Crônica

A era da autogratificação

Quero, e quero agora! E se não for exatamente como eu quero ou se demorar mais que 30 segundos… não sei se consigo suportar sem algum tipo agressão ou anestesia.

Tenho visto uma quantidade enorme de situações alarmantes em que crianças, jovens e adultos protagonizam cenas inimagináveis, dignas de uma reflexão profunda sobre a fragilização de corações e mentes na era digital.

 

Impulsionados por algoritmos cuidadosamente criados para aumentar o senso de urgência e nos condenar eternamente ao que já acreditamos ser o que precisamos e gostamos, vivemos tempos de um enfraquecimento crônico das relações com outros seres e até com as máquinas.

 

Somos regidos pelas leis da ultraconveniência. Pedimos tudo pelo aplicativo e queremos que chegue na nossa porta voando e sem pagar muito.

 

Meu coração dói ao pensar que uma saída para essa sinuca está longe e que o brasileiro médio que gasta (ou, deveria dizer, desperdiça) cinco horas e meia por dia, todos os dias, em mídias sociais, nem ao menos percebe a gravidade do momento.

 

Isso mesmo, o Brasil é o campeão mundial em tempo gasto com mídias sociais! Ui, que triste né? Não ocupamos o primeiro lugar em temas como índice de escolaridade, em segurança pública ou em cuidados com o corpo e a mente.

 

E o que mais preocupa são as consequências de ocuparmos o lugar mais alto do pódio das populações abduzidas pelas telas. O viés da confirmação que programa os algoritmos inunda nossas telas com conteúdos que, supostamente, irão nos agradar. O problema é que isto está causando uma enorme inabilidade em convivermos com o que não nos agrada. E aqueles que não sabem lidar com o contraditório reforçam as piores características de uma sociedade empobrecida pela incapacidade de tolerância e empatia. O resultado? Polarização.

 

"Se você não pensa como eu, deve ser excluído, demolido, exterminado." Bradam os exaltados humanoides da era da autogratificação a qualquer custo.

 

Num ano como este em que teremos eleições, atitudes como esta, no mínimo, colocam em risco o futuro da nação.