi um dos maiores legados dessa experiência, segundo ela.
Um dos requisitos do Desafio era que o algodão precisava compor, ao menos, 85% dos looks. Thay surpreendeu e fez a coleção inteira com a fibra natural: "Sou encantada pelo algodão. É elegante, confortável e versátil", descreve.
Definir a vida profissional não é algo simples, ainda mais nessa idade. Para Thay, a decisão foi facilitada com o tempo de faculdade e, mais recentemente, por causa do desfile. Costurar virou terapia e, agora formada, ela está se consolidando cada vez mais na profissão de designer de moda. Não exclui, porém, a possibilidade de ainda estudar artes cênicas, uma outra paixão.
O desafio do algodão
O concurso é realizado pelo Movimento Sou de Algodão — uma iniciativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) que visa mostrar ao consumidor como o algodão chega até ele —, com a Casa de Criadores, evento de moda autoral nacional. Alguns dos propósitos são informar e democratizar
o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que segue rigorosos critérios ambientais, sociais e econômicos, e dar espaço aos futuros designers.
Esta última edição, ocorrida em julho, recebeu a inscrição de 249 trabalhos da região Sudeste; 97 do Sul; 61 do Nordeste; 37 do Centro-Oeste e 10 da região Norte. Para participar, é preciso estar matriculado regularmente em um curso de moda ou design de moda. O vencedor foi Guilherme Dutra, de São Paulo, com a coleção ARÔ.
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