A vasectomia é uma forma de controle de natalidade, que visa impedir a passagem dos espermatozoides para a uretra. Consta na Lei Nº 9.263, que reafirma o planejamento familiar como direito de todo cidadão. Para utilizar esse direito, são necessários alguns requisitos, como ser maior de 25 anos ou ter dois filhos vivos e passar por um período de orientação com equipe multidisciplinar. No entanto, mesmo após a burocracia para realizar o procedimento, existem pessoas que decidem por sua reversão.
Segundo o médico urologista Osei Akuamoa, a reversão da vasectomia é um procedimento possível, mas com particularidades relacionadas a cada indivíduo. E, apesar de ter altas chances de sucesso, não garante, com certeza, a possibilidade de fecundação. "A cirurgia de retorno, geralmente, é motivada em pacientes em um segundo ou terceiro relacionamento, em que a vontade de ter filhos muda de acordo com a parceira", explica Akuamoa.
Uma variável importante para garantir se o procedimento de reversão será ou não eficaz é há quanto tempo foi feita a vasectomia. "Quando o tempo é maior do que três anos, a taxa de sucesso gira em torno de 90%", afirma o médico. Já quando ocorreu por volta de 15 a 20 anos, a taxa cai drasticamente para 20%.
Segundo o urologista, isso ocorre porque quanto mais tempo vasectomizado, o corpo produz anticorpos anti-espermatozoides, o que os torna menos ativos e, consequentemente, leva a uma dificuldade de engravidar. Nesses casos em que há uma baixa chance, uma maior eficácia é encontrada nas fertilizações in vitro.
Preparação
Como qualquer cirurgia, a reversão da vasectomia demanda uma avaliação pré-operatória. O médico urologista do Hospital Brasília Ricardo Ferro explica que é necessária uma avaliação cardiológica, chamada comumente de risco cirúrgico, um jejum de oito horas para sólidos e o resto é feito no próprio hospital. O médico faz o alerta de que a depilação necessária não deve ser feita em casa sob nenhuma hipótese, pois aumenta o risco de infecção. Ela é feita pelo profissional que for realizar a cirurgia.
O procedimento é de pequeno porte, pouco causador de sangramentos e impactos graves à saúde da pessoa operada. Para os casos em que exige anestesia, é necessária uma consulta pré-analgésica.
Riscos
Os principais riscos estão associados a qualquer evento cirúrgico, afirma Ricardo Ferro. Por isso, recomenda-se que o paciente seja bem orientado com relação aos cuidados pré-operatórios, de comorbidades e do processo de cicatrização. Em alguns casos, ocorre fibrose em excesso e aparecimento de hematomas, mas, com o devido cuidado e acompanhamento, é possível ter uma recuperação tranquila.
O pós-operatório
As preocupações principais ficam concentradas na primeira semana, em que um repouso relativo é necessário e, também, o uso de medicações individualizadas prescritas pelo médico que acompanha o caso, como anti-inflamatórios e analgésicos.
Em alguns casos, após a reversão e o nascimento de um novo filho, pode existir a demanda de uma nova cirurgia de vasectomia, que pode ser realizada levando em conta os riscos intrínsecos de qualquer procedimento do tipo. Para tranquilizar os pacientes, o urologista Ferro afirma: “Na questão da vasectomia em si, tinha-se um receio, em alguns estudos, que poderia aumentar o risco de câncer de próstata, mas foi completamente desacreditado com novas pesquisas”.
Palavra do especialista
O que é a cirurgia de vasectomia, quais seus tipos e como funciona o procedimento de reversão?
A vasectomia é um procedimento cirúrgico com intuito de realizar a esterilização do paciente, interromper ejaculação de espermatozoides. Existem algumas técnicas possíveis. Desde técnicas laparoscópicas até as cirurgias tradicionais, com abordagem pela bolsa testicular, que tem intuito de identificar o ducto deferente e impedir a passagem dos espermatozoides por esse ducto. Relativo à reversão, é possível. Pode ocorrer por meio de um procedimento cirúrgico, preferencialmente realizado por microscopia, que é mais complexo, e poucos urologistas têm treinamento para realizá-lo. O intuito é identificar o ponto de obstrução do ducto deferente realizado durante a vasectomia, removendo o ponto de obstrução e reconenctando o ducto, assim, permitindo a passagem dos espermatozoides.
Com relação às possibilidades de fertilidade após o procedimento, quais as chances? No caso de baixas, quais as alternativas?
As chances de sucesso na reversão são altas quando realizadas com uso da microscopia e pelas mãos de cirurgiões habilitados. A taxa de sucesso gira em torno de 80%. Nesses casos, são identificados espermatozoides no líquido ejaculado. Nos casos de falha do procedimento, ainda temos a opção de realizar a punção aspirativa do epidídimo (PESA) para captação de espermatozoides e posterior utilização destes espermatozoides em terapia de reprodução assistida (TRA).
Quais os principais cuidados após a cirurgia que devem ser tomados pelo paciente? E quais medicações são mais indicadas?
Os cuidados no pós-operatório são os habituais de repouso, cuidados com a ferida operatória e, claro, seguir as orientações do médico que assiste o caso. Normalmente são utilizadas poucas medicações, principalmente analgésicos, como dipirona e paracetamol.
Tiago Serra é médico urologista do Urocentro
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte