Especial

Atleta transplantada, sim!

Correio Braziliense
postado em 07/08/2022 00:01
 (crédito: Reprodução/Canomama)
(crédito: Reprodução/Canomama)

A notícia de uma doença séria costuma ser desoladora. Quando a paciente é criança então, parece ainda mais trágico. Os pais de Laura Franco, 10 anos, souberam que ela tinha atresia de vias biliares quando a filha era recém-nascida. A menina passou por três cirurgias em menos de 20 dias para tentar retardar o transplante, porque não é o ideal que um bebê passe por isso. Laura estava desnutrida e não tinha condições de passar pelo procedimento. Foram quatro meses na espera por um fígado. Os médicos a definiam como uma bomba-relógio.

"Eu não conhecia esse universo até o dia do transplante. É curioso como ouvimos histórias e até nos emocionamos com relatos de terceiros, mas a tendência é não nos colocarmos nessa posição de um dia precisar de um órgão", conta a mãe, Deyse Franco, 54 anos. A doação de uma parte do fígado veio do irmão mais velho de Laura. A cirurgia foi difícil, mas tudo correu bem. A vida depois dela foi que exigiu muita força e maturidade para a família e para a criança, mesmo que ela tivesse menos de um ano na época.

E nada do que ela passou a impediu de alcançar grandes feitos. Laura será a única criança a competir nos Jogos Brasileiros para Transplantados, no próximo mês. Será representante no atletismo, natação e pentatlo infantil, que é um circuito de cinco provas — lançamento de pelota, lançamento de dardo, 50m rasos, salto em distância e corrida de agilidade (entre cones). A expectativa é, enquanto isso, articular patrocínio para a competição internacional de 2023.

E Deyse mostra que o exemplo faz a diferença. Para ela, Laura tomou gosto pelo esporte quando as duas fizeram uma caminhada de 3km no Rio de Janeiro, em um evento em prol da doação de órgãos, que reuniu doadores, transplantados, médicos e famílias. Desde então, o exercício passou a ser sinônimo de celebração da vida. "É onde a Laura encontra o lugar dela na sociedade. Não se sente uma criança limitada, mas, sim, incluída", afirma.

A máxima nos cuidados com a pequena atleta é tratar o processo com naturalidade. "Ela sempre se entendeu como uma criança transplantada. Digo para ela que as pessoas vão encará-la, olhar para a cicatriz que ela tem, mas é ela que tem que se mostrar para os outros sabendo que é diferente", encoraja Deyse. Mãe e filha também buscam criar uma corrente de esperança em torno do tema, ajudando famílias a perceberem sintomas e se cuidarem.

O poder dos exercícios

O médico nefrologista Luiz Roberto de Sousa Ulisses corrobora que a atividade física é fundamental para pessoas transplantadas, porque elas costumam ter quadros que já predispõem a alterações cardíacas e ósseas e precisam redobrar os cuidados com a saúde. O exercício ainda ajuda na prevenção e no controle de enfermidades como hipertensão, diabetes e obesidade, que estão relacionadas à sobrevida do órgão transplantado.

Em resumo, transplantados, doentes crônicos e pessoas sem comorbidade alguma se beneficiam quando se movimentam. "É você não viver em função de uma doença ou limitação. Outro ponto interessante é que o esporte estimula um estilo de vida mais saudável como um todo. Melhora a autoestima, inspira a ir atrás de outros cuidados e, futuramente, servir de referência para pessoas que também precisam de uma forcinha", estimula.

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