A síndrome da fadiga crônica (SFC) ou encefalomielite miálgica é uma condição em que o paciente sente um cansaço extremo e, mesmo com o repouso — em qualquer quantidade —, não há melhora dos sintomas. Essa condição, envolta ainda em mistérios e desconhecimentos, afeta milhões de pessoas pelo mundo.
Antes conhecida apenas no meio médico, a síndrome começou a se popularizar recentemente por ser uma das possíveis sequelas tardias da covid-19. Pouco ainda se pode afirmar sobre quais seriam os resultados a longo prazo das infecções pelo novo coronavírus, mas a semelhança dos sintomas — cansaço, dores musculares e articulares, febre baixa e perda de memória — está colocando essa condição no topo das investigações.
A oscilação da intensidade dos sintomas varia de acordo com os estimulos — excesso de atividades físicas e mentais, estresse ou relaxamento —, mas a persistência deles no corpo por mais de seis meses caracterizam a doença como crônica, como explica Márden Mendes da Silva, reumatologista da Oncoclínicas Brasília.
Saiba Mais
As causas
A síndrome da fadiga crônica é envolta em incerteza, já que as causas são diversas e ainda são estudadas. Muitas vezes, é associada a outras patologias, como anemia falciforme, doenças autoimunes, inflamações nas glândulas e resposta e sequelas a quadros infecciosos. É justamente nessa última causa que entram as investigações da sua ligação com a persistência dos sintomas de covid-19 no corpo, mesmo quando a doença já foi tratada, a chamada covid longa.
O diagnóstico
Não existem exames laboratoriais específicos que precisem a síndrome da fadiga crônica. O diagnóstico é clínico, feito a partir da exclusão de outras possíveis causas que levariam a essa fadiga, como alterações na tireoide e no sistema respiratório, efeitos colaterais de algumas medicações, doenças psiquiátricas, como a depressão, ou até a fibromialgia, outra doença de caráter reumatológico.
A incidência
Todos podem ser acometidos pela doença, mas o diagnóstico é mais comum em mulheres por volta dos 40 anos,
Os sintomas
Além do principal — a fadiga forte, exaustiva e incapacitante, gerando um esgotamento físico e mental —, os sintomas se manifestam em forma de doenças gastrointestinais, faringite sem pus, aumento de gânglios linfáticos e quadros de perda de memória. Esses, mesmo que menos intensos, são o que muitas vezes levam o paciente procurar ajuda de um especialista, pois a suspeita e outras condições levam ao descarte do cansaço apenas como rotineiro e resultante da correria do dia a dia.
O tratamento
Não existe cura, mas há medidas paliativas para tratar os sintomas e melhorar a condição de vida do paciente, que é prejudicada com a condição. Medicamentos auxiliam nas dores musculares, mas não são o pilar essencial. O trabalho conjunto da psicologia, da fisioterapia e o acompanhamento nutricional são extremamente necessários para criar uma rotina produtiva e saudável para o paciente, enquanto ainda não existem tratamentos específicos.
A sociedade Brasileira de Reumatologia sugere que o paciente reorganize seu cotidiano, para evitar o estresse físico e psicológico, mas sem deixar o sedentarismo tomar conta. Sugere a prática gradual de exercícios físicos e da terapia cognitivo-comportamental — essa ajudará a reconhecer as crenças limitantes que podem dificultar a melhora da doença. Acupuntura, meditação, técnicas de relaxamento, alongamentos, ioga e tai chi também são boas alternativas sugeridas para reduzir os sintomas.
Palavra do especialista
O que deve ser feito pelo paciente para evitar a síndrome?
Como a síndrome pode ser resultado de vários fatores e doenças diferentes, não existem ainda formas de “prever” ou evitá-la, mas acompanhamentos médicos de rotina, a prática de atividade física constante e checapes com especialistas podem amenizar a situação e auxiliar na descoberta precoce.
Qual o profissional mais indicado para diagnosticar a síndrome da fadiga crônica?
A avaliação inicial de sintomas pode ser feito por um clínico geral, mas, para um diagnóstico mais preciso, deve haver um encaminhamento para reumatologistas, pneumologistas, otorrinos ou psiquiatras. Cada um desses profissionais terá capacidade de investigar um dos desdobramentos referentes a síndrome.
A vida pessoal antes de adquirir a síndrome pode servir de gatilho e intervir de alguma forma na intensidade dos sintomas?
Os hábitos diários, a alimentação e o histórico familiar, por exemplo, podem influenciar na síndrome, mesmo que ainda não existam pesquisas que comprovem essa relação direta. Uma alimentação balanceada, a prática de atividades físicas constantes e o cuidado com a saúde mental serão etapas essenciais em um tratamento preventivo da condição evitando possíveis quadros mais intensos.
Márden Mendes da Silva é reumatologista da Oncoclínicas Brasília
* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte