Tem gente à toa demais no mundo. Não vou, por óbvio, abordar aqui a nobre arte da vagabundagem, do ócio, que esta merece respeito; é preciso ter ciência para ficar à toa sem se aborrecer.
E vagal tem que ter orgulho do seu não-ofício. Para se ter ideia do respeito que os ociosos sempre mereceram, eram chamados de fiscais da natureza. Mas isso foi no tempo do onça.
Mais precisamente no tempo de Jorginho Guinle, que cruzou mais de 80 anos de vida sem dar com um prego numa barra de sabão, se dedicando a namorar, ouvir jazz e a gastar a fortuna que herdou. Invejável.
O que me incomoda de verdade é gente que finge trabalhar. Por exemplo: acadêmicos que tentam disfarçar a coragem de assumir o ócio como estilo de vida, com pesquisas sobre assuntos que não interessam a ninguém ou nunca vão servir para nada.
Por exemplo: o cientista Mark Wood, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, liderou colegas que foram a Kyoto, Japão, apresentar sua espetacular descoberta: pum faz bem à saúde. Pode prevenir câncer, AVC, artrite e ataques cardíacos, dizem os fleumáticos estudiosos.
Da próxima vez que a flatulência escapar no elevador lotado, podemos, ao invés de ficar vermelhos de vergonha, simplesmente dizer: você não sabe, mas estou lhe ajudando...
Nos Estados Unidos, outros cientistas com pouco ou nada o que fazer, concluíram que nos lugares em que se toca mais música country a taxa de suicídios é mais alta. E debitaram a culpa nas letras das canções, que falam de traições conjugais, abuso no consumo de álcool e tristezas à granel. Fosse verdade, podemos dizer, não tinha um goiano de pé.
Três cientistas francesas recentemente fizeram a importante descoberta — com demonstração! — que as pulgas pulam mais sobre os cachorros do que quando estão alojadas nos fofos pelinhos de um gatinho. Não seria melhor ter investido o dinheiro da Escola de Veterinária de Tolouse para descobrir como tirar uma pulga atrás da orelha?
E foram os britânicos que revelaram que o fim de um relacionamento é a principal razão para uma mulher cortar o cabelo. E também afirmam que os cavalos não esquecem — sem, obviamente, dizer o que é que os cavalos não esquecem.
Os psicólogos Hart e Boltz descobriram que as pessoas com cães são mais corajosas. A coragem deve aumentar se for um pitbull, acho eu.
Muito mais útil é a descoberta que o mosquito da malária não gosta do cheiro de chulé. Ou seja: é só distribuir keds e bamba cabeção para a caboclada que vamos erradicar a malária do continente.
Fazendo esta pesquisa eu também fiz uma descoberta: os idiotas estão por toda parte. Quanto mais desenvolvido o país, aliás, mais pesquisa inútil é feita. Talvez seja porque quando o sujeito não tem que correr atrás do prato de comida, fica procurando o que fazer.
O problema desse tipo de vagal acadêmico é que ele não se contenta em fazer coisas inúteis, mas faz questão de divulgar. O verdadeiro vagabundo não se daria a esse trabalho.