Com a reclusão imposta pela pandemia, o interesse em produzir a própria comida esteve em alta e muitos se tornaram "pais" e "mães" de planta como atividade de lazer, o que transformou as hortas em queridinhas.
E, mesmo com a retomada das atividades, os números mostram que o hobby veio para ficar: no final de 2021, o Google divulgou que a busca por "como fazer horta em casa" estava entre os dez principais termos que foram tendência. Somado a inúmeras vantagens relacionadas à atividade, a horticultura demanda pesquisa, cuidado e paciência.
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Ao mesmo passo que a procura por plantar aumentava, a liberação de agrotóxicos batia recordes. O Brasil fechou o ano passado com 562 agrotóxicos liberados, segundo dados do Ministério da Agricultura. "A horta é uma excelente alternativa para diminuir o consumo desses agentes tóxicos e extrair o melhor dos alimentos", afirma a nutricionista Larissa Bernardino.
Além de um maior controle da qualidade do que vai para o prato, Larissa explica que ter plantas de fácil acesso pode ser um estímulo à alimentação saudável e um facilitador para novos hábitos, como o ato de cozinhar, descobrir novos sabores e possibilidades de temperos. Com folhas e ervas frescas, diminui o consumo de sal e condimentos industrializados, além de aumentar o consumo de vegetais.
Interessada em plantas desde a infância, Márcia Latão, chef de cozinha e gastrônoma, conta que seu gosto por cozinhar sempre caminhou lado a lado com o entusiasmo pelas hortas. "Comecei a fazer minha própria plantação há mais de trinta anos, iniciei pelo que mais tinha dificuldade de encontrar nos mercados", relembra. Depois de passar pela experiência de produzir desde maxixe e jambu até vinagreira e framboesa, Márcia recomenda que as pessoas que desejam ter hortas comecem pelo que gostam de comer e aproveitem os produtos frescos, seguros e ao alcance de sua mão.
Para apartamentos e locais com espaços reduzidos, a nutricionista Larissa Bernardino recomenda a hortelã por seu caráter versátil e seu potencial para refrescar sucos e chá digestivo; o manjericão por ser uma erva aromática que combina com massas, molhos e vegetais, além de ser fonte de vitamina A, ferro e magnésio; o orégano, por ser fonte de diversos nutrientes e por conter propriedades antifúngicas e o alecrim, que é fonte de vitamina C, auxilia na digestão e combina muito com batatas assadas.
Já para locais mais amplos, afirma que qualquer pé de fruta é benéfico. Os vegetais verdes escuros como couve e espinafre são muito bem-vindos, por terem vitaminas e compostos antioxidantes. Outra planta que é interessante e relativamente fácil de plantar é o tomate cereja, que, segundo a profissional, é "um coringa delicioso na cozinha que contém potássio e licopeno, um poderoso antioxidante". Mas reforça que as possibilidades do plantio e consumo de alimentos integrais frescos é diversa e deve ser incentivada.
Embora as benesses nutricionais sejam pontos de destaque na prática, a engenheira agrônoma Paula Triacca pontua a importância para a saúde mental: "Cultivar uma horta é uma atividade terapêutica, é uma ótima ocupação". Também é uma oportunidade para ter momentos em família, educar crianças sobre a origem dos alimentos e envolvê-las em atividades que desenvolvem habilidades motoras, responsabilidade e exercitam a memória.
Como iniciar?
Para começar a produção independente, Paula recomenda uma análise de qual tipo de horta é mais adequada. Afinal, o espaço que se tem, a incidência do sol e plantas de mais agrado influenciam no tipo de horta a ser implementado. Independente das escolhas, a agrônoma informa que, para hortaliças, o mínimo de horas de sol é de quatro a cinco horas por dia, mas ressalta que cada cultura tem uma determinada necessidade de luminosidade e demandas específicas.
Para espaços reduzidos e sem quintais, a opção principal é a horta vertical ou suspensa, que pode ser colocada em sacadas e paredes. Pode ser feita a partir de diversas matérias-primas e é uma ótima decoração, pois permite uma adaptação ao ambiente. "Independente do material, é essencial que tenha furos na parte de baixo para escorrer o excesso de água e evitar o encharcamento do solo", alerta Paula. Outro ponto de atenção é a profundidade do vaso, por exemplo, para salsinha e cebolinha, a profissional informa que o recipiente precisa ter de dez a quinze centímetros de profundidade.
As alternativas aumentam na mesma medida que o espaço disponível. Para casas com quintais, a plantação pode ser feita no próprio solo com canteiros de diferentes formatos e materiais. "Depende do seu gosto, do seu estilo. Dá para construir estruturas com madeira, pedras ou até alvenaria", informa Paula. Em relação ao solo, é necessário fazer correção de acidez na maior parte das vezes, pois ele costuma estar ácido demais para as plantas. Para isso, cerca de dois a três meses antes de iniciar o plantio deve ser realizada a calagem, que neutraliza e fornece macronutrientes importantes para o solo.
A respeito da necessidade de adubos, a engenheira informa que a demanda varia de planta e das condições daquele solo e, como principal dica, reforça a importância da pesquisa. "É importante ter conhecimento para realizar o manejo das culturas, pois cada uma tem as suas necessidades específicas", garante. Paula indica conteúdos presentes em meios digitais de fácil acesso, como produtores de conteúdo nas redes sociais.
A busca online tem sido aliada do engenheiro civil Fernando Nariyoshi, que decidiu iniciar uma produção de folhas em casa há cerca de sete anos. Com uma estrutura simples de canos furados e suspensos, começou uma plantação hidropônica, técnica que consiste em cultivar plantas sem solo, em que as raízes recebem uma solução com água e os nutrientes necessários. Indo além do alface e da couve, passou a produzir cenoura, milho, pimenta e até mesmo quiabo. Muitos dos aprendizados foram adquiridos por meio de vídeos no YouTube, trocas com outros produtores e a própria experiência de tentativas e erros.
Atualmente, Fernando planta com o espaço amplo que tem no jardim, mas relata que mesmo quando residia em apartamento plantava em vasos, mesmo que sem muito sucesso, mas pela diversão e curiosidade. A maior dificuldade é o controle de pragas e doenças, que muitas vezes prejudicam o longo trabalho. No entanto, apesar dos desafios, conta que sente muita satisfação com os resultados da produção: "É um milagre ver uma semente minúscula como a do alface se transformar em um bela e saborosa verdura. É uma alegria imensa".
*Estagiária sob supervisão de Ailim Cabral